Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Rio quer transformar via no centro em rua da cerveja

Gestão Paes vai incentivar presença de cervejeiros artesanais em imóveis vazios da rua da Carioca

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Rio de Janeiro

A Prefeitura do Rio anuncia, nesta quarta-feira (20), um projeto para transformar a rua da Carioca, no centro da cidade, em um polo de produção de cervejarias artesanais.

O projeto tem sido chamado de rua da Cerveja e prevê subsídios de aluguel e reformas nos imóveis para pequenos empresários do ramo.

A rua da Carioca tem lojas fechadas há mais de dez anos, desde que a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência vendeu imóveis, em 2012, para o Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. A aquisição foi travada porque, segundo o governo do estado, os imóveis haviam recebido sentença de desapropriação na década de 1940 pela prefeitura e pertenciam ao estado. Não poderiam, portanto, ter sido comercializados pela ordem religiosa.

A disputa jurídica avançou pelos anos. O fundo imobiliário pedia o ressarcimento da compra dos imóveis e a Ordem Terceira tentava reverter a desapropriação, enquanto a alta dos aluguéis espantavam sobreviventes.

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Calçada da rua da Carioca, no centro do Rio de Janeiro, com lojas fechadas - Yuri Eiras/Folhapress

Em 2021, a PGE (Procuradoria Geral do Estado) celebrou um acordo no qual o fundo devolveu ao estado cinco imóveis, que seguem desocupados.

A movimentação na rua é cada vez menor, já que poucas lojas sobreviveram. A Vesúvio, que vende guarda-chuvas, segue aberta, assim como o Cine Íris, antigo teatro que há décadas virou um cinema pornô. Já o Bar Luiz, fundado em 1887, fechou em 2021.

A ideia da gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD) é usar os imóveis vazios para que cervejeiros artesanais façam a fabricação e a venda dos produtos. O vereador Rafael Aloisio Freitas (Cidadania) é um dos autores da proposta, tocada pela secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação. A intenção inicial do parlamentar era criar um polo de pequenas cervejarias em prédios abandonados.

A estação Leopoldina, abandonada há duas décadas, chegou a ser cogitada, mas a ideia não avançou. O antigo terminal de trens pertence à União e a prefeitura deseja adquirir o terreno.

"A gente tinha dado a sugestão ao prefeito para fazer algo nos moldes da Cidade do Samba: pegar uma área central para fazer a Cidade da Cerveja, considerando que pudesse colocar a fabricação de cervejas artesanais. Há uma série de cervejeiros que fabricam e têm dificuldades para crescer por falta de lugares específicos para isso", afirma Aloisio Freitas.

O município pretende pagar as reformas das lojas e subsidiar os primeiros aluguéis, até que os empresários se estabeleçam no local.

"Parte das lojas precisa fazer algum tipo de obra. A prefeitura pode entrar ajudando, além de pagamento mensal de subsídio para sustentar os empreendedores", completa o vereador.

O projeto é semelhante ao Reviver Cultural, chamamento público que prevê ocupar os primeiros andares de lojas ociosas em trechos do centro do Rio com livrarias, lojas de discos, casas de arte e escolas de música.

Caique Costa, presidente da ACerva Carioca (Associação dos Cervejeiros Caseiros do Rio de Janeiro), diz que o projeto é bem visto pela categoria.

"É uma coisa que pode dar liga. O Bar Luiz foi o primeiro bar no Rio de Janeiro a esquentar chope, que era a forma que bebiam na época da fundação", afirma Costa.

"Não quero bater de frente com a indústria de bebidas porque vou apanhar. Quero ir onde as grandes cervejarias não vão, e esse espaço pode ser ali. O mercado artesanal é claro: é preciso vender direto ao consumidor final, sem intermediários."

Costa, no entanto, ainda avalia qual o perfil do público que deverá frequentar a rua da Carioca. A prefeitura ampliou há poucos dias o Reviver Centro, programa que tenta transformar imóveis comerciais em residenciais e reformar prédios abandonados para uso de habitação.

"Eles estão construindo prédios novos que são estúdios, quitinetes. Qual vai ser o poder aquisitivo do pessoal que vai morar no centro? Vão beber uma ipa mais elaborada, que é mais cara, ou uma pilsen, mais leve e barata? O tipo de cerveja consumida muda a depender da classe social."

Exceção na rua, a Garagem Delas, no número 87, gerou movimento na região. Criado por três vendedoras ambulantes, o local era o depósito onde as mercadorias e isopores eram guardados. Hoje tem vida dupla: é um estacionamento e um espaço de rodas de samba.

"Hoje é uma rua sem segurança, principalmente para as mulheres. As árvores não são podadas, a maioria dos prédios está abandonado e isso torna a rua escura. Qualquer iniciativa que gere emprego, eu sou a favor. Mas será preciso respeitar a história e as pessoas que estão lá", afirma Alinny Gomes, administradora da Garagem Delas.

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