Descrição de chapéu Obituário Fernando Picarelli Martins (1941 - 2023)

Mortes: Engenheiro agrônomo ajudou a dar novos sabores às frutas

Fotografar trens e colecionar selos também eram paixões do pesquisador Fernando Picarelli Martins

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São Paulo

Desde menino, Fernando Picarelli Martins semeava o destino ao passar em frente à Casa da Agricultura, perto de onde morava, em Jundiaí (a 58 km de São Paulo), e quando aprendia sobre os segredos da lavoura nas conversas com um dos agrônomos do local.

O irmão mais velho de três meninas era inquieto por conhecimento sobre o que brotava da terra. Tanto que prestou vestibular para engenharia agrícola na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós), em Piracicaba, também no interior paulista.

Nem bem havia terminado o curso superior, Martins já estagiava na unidade de Jundiaí do IAC (Instituto Agronômico). Nascia ali a carreira de um dos mais prestigiados pesquisadores do local —ao todo, foram 30 anos de estudos, experimentos e olhares atentos.

Homem de óculos sentado com blusa marrom claro
Fernando Picarelli Martins (1941 - 2023) - Arquivo pessoal

O engenheiro agrônomo se especializou em fruticultura. Começou a pesquisar sobre a fruta que dá fama à cidade, chamada de Terra da Uva. Mas expandiu conhecimento para outras de clima temperado.

Das pesquisas em que participou nasceram variedades como nectarina centenária, ameixa gema de ouro e morango guarani, entre tantas outras.

Por causa de seus trabalhos, viajou o mundo para ensinar e aprender, escreveu livros e ajudou a barrar uma praga que ameaçava os parreirais da sua região.

As publicações de sua autoria guardadas em casa, pediu, serão doadas à Escola Agrícola de Jundiaí, como incentivo a novos estudos.

"Era uma pessoa comprometida, determinada", afirma a mulher do engenheiro, Penha Maria Camunhas Martins.

Foi graças a essa determinação e ao acaso, claro, que os dois se conheceram, quando ele se sentou ao lado dela, no lugar de alguém que vagou a poltrona de repente. No final, o rapaz perdeu a timidez e perguntou se a moça havia gostado de "La Violetera", musical hispano-italiano, de 1958, que haviam acabado de assistir.

O primeiro encontro, em 9 de março de 1963, deu início a mais de 60 anos de cumplicidade, de onde vieram cinco filhos.

Também originou viagens inesquecíveis ao redor do mundo, onde a primeira visita era sempre a estação ferroviária. Martins era apaixonado por fotografar trens —seu acervo, catalogado em álbuns, tem mais de 2.000 fotos de locomotivas, vagões e tudo que envolve o transporte sobre trilhos, muitas delas ampliadas em seu laboratório em casa.

Aposentado, não era difícil vê-lo pegar banquinho para ficar sentado próximo a alguma linha férrea com a câmera nas mãos, esperando um trem passar.

O engenheiro agrônomo também fotografava frutas em mercados e feiras livres, e as originadas em suas pesquisas. Oito de dez fotografias que estamparam uma série de selos sobre turismo rural, em 2010, eram suas.

A homenagem dos Correios coroou outra de suas paixões. Filatelista desde a infância, tinha uma vasta coleção de selos.

Normalmente de pouca fala, ganhava desenvoltura ao conversar com os filhos no jantar ou para debater agricultura e ciência. "O cotidiano era muito leve com ele", lembra Penha.

Martins morreu no dia 16 de dezembro, aos 82 anos. Pai de Marcelo, Fernanda, Renata, Paulo e Eduardo, teve dois netos. Deixou imagens de trens pelo mundo e o gosto doce-acidulado de um pêssego douradão, variedade nascida nos seus tempos de pesquisas do IAC.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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