Descrição de chapéu Quilombos do Brasil

Destino do recesso de Lula, Restinga da Marambaia é área quilombola no RJ

Ilha, que fica em área militar controlada pelas Forças Armadas e tem acesso restrito, já abrigou senzalas

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Salvador

A Restinga da Marambaia (RJ), uma ilha localizada em área militar controlada pelas Forças Armadas na qual o presidente Lula (PT) passará o recesso de fim de ano, já abrigou senzalas do período colonial. Hoje, como consequência desse período, a área abarca diversas comunidades quilombolas, que por anos lutaram pela titulação.

O presidente viajou nesta terça (26) para a praia e deve retornar a Brasília no dia 3 de janeiro. Ele está acompanhado da primeira-dama, Janja.

Por ser uma área militar, o acesso à Restinga da Marambaia é restrito. Outros presidentes, como Jair Bolsonaro, Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso já estiveram no local, assim como o próprio Lula, no primeiro mandato. A região faz parte dos municípios de Mangaratiba, Itaguaí e Rio de Janeiro.

Restinga da Marambaia, no estado do Rio de Janeiro - Ana Carolina Fernandes - 23.nov.2010/Folhapress

A Restinga da Marambaia possui uma extensão de aproximadamente 42 km, separada do continente pelo Canal do Bacalhau, em Barra de Guaratiba, também no Rio.

A vegetação local reúne uma das últimas reservas de mata atlântica do sudeste brasileiro, grandes áreas de restinga (incluindo praias e dunas) e manguezais, como ecossistemas associados.

As terras onde hoje vive a comunidade quilombola de Marambaia pertenceu ao traficante de escravos Joaquim José de Souza Breves, conhecido como Comendador Breves.

Atuante no tráfico de pessoas entre os anos de 1837 a 1852, o fazendeiro usava a propriedade para manter os escravizados na época de "engorda", espécie de quarentena em que os africanos trazidos eram alocados para "recuperação" após a viagem forçada, antes de serem enviados ao trabalho nos cafezais.

O estado do Rio de Janeiro tem hoje 20.344 quilombolas, segundo o Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

QUILOMBOLAS DE MARAMBAIA

A Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha da Marambaia (ARQIMAR) representa os quilombolas da região, cujo território foi titulado pelo Incra em outubro de 2015. Segundo a documentação do órgão, a comunidade quilombola da Ilha da Marambaia é composta atualmente por 124 famílias.

Em 2012, a associação encabeçou um projeto de financiamento por meio do Fundo Brasil (organização de apoio a grupos em defesa dos direitos humanos no país), que resultou em ações de limpeza e preservação da natureza local, de comunicação para a ARQIMAR e de negociação da titulação do território.

A principal atividade cultural da comunidade é realizada pelo Grupo Cultural Filhos da Marambaia, que faz apresentações de jongo, capoeira, danças de roda e palestras. São várias as atividades realizadas na comunidade, mas há restrições à visitação pelo público, já que uma parte da Restinga da Marambaia é de uso privado da Marinha.

Os Filhos da Marambaia participam das festas tradicionais das cidades da Costa Verde, no litoral sul do Rio, e já representaram o quilombo fora do Brasil. O grupo também se apresenta em eventos particulares, festivais, encontros de jongo e espaços culturais de relevância.

DITADURA

Além do envolvimento no tráfico de escravizados durante o período colonial, a região, até hoje sob a guarda das Forças Armadas, também foi usada para execução de opositores durante a ditadura militar.

O escritor Marcelo Rubens Paiva comentou na manhã desta quinta-feira (28) por meio do X (antigo Twitter) sobre a viagem do presidente à região, destacando a Restinga de Marambaia como o local onde enterraram os restos mortais de diversas vítimas do período, incluindo seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971.

Em 2018, após passar o Natal na ilha, o então presidente Jair Bolsonaro declarou que prometeria "enviar 'a petralhada' para a 'ponta da praia'", em referência à base da Marinha na área.

O termo é uma gíria utilizada entre militares linha dura para designar um lugar clandestino para interrogatório com tortura e eventual morte.

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford

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