Descrição de chapéu Rio de Janeiro violência

Moradores de Copacabana organizam grupos para caçar supostos ladrões no RJ

Após casos de roubos e violência, grupo convoca voluntários para o que chamam de 'limpeza'; Polícia Civil diz que investiga

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Rio de Janeiro

Após casos de assaltos com agressões físicas registrados em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, moradores do bairro criaram grupos para tentar, na base da violência, devolver ao bairro alguma sensação de segurança. Na noite desta terça-feira (5), vídeos mostraram grupos que supostamente estariam agredindo jovens apontados como ladrões.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que "tomou conhecimento da situação" e que "diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos".

Vídeo mostra grupo de moradores que estariam envolvidos na caça aos ladrões andando por ruas de Botafogo, zona sul do Rio - Reprodução

O secretário de Segurança do estado, Victor Santos, criticou a ação. "Quem tenta fazer justiça com as próprias mãos é tão criminoso como quem rouba ou atenta contra a vida da população. A polícia está nas ruas e pronta para fazer o papel dela", afirmou.

Entre os casos que desencadearam a ação está o ataque sofrido pelo empresário Marcelo Rubim Benchimol, 67, no domingo (3). Ele foi agredido e roubado em Copacabana por um grupo de jovens. A ação foi flagrada por câmeras de segurança, que filmaram quando a vítima levou um soco no rosto e desmaiou. O empresário tentou defender uma mulher que seria assaltada. Ele passa bem.

Já no dia 19 de novembro, um fã da cantora Taylor Swift foi morto a facadas nas areias da praia de Copacabana. Gabriel Mongenot Santana Milhomem Santos, 25, foi vítima de um latrocínio.

Uma moradora que reside há 60 anos em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, definiu a região como um ponto de guerra. Ela diz que cada vez mais é comum ver grupos de criminosos cercando as pessoas e cometendo roubos em plena luz do dia.

O autônomo Thiago Rothstein, 34, mora desde que nasceu em Copacabana, mas não se sente seguro. "Aqui em casa a gente vive com medo, pensamos duas vezes antes de sair com relógio, cordão, celular. Está cada dia pior, nada se resolve e a gente que fica refém disso tudo", afirmou.

A reportagem da Folha andou no bairro na tarde desta quarta (6) e não viu reforço no policiamento,

Pelas redes sociais, os adeptos da "justiça com as própria mãos" afirmam que moradores estão desprotegidos nas ruas e realizaram postagens incentivando a chamada justiça com as próprias mãos.

Um desses moradores de Copacabana que apoiam esse movimento, no Facebook, postou o que denominou de "chamamento". "Proponho a criação de um grupo de WhatsApp gigante, capaz de criar pelotões de acordo com a disponibilidade de cada integrante. Objetivo: colocar ordem em Copacabana!", escreveu.

Ainda na postagem, ele disse que "a proposta não é bater aleatoriamente, muito menos causar medo ou insegurança, é mostrar quem manda no bairro".

Outra postagem foi realizada pelo professor de jiu-jítsu Fernando Pinduka, dono de uma academia da região. Aos seus mais de 100 mil seguidores, ele afirma estar "indignado com os últimos episódios ocorridos em Copacabana, agressões e covardias comandadas por vagabundos, assaltantes e desordeiros contra pessoas de bem".

Em imagens divulgadas também nas redes sociais, grupos aparecem nas ruas na noite de terça (5) e na madrugada desta quarta (6) com pedaços de madeira. Um grupo é filmando por um motorista momentos antes de cerca um adolescente apontado por pegar uma bicicleta de um condomínio.

Em outra filmagem, um jovem aparece apanhando com um pedaço de madeira. Na gravação, afirmam que ele praticava roubos.

Para Daniel Hirata, do Núcleo Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, a atitude dos cariocas reflete a fragilidade do sistema de segurança pública da capital. "Uma Justiça criminal falha é brecha para formas privadas de resolução de conflitos. No Rio, isso é exemplificado pelos massacres promovidos por milicianos", diz o especialista.

Segundo especialistas, a ação é ilegal. "O ato de fazer justiçamento com as próprias mãos é considerado como crime de exercício arbitrário das próprias razões, previsto no artigo 345 do Código Penal", disse o advogado Reinaldo dos Santos de Almeida. Segundo ele, detenção para o crime é de quinze dias a um mês de prisão, ou multa. "Além da pena correspondente à violência utilizada, como ameaça, lesão corporal ou homicídio tentado ou consumado", diz ele.

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