Casal sofre tentativa de golpe durante internação em hospital de SP

Golpista se passou por médico, disse que exames do paciente indicavam câncer e que precisaria de R$ 6.000 para solicitar procedimentos com urgência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Uma mulher diz ter sido vítima de uma tentativa de golpe durante a internação do marido em um hospital particular no Paraíso, zona sul de São Paulo. O caso foi registrado em boletim de ocorrência.

Segundo a UX designer Karina Lacerda, 45, o fato ocorreu na tarde de 30 de novembro, momentos antes de o companheiro dela, o jornalista Fábio Calamari, 41, dar entrada no Hospital Santa Rita para a realização de uma cirurgia eletiva simples.

Ela conta que, momentos antes da cirurgia, o marido atendeu a uma ligação no quarto. Do outro lado da linha, uma pessoa solicitou a confirmação de alguns dados e disse que um funcionário ligaria para a esposa dele. Como a internação havia sido feita pelo plano de saúde de Karina, o casal não estranhou a situação.

Logo após ter recebido o recado do marido, Karina atendeu a ligação de uma pessoa que se identificou como médico e afirmou ser da equipe que operaria Fábio. Segundo ela, o golpista explicou de forma calma que havia sido detectada uma alteração importante nos exames do marido, uma infecção no sangue, que sugeria complicações devido ao histórico familiar de mieloma, um tipo de câncer.

O jornalista Fábio Calamari, 41, e sua esposa, a UX Designer Karina Lacerda, 45
O jornalista Fábio Calamari, 41, e a UX designer Karina Lacerda, 45 - Leitor

Segundo Karina, o relato casou preocupação, uma vez que a sogra faleceu havia cerca de um mês por complicações de um mieloma.

"Ele usou todas as palavras que me acionaram gatilhos da doença: complicação nos rins, mieloma, tratamento rápido. Minha sogra foi diagnosticada com mieloma, fez o tratamento, a doença avançou para problemas nos rins e por isso parte das possibilidades de tratamento foram comprometidas. Ela acabou falecendo depois de atingir metástase", contou à Folha.

Karina afirma que perdeu o chão. O golpista dizia que era preciso fazer um exame de imagem com uma equipe terceirizada de outro hospital e que no pós-operatório poderia haver necessidade de usar uma medicação específica.

"Avisou que dava para fazer tudo pelo convênio, mas que a liberação só aconteceria em uns dias e recomendou fazer tudo naquele dia, citando o risco de a infecção aumentar. Aí me pediu para passar dados pessoais e bancários para fazer o pagamento do exame, da equipe terceira e afins, e [disse] que o reembolso seria feito em até quatro dias úteis. O valor total: R$ 6.000", escreveu Karina em uma série de posts na rede social X.

"Na minha cabeça eu faria o pagamento no hospital, então meu foco foi ‘me manda a lista de documentos e eu providencio'", contou.

Ela diz que o falso médico tomou diversos cuidados para não deixar o golpe evidente.

"Me perguntou quais remédios meu marido tomava, sabia da condição dele de doença preexistente de espondilite anquilosante, uma doença na coluna que o obriga a tomar medicação constante. Enfim, ele me deu tantos detalhes específicos que se encaixavam no nosso histórico, que eu não duvidei."

Karina disse que passou a procurar pela casa exames anteriores e receitas médicas do marido e saiu em direção ao hospital. Na correria, não atendeu mais as ligações do falso médico, e por isso não houve tempo para que ele pedisse um Pix ou uma transferência, ela diz.

Foi ao chegar ao hospital e conversar com um atendente que Karina soube se tratar de um golpe. Ela afirma que recebeu suporte dos funcionários do hospital e soube que outras pessoas já tinham sido vítimas da mesma prática.

Em nota, o Hospital Santa Rita disse não comentar casos particulares em respeito à privacidade dos seus pacientes. Afirmou, contudo, ter conhecimento da existência de organizações criminosas que atuam em fraudes contra operadoras de planos de saúde, clínicas, hospitais, laboratórios e consultórios e que mantém contato permanente com as autoridades para apoiar investigações contra tais práticas.

O hospital diz ainda que, em virtude do cenário, os funcionários orientam assertivamente os pacientes, desde o ingresso na unidade, de que nenhum tipo de cobrança é feito por contato eletrônico ou telefônico. "Todas as questões financeiras são sempre tratadas pessoalmente e dentro da área reservada de tesouraria", diz o Santa Rita.

Segundo Karina, o primeiro contato foi feito pouco antes de o marido ficar incomunicável. "Eu, de fato, tentei ligar para ele três vezes, mas ele já tinha ido para o centro cirúrgico. É um golpe refinado. Não tivemos perdas financeiras, mas não saímos sem sequelas", diz.

O primeiro post da sequência em que ela conta a história no X viralizou. Até a manhã desta quinta (7) a publicação já havia sido vista por mais de 5 milhões de usuários.

Agora, Karina diz esperar que os hospitais revejam seus procedimentos internos para evitar que dados de pacientes sejam vazados por falhas na segurança. "O peso da prevenção deveria ser do hospital, e não dos pacientes. Ainda mais em um momento vulnerável."

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse que o caso foi registrado como estelionato.

Segundo a Polícia Civil, além das delegacias territoriais, São Paulo conta com duas unidades especializadas neste tipo de crime –a Divisão de Crimes Cibernéticos e a 2ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Estelionatos e Crimes Contra a Fé Pública, ambas do Departamento Estadual de Investigações Criminais.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.