Chuva fecha estradas, alaga bairros e sirenes são acionadas no litoral de SP

Em São Sebastião, 42 pessoas precisaram deixar suas casas; Mogi-Bertioga está bloqueada

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São Paulo, Caraguatatuba e São Sebastião

Fortes chuvas provocaram danos e assustaram moradores de cidades do litoral paulista na noite de quarta (24). O temporal alagou bairros de São Sebastião e fez a prefeitura acionar sirenes na Vila Sahy. Caraguatatuba também registrou inundações, e Santos pôs áreas de morro em estado de atenção. As rodovias Mogi-Bertioga e Tamoios acabaram bloqueadas.

Só em São Sebastião, no litoral norte, caíram 50 milímetros em menos de uma hora. A chuva se estendeu até esta quinta (25), e os alagamentos atingiram Juquehy, Barra do Sahy, Barra do Una, Camburi e Boraceia.

Na Vila Sahy, comunidade que fica na área de encosta do lado oposto da praia de Barra do Sahy, a madrugada foi tensa para moradores. Muitos saíram de suas casas temendo novos deslizamentos, como os que ocorreram em fevereiro do ano passado, quando 64 pessoas morreram.

Chuvas abrem cratera na Rua Maria Prudência, em Maresias, na Costa Sul de São Sebastião
Chuvas abrem cratera na rua Maria Prudência, em Maresias, na costa sul de São Sebastião - Marcos Fonseca/Prefeitura de São Sebastião

Moradores entraram em desespero quando a prefeitura acionou as sirenes por volta das 21h de quarta —foi a primeira vez que o sistema foi posto em prática. Uma mensagem pedia à comunidade que se dirigisse aos pontos de encontros criados depois da catástrofe.

A Defesa Civil do Estado declarou que o acionamento foi feito pela Defesa Civil Municipal devido ao "risco geológico ocasionado pelos acumulados de chuva na região".

"Passa um filme de terror na cabeça", afirmou Edivaldo da Silva Santos, morador da Vila Sahy. "Quando eu ouvi o barulho da sirene, pensei que poderia ocorrer tudo de novo. Mas graças a Deus nada aconteceu. Aqui no nosso grupo de moradores, alguns postaram que o morro tinha caído novamente. Houve um certo desespero."

"Antes da sirene, a gente não sabia qual era a gravidade do volume de chuva. Agora, podemos nos deslocar para um local seguro e nos proteger", disse a moradora Maria Eliana Santos Araújo, que vive na Vila Sahy há 17 anos em uma área de risco. Após as sirenes serem acionadas, ela ficou na casa de uma irmã e voltou para o Sahy no período da manhã.

Além dela, diversas famílias deixaram suas casas rumo a residências de parentes ou amigos. Outras permaneceram em vigília durante toda a madrugada.

Ao todo, ao menos 42 pessoas, de 13 famílias, foram abrigadas nas escolas Municipais Professor João Gabriel de Santana, em Toque-Toque Pequeno, e Henrique Tavares de Jesus, na Barra do Sahy.

Com o temporal, também houve voltou a discussão acerca do destino de imóveis localizados em áreas de risco da cidade. Em evento na capital paulista, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou estar convencido de que a via judicial não é a melhor solução.

"Não adianta você querer demolir se a pessoa não quer que a casa seja demolida. A gente vai ter que convencer a construir um projeto em conjunto", disse o governador.

"Existe uma questão que a gente precisa entender que é o vínculo afetivo que a pessoa construiu com aquele imóvel que ela conseguiu erguer com muito sacrifício ao longo de muitos anos de trabalho. Então, muitas vezes, você dá um apartamento, mas ela não quer, ela quer o que ela construiu."

Em relação ao acionamento das sirenes, Tarcísio avaliou que a estratégia foi bem-sucedida e afirmou que cogita ir ao litoral nos próximos dias para acompanhar de perto os estragos causados pelas chuvas.

Na região da praia de Boiçucanga, o nível de um rio que cruza o bairro subiu acima do normal, alagando casas e comércios. A correnteza criada pela força das águas levou bicicletas e caçambas de lixo.

Em Juquehy, também na região sul, moradores correram para tentar evitar que a água da chuva atingisse o interior das residências. Sofás, geladeiras, camas e aparelhos eletrônicos tiveram de ser deslocados às pressas para não serem afetados pela água, que chegou à altura das portas de algumas casas.

Diversos bairros da região norte ficaram alagados, a exemplo de Portal da Olaria e Pontal da Cruz.

Na região da praia de Maresias, uma das mais badaladas da cidade, o temporal deixou uma cratera na rua Maria Prudência. Segundo a Secretaria de Obras, houve o rompimento de tubulação de drenagem urbana, e a água atingiu a base do pavimento, causando o solapamento da via.

Com a previsão de mais fortes chuvas, a prefeitura adiou os shows que seriam realizados nesta quinta-feira (25) no Festival de Verão de São Sebastião 2024.

A apresentação do Padre Fábio de Melo foi remarcada para domingo (28), às 21h, no Complexo Turístico da Rua da Praia, no centro. A da dupla Os Barões da Pisadinha ficou para 3 de fevereiro, às 21h, na Praça Pôr do Sol, na praia de Boiçucanga.

Shows com artistas locais que ocorreriam nesta quinta nas praias de Juquehy, Maresias, Paúba, Barequeçaba, Arrastão, Porto Grande e São Francisco foram cancelados.

Outros municípios do litoral norte também foram afetados pelas chuvas.

Em Caraguatatuba, vizinha a São Sebastião, vários bairros tiveram ruas alagadas e ficaram sem energia elétrica. A água invadiu casas e comércios.

Houve queda de energia, e o fechamento da rodovia dos Tamoios, por risco de deslizamento, dificultou o acesso da concessionária à cidade. Às 22h de quarta, a serra antiga, principal ligação entre o litoral norte e o Vale do Paraíba, foi fechada pela concessionária que administra a via por questões de segurança.

O volume de chuva acumulado em 72 horas na Tamoios ultrapassou os 100 mm, conforme medições feitas pela concessionária, resultando no risco de queda de barreiras no trecho. A pista continuava bloqueada às 18h desta quinta.

A rodovia Mogi-Bertioga (SP-098), que liga a cidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, a Bertioga também precisou ser interditada.

As fortes chuvas registradas desde quarta na região causaram queda de barreira e pedra no km 84, no trecho de serra.

O bloqueio era feito inicialmente nos kms 69 e 98. Mas, devido ao aumento de fluxo de veículos, ele foi adiantado para o km 63. Na noite desta quinta (25), as equipes removiam pedras do trecho. Não havia prazo para a liberação da pista.

No decorrer da madrugada de quinta, houve ainda deslizamentos de terra e quedas de árvores em diversos pontos da rodovia Rio-Santos. No bairro Getuba, o transbordamento de um rio e a queda de uma barreira interditaram os dois lados da pista. A pista foi liberada por volta das 10h.

As chuvas provocaram, ainda, o desabastecimento de água em Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião. Em Ubatuba, os sistemas operavam em modo de atenção.

Segundo a Sabesp, a lama, galhos e outros materiais arrastados nos mananciais prejudicam a captação e o tratamento da água.

Em Santos, a prefeitura pôs as áreas de morro em estado de atenção na noite de quarta. Em três dias, choveu 70% do esperado para o mês.

No final da manhã desta quinta (25), houve o deslizamento de terra na encosta do morro São Bento, ao lado do Complexo Marina Magalhães, nas proximidades da rodoviária.

Também foi reportado deslizamento de terra no morro Santa Marina, na comunidade Vila Israel. Técnicos da Defesa Civil orientaram aos moradores que desocupassem suas casas.

Na noite de quarta, a prefeitura tomou conhecimento de uma queda de muro no morro Saboó que atingiu cinco casas. Uma delas foi parcialmente interditada.

No morro Marapé duas famílias buscaram abrigo por meio da prefeitura após terem suas residências afetadas. Outros incidentes foram observados nos morros Caneleira, Monte Serrat e Nova Cintra.

Ao todo, houve 22 ocorrências, todas sem vítimas, de acordo com a prefeitura.

Em Bertioga, a forte precipitação, acompanhada por ventos de 30 km/h, começou ainda no meio da tarde e alagou ruas de diversos bairros. Um carro estacionado foi atingido por um poste de eletricidade e ficou parcialmente danificado. Ninguém se feriu.

Reginaldo Pupo , Fábio Pescarini , Paulo Eduardo Dias , Mariana Zylberkan , Francisco Lima Neto e Cláudio Rodrigues
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