Descrição de chapéu Obituário André Inácio Dias de Sousa (1972 - 2023)

Mortes: Salva-vidas superou doença e resgatou relação com os filhos

Após experiência de quase morte, André Inácio Dias de Sousa se agarrou à sua última chance com a família

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São Paulo

Cercado de amigos e admirado pelas três décadas de dedicação ao trabalho como salva-vidas no tradicional Club Athletico Paulistano, André Inácio Dias de Sousa era um típico boa praça. Simpatia e profissionalismo sempre presentes não deixavam transparecer, porém, tristezas que só os mais íntimos conheciam.

Atleta amador, apaixonado pela prática de natação e também por basquete, Sousa lidava com debilidades impostas pelo agravamento do diabetes havia cerca de 15 anos. À medida que execuções de dribles na quadra e braçadas na piscina se tornavam mais lentas e dolorosas, a alegria também se esvaía.

Passou a se preocupar demais com a possibilidade de ficar sem dinheiro. Afastou-se das pessoas que representavam, nas palavras que costumava usar, sua maior conquista: a filha Bianca, 13, e o filho Gabriel Luis Costa de Sousa, 20.

Graves crises de hipoglicemia passaram a ser frequentes há pouco mais de um ano. Parecia ser o fim quando, inconsciente, foi levado de ambulância para o hospital. Não era o fim. Era um recomeço.

Homem pardo usa cavanhaque, tem cabelos escuros e veste blusa branca. Atrás dele há uma copa de árvore e o céu
André Inácio Dias de Sousa (1972 - 2023) - Arquivo pessoal

Recuperado, voltou ao trabalho após um período de afastamento. Manteve-se dedicado a amigos e colegas, como sempre foi. Elegeu, porém, a reaproximação com os filhos como sua derradeira e mais importante missão.

Arredio a demonstrações de afeto, não elaborou explicações ou pedidos de perdão. Atirou-se ao novo jeito de encarar a vida, sem titubear, como deve fazer um salva-vidas diante do perigo.

Os fins de semana passaram a ser dedicados a viagens e passeios com Bianca e Gabriel.

Um passeio a um parque de diversões no interior de São Paulo confirmou a quebra de um paradigma: Sousa já não se importava tanto com dinheiro. Pagou a mais para que pudessem brincar em uma atração que não estava incluída no preço do ingresso.

Içados e lançados por cabos como se estivessem em um estilingue a dezenas de metros do chão, eles voaram juntos.

Gabriel gargalhou ao descrever a aventura. Entristeceu-se na sequência. Fez pausa antes de dizer que "gostaria que tivesse sido sempre assim".

"Descobri que meu pai era muito divertido", comentou o jovem, confessando só agora ter entendido as coisas que a avó contava sobre a infância e juventude alegres do filho dela.

Em 27 de setembro, aos 51 anos, Sousa saiu da piscina após seu nado habitual diário. Na véspera, havia relatado para a mãe, com quem morava, ter sentido o coração fraco.

Ainda no clube, entrou por um corredor onde há pouco trânsito de pessoas e nenhuma câmera de monitoramento. Foi encontrado desmaiado cerca de dez minutos depois. Chegou a ser reanimado, mas não resistiu à parada cardíaca.

Na última vez em que esteve com o pai, Gabriel bateu um papo inesperado sobre relacionamentos amorosos. O filho contou sobre uma garota com quem havia "ficado". O pai replicou revelando detalhes de um encontro com uma namorada da juventude.

"Nunca tínhamos falado sobre sentimentos, ele era muito fechado. Nunca dissemos 'eu te amo' um para o outro. Mas eu sei que ele nos amava. Sei que minha irmã e eu éramos seu maior orgulho."

André deixa os dois filhos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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