Descrição de chapéu chuva Defesa Civil

Chuvas no Sul, com 42 mortos, impõem força-tarefa e deixam famílias chocadas

Defesa Civil do Rio Grande do Sul faz buscas por 25 desaparecidos; mais de 10 mil pessoas tiveram de deixar suas casas

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Porto Alegre e Salvador

Um clima de silêncio e consternação tomou conta da sede do Departamento Médico Legal de Porto Alegre na tarde desta quinta-feira (7), para onde foram levados os corpos de parte das vítimas dos temporais que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias.

Com uma movimentação intensa de veículos do IGP (Instituto Geral de Perícias) e de funerárias, familiares entravam no prédio para obter a liberação dos corpos.

O total de mortes pelas enxurradas chegou a 41 nesta quinta-feira (7), segundo a Defesa Civil do estado. Com a morte registrada na segunda (4) em Santa Catarina, subiu para 42 o número de óbitos da tragédia no Sul do país. Ainda há 25 pessoas desaparecidas.

Casas inundadas em Lajeado, no Rio Grande do Sul - Diego Vara/ Reuters

Nesta quinta-feira (7), o governo federal reconheceu o estado de calamidade pública solicitado pelos municípios gaúchos atingidos pelos temporais.

No Rio Grande do Sul, são 81 municípios com registros de destruição que deixaram 2.944 pessoas desabrigadas (dependem de abrigos públicos) e 7.607 desalojadas (podem se acomodar na casa de parentes e amigos). As enxurradas ainda deixaram 43 pessoas feridas.

Ao todo, o governo gaúcho estima em 123 mil o total de afetados pelos temporais em todo o estado, cenário quem impôs ao governo uma força-tarefa com cerca de 900 servidores que atuam nas buscas, resgates, identificação de corpos e reparos na infraestrutura destruída pela força das águas.

Conversando ao telefone com parentes no interior explicando as orientações para os velórios, familiares negaram contato com a imprensa, mas relataram brevemente o abalo emocional e a incredulidade com o que aconteceu.

"Indescritível", sintetizou uma mulher. Outro, com o queixo tremendo e olhos vermelhos, pediu para não falar apenas com um movimento das mãos.

Em sua maioria, eram parentes de vítimas encontradas nas cidades de Muçum e Roca Sales após a devastação causada pela cheia do Rio Taquari. Eles vieram à capital gaúcha em meio a uma força-tarefa montada emergencialmente pelo IGP.

As duas cidades registraram 23 das 39 mortes confirmadas em decorrência das fortes chuvas no Rio Grande do Sul, segundo a Defesa Civil do estado.

"Nós formamos essa equipe para a identificação das vítimas, parte de um protocolo internacional para eventos dessa magnitude", afirmou diretora-geral do Instituto Geral de Perícias, Marguet Mittmann. Nos outros municípios que registraram óbitos, o atendimento vem sendo feito pelas unidades de perícia nas próprias regiões.

Dos 22 corpos levados para Porto Alegre, 21 foram identificados com o método de impressão digital. Para o outro caso, será feita a identificação via odontologia forense. Caso o método não seja efetivo, será feito o exame de material de DNA.

Além do resultado da necropsia, a liberação para os velórios depende de uma normalização mínima na rotina das cidades afetadas, que chegaram a ter mais de 80% de sua área urbana submersa.

A diretora do IGP explicou que a decisão de centralizar estes casos específicos na capital gaúcha foi motivada pela estrutura interdisciplinar oferecida, que inclui uma equipe maior de peritos, psiquiatras e outros profissionais com treinamento específico para casos de desastres.

Também foi colocada à disposição das famílias uma sala de cuidado psicossocial para orientá-las sobre como proceder com a liberação dos corpos, e oferecer apoio a quem fez a viagem entre Porto Alegre e as duas pequenas cidades.

Com a queda de antenas de sinal de internet, a comunicação com a região está prejudicada, o que isolou famílias e aumentou a tensão.

O Governo Federal, através do Ministério das Comunicações, disponibilizou 13 antenas digitais que foram levadas pela Força Aérea Brasileira para o Rio Grande do Sul.

A massoterapeuta Daia Buza, moradora da cidade de Lajeado, relata que ficou sem contato com os pais idosos na noite de segunda-feira (4) e só conseguiu falar com eles na manhã de quarta (6). Eles relataram a perda de móveis e pertences pessoais. O casal perdeu três amigos, e outro está desaparecido.

Muçum, no Vale do Taquari, foi a cidade mais devastada pela enxurrada. Lá, foram encontrados 15 corpos e há ainda nove pessoas desaparecidas. A cidade vizinha de Roca Sales teve 10 mortes.

O governador Eduardo Leite foi até o município de Muçum nesta quinta-feira e anunciou a liberação de R$ 1,5 milhão em horas-máquina para auxiliar no trabalho de reconstrução, tanto em Muçum quanto em Roca Sales, cidades mais atingidas pelas enxurradas.

"Não faltarão recursos, nem financeiros e nem humanos, para a reconstrução dos municípios do Vale do Taquari. O governo está totalmente mobilizado nesse processo de recuperação das cidades e de auxílio a quem teve perdas humanas e materiais. Nós vamos colocar essa cidade em pé muito antes do que as pessoas imaginam", afirmou.

Leite ainda reforçou o apelo para que apenas quem mora na cidade ou está envolvido nos reparos vá aos municípios mais atingidos: "As cidades atingidas pela enchente estão em uma situação de calamidade, e o aumento da circulação de pessoas prejudica a reconstrução."

Neste momento, a Defesa Civil Estadual pede que as doações se concentrem em colchões, produtos de higiene pessoal e itens para limpeza dos locais afetados pela enchente.

As fortes chuvas ainda resultaram em 11 bloqueios totais ou parciais de rodovias nesta quinta-feira (7), sendo 10 em estradas estaduais e um em estradas federais. Dentre as rodovias federais, há um ponto de bloqueio na BR-116 na cidade de São Marcos (168 km de Porto Alegre), onde a ponte do Rio das Antas foi interditada totalmente por questões de segurança.

Nas rodovias estaduais, duas pontes foram destruídas pelas chuvas e há 10 pontos de bloqueio parcial ou total. O governo informou que trabalha para desobstruir as rodovias "o mais rápido possível" para que os artigos de primeira necessidade possam chegar às cidades atingidas pelas chuvas.

Em boletim divulgado nesta quinta-feira (7), o governo gaúcho manteve o alerta meteorológico para chuva intensa na maior parte do Rio Grande do Sul, além de risco de vento forte e queda de granizo.

As áreas da metade Sul, Noroeste, Norte, Centro e Leste do estado terão volumes de chuva que devem variar entre 50 e 75 milímetros por dia, podendo chegar aos 120 mm/dia no Sul e em parte da Campanha.

Há previsão de tempo instável para sexta-feira (8) ainda por conta do avanço da frente fria. O sábado (9) deve começar com tempo instável, mas gradualmente o sol entre nuvens deve voltar a predominar no Rio Grande do Sul.

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