SP tem terminais fechados e ônibus atacados em dia de eleição de sindicato

Nove terminais chegaram a ser bloqueados e ao menos um coletivo foi vandalizado; rodízio de veículos foi suspenso nesta terça (21)

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São Paulo

Nove dos 32 terminais de ônibus de São Paulo chegaram a ser fechados na manhã desta terça-feira (21), dia de votação da nova diretoria do SindMotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário e Urbano de São Paulo), afetando milhares de passageiros por falta ou atraso dos coletivos.

De acordo com a SPTrans, a operação foi normalizada gradativamente a partir das 10h35.

Os terminais que acabaram fechados foram João Dias, Mercado, Campo Limpo, Capelinha, Santana, Pinheiros, Parque D. Pedro 2º, Santo Amaro e Vila Nova Cachoeirinha, diz o órgão que gere o transporte por ônibus na capital.

Por causa da paralisação, o rodízio de veículos foi suspenso nesta terça.

Paralisação de ônibus no terminal Santana, zona norte da capital, na manhã desta terça-feira (21) - Melina D'Lourdes/Ato Press/Folhapress

Uma disputa pelo comando do SindMotoristas está por trás da mobilização da manhã desta terça. Três das quatro chapas que disputam a eleição pedem o adiamento do pleito em três meses para a substituição das cédulas de papel por urnas eletrônicas.

O adiamento chegou a ser aprovado em assembleia da categoria, mas uma decisão da Justiça do Trabalho manteve a votação, que teve início nesta terça e tem previsão de conclusão para esta quarta-feira (22).

Contrária ao adiamento, a Chapa 4 – Resgate Raiz, é encabeçada por Edivaldo Santiago da Silva e tem como um dos seus principais articuladores Cristiano de Almeida Porangaba, mais conhecido como Crizinho. Ele era oficialmente presidente do sindicato até o último dia 10 de novembro, mas perdeu a função com a recondução ao cargo de José Valdevan de Jesus Santos, o Noventa —que é candidato à reeleição como cabeça da Chapa 2 – Resistência e Ação.

Eleito pela primeira vez em 2013 e posteriormente reeleito para um segundo mandato de cinco anos, Noventa havia sido afastado da função devido ao desdobramento de uma investigação policial que apurava possível infiltração da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) no sindicato.

A defesa de Noventa afirma, porém, que o inquérito não avançou durante os mais de quatro anos em que permaneceu instaurado.

Em 2018, Noventa foi eleito deputado federal por Sergipe pelo PSC (hoje ele é filiado ao PL). Em março de 2022, foi cassado por suspeita de abuso de poder econômico durante a campanha eleitoral.

Noventa conseguiu transferir a ação que o afastou do sindicato da Justiça de São Paulo para a de Sergipe, que derrubou a liminar paulistana e permitiu que ele reassumisse o cargo.

Apesar da decisão judicial reconduzir Noventa à presidência, a defesa dele alega que é o grupo ligado a Crizinho que continua a comandar o sindicato.

A reclamação é reforçada por Antonio Agripino da Silva, o Preguinho, que é o líder do grupo que também está na disputa pelo comando do sindicado, a Chapa 1 – Oposição e Luta. O cabeça desta chapa é outra pessoa, Manoel Matheus Portela.

Preguinho assumiu a liderança pelos protestos desta terça-feira. Ele disse à Folha que o grupo liderado por Crizinho organizou a eleição sem permitir que integrantes das outras chapas integrassem os grupos de mesários.

O opositor ainda afirma que a chapa de Crizinho também conseguiu distribuir nas garagens urnas que não são oficiais, já que as 120 unidades oficiais ficaram trancadas na sede do sindicato.

Em nota publicada no site do sindicato, no qual Crizinho ainda aparece como presidente, os manifestantes são chamados de "agitadores". O texto afirma que o "movimento fracassou", uma vez que a eleição para a renovação da diretoria "segue normalmente, sem intercorrências nos locais de votação".

O sindicato diz ainda que "lamenta e repudia os incidentes de hoje no sistema" e "defende de forma categórica que a disputa aconteça democraticamente por meio do voto".

Ainda pela manhã, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que 368 linhas e quase 530 mil usuários foram afetados pela paralisação.

No total, de acordo com a SPTrans, 17 veículos tiveram as chaves subtraídas nos terminais —sendo um guincho—, os pneus de dois ônibus foram furados e outros dois acabaram alvo de depredação.

Além dos terminais, ônibus ficaram parados nos dois sentidos de corredores da avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste, entre 13h e 15h10.

Com os bloqueios, a prefeitura acionou as polícias Civil e Militar, além da GCM (Guarda Civil Metropolitana), e deslocou guinchos para remover os ônibus paralisados. Na manhã desta terça, advogados da SPTrans foram ao 1º DP (Sé) para registrar um boletim de ocorrência.

Nunes declarou ainda que, por volta das 12h30, Josilei de Godoy Vasco, apontado como um dos líderes da paralisação, foi preso pela GCM. O sindicalista nega. Ele é um dos integrantes da Chapa 1.

De acordo com boletim de ocorrência, Vasco foi conduzido à delegacia para prestar um termo de declaração, após se intitular como responsável pela manifestação no Parque Dom Pedro, e liberado na sequência.

No depoimento, Vasco disse que esteve no Parque Dom Pedro após receber a convocação de um representante do sindicado e que, em nenhum momento, esvaziou pneus ou retirou chaves de ônibus.

"Eu fiquei responsável pela manifestação no terminal Dom Pedro 2º. Fiquei sabendo que alguns foram detidos por não apresentar documento. Mas eu entreguei e não teve nada de detenção ", disse.

O prefeito disse que os articuladores da paralisação agem como uma organização criminosa.

"O transporte coletivo é um serviço essencial, mas fizeram este ato por causa de disputa de chapas. Essas pessoas agem como organização criminosa e somos vítimas desta turma", afirmou Nunes à Folha.

Os manifestantes utilizaram ônibus articulados para bloquear as entradas e saídas dos terminais.

Ônibus articulados bloqueiam saída do Terminal Santo Amaro - Reprodução/TV Globo

Pela manhã, no terminal Parque D. Pedro 2º, dos alto-falantes saía com frequência uma mensagem da SPTrans de que havia manifestação sindical e que a empresa "trabalhando para normalizar a operação". Ainda assim, muita gente não sabia o que ocorria.

"Eu vim para cá mais cedo, do Tatuapé [zona leste], para ir à praça da Sé [centro]. Mas os ônibus não estavam entrando. Tive de descer do ônibus lá em cima no viaduto e andar mais de dez minutos. Agora para ir embora pensei que já estava normalizado, mas não está. Vou ter de pegar Uber. É uma complicação, um gasto de dinheiro. Nem sei por que estão manifestando", diz a aposentada Sueli de Souza.

No terminal, o fluxo de ônibus começou a ser liberado às 11h25. Ainda havia, porém, excesso de passageiros e veículos no local.

No terminal Santo Amaro, um ônibus foi vandalizado e teve o para-brisa danificado por pedrada. A Polícia Militar foi chamada e acompanha a situação no local. Também houve relatos de coletivos com pneus furados.

A SPTrans afirma que o boletim de ocorrência seria registrado que sejam responsabilizados aqueles que impedem o acesso da população a terminais de ônibus na cidade de São Paulo nesta terça.

"A SPTrans está deslocando suas equipes de campo e os guinchos do sistema de transporte municipal para prestar apoio à operação dos terminais da cidade e solicitou auxílio do policiamento para atuar nestes locais", destacou.

Já a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirma que as forças de segurança seguem acompanhando os atos e atuarão "para garantir a segurança da população e preservar o direito de todos".

Nas redes sociais, usuários se queixavam da falta de ônibus e das longas filas nos terminais.

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