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Moradores de São Sebastião protestam contra plano para demolir quase 900 casas

Passeata reage a pedido do governo Tarcísio para ampliar remoções no bairro onde 64 pessoas morreram no Carnaval; OUTRO LADO: governo diz que área é de alto risco e promete moradia

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São Paulo

Moradores de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, protestaram neste domingo (3) contra o plano do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para esvaziar e demolir quase 900 casas na Vila Sahy, bairro onde 64 pessoas morreram em deslizamentos de encostas em fevereiro deste ano. Eles são contrários à remoção das famílias, questionam a capacidade do poder público de fornecer alojamento a todos os afetados e pedem mais transparência no processo.

Uma passeata teve início às 8h na praça principal da vila, fechou parcialmente um trecho da rodovia BR-101 e foi até a praia da Barra do Sahy. Ao menos 500 pessoas participaram da manifestação, segundo organizadores —de acordo com a Polícia Militar, foram cerca de 100 manifestantes. O ato se encerrou por volta das 10h, de forma tranquila.

Os moradores dizem que foram surpreendidos pelo pedido de ampliação das remoções no bairro, que foi o epicentro da tragédia do domingo de Carnaval. O plano inicial para a Vila Sahy era destruir 393 imóveis que estavam condenados. As demolições tiveram início em setembro.

Multidão é com dezenas de pessoas ocupa faixas de uma rodovia, em uma passeata. Algumas delas levam cartazes com frases de protesto e, à frente da passeata, manifestantes carregam há uma grande faixa branca, cuja leitura está parcialmente bloqueada por pessoas à frente. A faixa se dirige ao governo do estado de São Paulo.
Moradores de São Sebastião, no litoral de São Paulo, protestam contra plano de remoção de 893 casas na Vila Sahy, afetada por chuvas que deixaram 64 mortos em fevereiro de 2023 - @tvilasahy no Instagram

Agora, a gestão estadual pede autorização à Justiça para demolir um total de 893 imóveis, o que representa quase todo o bairro. Em nota, o governo Tarcísio afirmou que "um amplo mapeamento do solo concluiu que parte da área é considerada de alto risco, por isso é preciso realizar a remoção e demolição de residências nesses locais, que podem ser atingidos em caso de novos deslizamentos".

Em ao menos 701 imóveis que estão na área onde o governo prevê demolições, as famílias ainda estão ali. A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) prevê que as remoções comecem já no mês de dezembro e sejam finalizadas até março.

O líder comunitário Moisés Bispo, associado da Amovila (Associação dos Moradores da Vila Sahy), questiona o plano do governo e afirma que não há imóveis disponíveis para abrigar os desalojados. Ele afirma, ainda, que a construção de um muro de contenção e de obras de drenagem nos morros ao redor da Vila Sahy deveriam evitar uma remoção tão grande de famílias.

"Não tem para onde ir", diz Bispo. "A população está em polvorosa e não está disposta a negociar sua casa, sua propriedade legítima, onde lutaram 30 anos, 40 anos para construí-la. Não querem ser empurrados para um lugar onde não tiver saneamento básico, escola, creche, uma travessia de pista segura. "

Ele ainda questiona a qualidade das moradias provisórias oferecidas pelo governo e o dinheiro gasto nas obras feitas na Vila Sahy. "Como assim gastaram milhões em obras de drenagem e contenção, para agora só ficar 20% da população no bairro? Tem alguma coisa errada aí", diz o líder comunitário. As obras no bairro, contratadas pela prefeitura de São Sebastião, custaram R$ 123 milhões.

Já o governo afirma que o plano de remoção das famílias será suficiente para atender a todas as famílias nas áreas previstas, mesmo que isso inclua moradias provisórias, e que os estudos de solo levaram em conta as obras de contenção e drenagem —sem essas obras, seria necessário remover ainda mais pessoas, segundo a gestão Tarcísio.

A CDHU afirma que o plano inclui novas obras a serem feitas a médio prazo. A companhia diz que novas reuniões serão realizadas à medida que ações sejam realizadas na comunidade.

"A retirada dessas estruturas é essencial para que haja a urbanização da Vila Sahy, por isso o Governo de SP protocolou uma ação na Justiça para retomar a demolição desses imóveis, possibilitando também a execução de obras de contenção de encostas e drenagem", disse o governo, em nota. "O tema já foi abordado com a comunidade em reuniões que ocorreram ao longo dos últimos meses e também está mencionado em cartilhas distribuídas aos moradores detalhando os fatores de risco e as ações que estão sendo desenvolvidas."

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