Descrição de chapéu Obituário João Félix Batista (1950 - 2023)

Mortes: Zagueiro clássico, tinha o estilo dos grandes defensores

A habilidade de Baiano com a bola surgiu ainda criança e fez sucesso no futebol amador do interior paulista

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São Paulo

Com 1,67 m de altura, João Félix Batista sempre passou longe de ter o biotipo dos beques grandalhões do futebol. Mas com uma impulsão incomum, treinada exaustivamente, voava alto numa disputa de cabeça, para depois matar a bola no peito e sair com estilo no contra-ataque.

Fora dos campos, porém, ter os pés no chão sempre foi imprescindível para Baiano, cujo apelido remete às origens do zagueirão.

Único menino entre cinco irmãs, ainda na infância deixou Xique-Xique, no interior da Bahia. A família buscava melhores oportunidades no interior de São Paulo —primeiro em Barretos e depois em Jundiaí.

João Félix Batista, o Baiano (1950 - 2023)
João Félix Batista, o Baiano (1950 - 2023) - Arquivo pessoal

Foi na segunda das cidades paulistas que fez a vida. Criança, trabalhava como engraxate para ajudar o pai, carroceiro. Na volta para casa, passava na xepa de uma feira no caminho e pegava frutas, verduras e legumes que não haviam sido vendidos para ajudar na refeição dos Batista.

Mas o garoto era bom nas peladas de rua e onde tinha uma bola, ele jogava. Adolescente, fez tanto sucesso na linha de defesa da Ponte Preta, time amador do bairro onde morava, que acabou convidado para treinar no clube homônimo famoso de Campinas.

Entre 1971 e 1972, Baiano vestiu a camisa do Paulista e caminhava para fazer história no time da sua cidade, quando uma lesão no joelho interrompeu seus planos.

"Ele também chegou a ser convidado para jogar em um time de São Paulo, mas minha mãe estava doente e, como precisava ajudar em casa, desistiu de ser profissional", conta a irmã Célia, 68.

Durante anos, Baiano mesclou títulos em torneios de várzea aos fins de semana com o trabalho em grandes indústrias —numa delas, de calçados, ganhava chuteiras, inclusive, para o filho Gabriel tentar ser melhor que ele em alguma peneira.

"Meu pai me deu o que não teve e sonhava que eu fosse jogador de futebol", afirma Gabriel, 42, servidor público que não fez carreira nos gramados.

Baiano cursou educação física e chegou a trabalhar como professor por um tempo. Se aposentou como coordenador de pedágio em rodovia.

Jogador sentado no campo de futebol, com uma camisa vermelha, faixa no peito e segurando o troféu
Baiano com um dos troféus que ganhou no futebol de várzea - Arquivo pessoal

Na bola, pendurou as chuteiras aos 43 anos. Nas suas recordações, guardava uma placa de homenagem na despedida, recortes de jornais e fitas cassete com suas entrevistas para o rádio.

O corintiano fanático —menos quando o Timão enfrentava o seu Paulista do coração— gostava de motocicletas. Por elas, desrespeitou várias vezes as recomendações do oncologista que tratava seu câncer de próstata de não montar em uma moto.

Era com sua Yamaha Virago que percorria os 650 km que separavam Camboriú (SC), para onde se mudou após a aposentadoria, e o interior de São Paulo, quando ia visitar os filhos.

A doença foi descoberta em 2017, teve metástases e foi necessário recorrer à Justiça para o poder público custear o caro medicamento. O câncer, porém, não ia vencer tão fácil o duro zagueiro. O jogo só acabou no dia 10 de julho, quando Baiano morreu aos 73 anos. Deixou a companheira Fátima, os filhos Gabriel e Júlia e os enteados Aline e Clístenes.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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