Falhas estruturais ameaçam planetário da zona leste de São Paulo

Precariedade do espaço no parque do Carmo diminui vida útil de projetor raro; OUTRO LADO: prefeitura diz que reforma será realizada 'em breve'

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Salvador e São Paulo

A situação precária do planetário do parque do Carmo, na zona leste de São Paulo, diminui a vida útil de um equipamento que custou aos cofres públicos o equivalente a R$ 20 milhões, em valores atualizados, e foi desenhado para durar pelo menos cinco décadas.

O espaço, em Itaquera, tem 1.750 m² e capacidade para um público de 168 pessoas. As apresentações são gratuitas.

Mais moderno que seu análogo do Parque do Ibirapuera, o projetor alemão Zeiss Universarium VIII é capaz de exibir 9.000 estrelas na abóbada. Há apenas quatro desses aparelhos em atividade no mundo.

Planetário do Carmo, na zona leste de São Paulo, apresenta avarias e infiltrações espalhadas pelo prédio
Planetário do Carmo, na zona leste de São Paulo, apresenta avarias e infiltrações espalhadas pelo prédio - Jardiel Carvalho - 16.set.2023/Folhapress

Fungos proliferam nas lentes do projetor, em razão da umidade do prédio. As oscilações de energia frequentes queimam placas e componentes eletrônicos da máquina, relata Luiz Sampaio, 72, dono da empresa Omnis Lux, responsável pela manutenção do equipamento e de outros sete projetores da fabricante Carl Zeiss pelo Brasil.

"Esse é o maior e mais sofisticado equipamento ótico de planetário produzido no mundo. É uma joia", diz Sampaio. "Mas tem apresentado defeitos frequentes em função do excesso de umidade e da instabilidade elétrica do local."

A reportagem esteve no planetário no último dia 16, um sábado. Devido a goteiras, havia 18 baldes espalhados pelo saguão de entrada que contorna a cúpula. Fungos são visíveis nas paredes e no teto do edifício. A tela de projeção apresenta marcas de ferrugem.

Um forte cheiro de mofo pode ser notado na cúpula de 20 m², onde o "céu" é projetado. Além disso, o local não tem estabilizador elétrico ou para-raios, o que obriga os funcionários a cancelarem sessões em dias de chuva.

Os problemas de infraestrutura são antigos. Inaugurado em 2005, o espaço funcionou apenas por dois anos antes de ser fechado para reformas, que se arrastaram até 2016.

"Foram feitos todos os reparos, com a melhor tecnologia, e nós estamos seguros de que estamos devolvendo o planetário para a cidade em condições de funcionar muitos anos sem nenhuma interrupção", disse à época o então prefeito Fernando Haddad (PT), na cerimônia de reabertura. Hoje, o espaço recebe cerca de 4.000 pessoas por mês.

A atual Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, da atual gestão Ricardo Nunes (MDB), afirma que contratou empresa para reforma do local e que a obra será realizada "em breve". O contrato está em elaboração.

A chefe de gabinete da secretaria, Tamires Oliveira, reconheceu em audiência pública na Câmara Municipal, em agosto, que a obra "enxuga gelo". Para sanar o problema, segundo ela, seria preciso uma reconstrução do zero.

"O planetário tem problemas desde que foi construído, no início dos anos 2000. A compactação de solo não foi feita de maneira adequada. Tudo que a gente faz hoje é para dar sobrevida", afirmou.

À Folha o vereador Alessandro Guedes (PT), responsável por convocar a audiência, defende uma reforma mais ampla. "O investimento não é do tamanho que o espaço precisa, considerando que há problemas estruturais", diz.

O projeto de reforma contratado pela prefeitura prevê gasto de R$ 1,5 milhão com "reparo no telhado e na estrutura, impermeabilização, revisões do sistema elétrico e do sistema de proteção contra descargas atmosféricas".

Artur, 7, foi levado pela primeira vez ao planetário do Carmo naquele sábado. Os pais, Rodrigo, 39, e Caroline, 38, moradores de Itaquera, contam que a criança é autista e desenvolveu hiperfoco em astronomia há três meses.

"Ele fala de buracos negros, anéis de poeira e da distância entre os planetas, então o trouxemos", diz a mãe.

Os pais de Artur reclamam da falta de divulgação do planetário. As visitas podem ser agendadas online mas, segundo o casal, o site apresentava mau funcionamento. "Indicava ingressos esgotados", diz a mãe. "Chegando aqui, descobrimos que era só pegar os passes na bilheteria."

A reportagem checou o funcionamento da bilheteria digital e obteve o mesmo resultado.

A ilustradora Luanda Soares, 42, estava com seus filhos gêmeos Pedro e Gabriel, 7, no planetário. Moradora de Cidade Líder, bairro na zona leste, ela se surpreendeu ao descobrir que o espaço estava aberto. A última vez em que esteve no local foi entre 2005 e 2007.

"Eu me aproximei por acaso, estava aberto e entramos. Moro na região e não ouço falar do planetário. Tem uma aparência de abandono."

A prefeitura afirma que divulga a programação do planetário nas redes sociais oficiais, da Umapaz (Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz), da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e da Prefeitura de São Paulo. Informações também estão disponíveis nos sites da Umapaz e da prefeitura.

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