Descrição de chapéu Obituário Lélio Lauretti (1927 - 2024)

Mortes: Guru, enxergou antes a importância da ética nos negócios

Lélio Lauretti era apaixonado por ensinar o caminho do sucesso na governança e nas finanças corporativas

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São Paulo

Já tendo virado a casa dos 90 anos, o economista Lélio Lauretti impressionava pela capacidade de acumular tarefas. Era professor, palestrante, empreendedor e conselheiro de grandes instituições financeiras.

Cultivou ao longo da vida conhecimento para guiar empresas na mais essencial das tarefas para se avançar no mundo dos negócios: conseguir o dinheiro necessário aos novos projetos, contratação de funcionários e crescimento.

Imagem mostra homem idoso, ele veste terno e gravata e está em frente a uma janela
O economista Lélio Lauretti é cofundador do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) - Divulgação IBGC

Para quem não é do ramo pode ser até difícil entender, mas Lauretti era apaixonado por ensinar executivos a deslanchar seus negócios por meio do mercado de capitais, usando debêntures (títulos de dívida que empresas emitem para conseguir capital) e com a oferta inicial de ações na Bolsa de Valores.

Habilidade forjada nos 25 anos de carreira no Banco do Brasil e lapidada no final dos dos anos 1960, quando fundou a corretora de valores Novo Norte, que mais tarde seria incorporada ao banco da extinta companhia aérea Varig.

Mais de 20 anos antes do mundo corporativo ser contagiado pela febre ESG, a sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança, Lauretti percebeu que o empresariado brasileiro precisaria de uma instituição que gerasse conhecimento e o guiasse nesse campo.

Em 1995, ajudou a fundar o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). A entidade é atualmente referência no país quando o assunto é a disseminação da ética empresarial.

"Nunca falamos tanto de ética, e este é um dos legados do Lélio que devemos honrar sempre", disse Valeria Café, diretora-geral do IBGC, em nota do instituto sobre o seu cofundador.

Se por um lado Lauretti deslizava facilmente na aspereza dos balanços e cálculos financeiros, por outro buscava na suavidade da música clássica a inspiração para envolver pessoas nos diversos projetos dos quais participava.

Ainda quando contava pouco mais de 30 anos de idade, foi regente do coro da Igreja Presbiteriana na Vila Mariana, na zona sul da capital paulista.

Mesmo depois de ter largado a batuta, manteve um hábito que poucos conheciam. Quando viajava para fora do país, para Nova York ou Londres, procurava assistir aos ensaios das filarmônicas, conta o filho Lísias Lauretti, 65, cujos passos do pai trilharam o caminho que ele segue até hoje na carreira de conselheiro empresarial.

"Acho que isso deu a ele essa condição de orquestrar, de reger, para fazer cada grupo dar o seu melhor", conta Lísias, o segundo a nascer entre os irmãos Luiza, Luciano, Lisandro e Leandro.

Seja na intensa agenda de eventos e viagens corporativas ou no aprimoramento na execução das composições de Beethoven e Mozart na flauta, seu instrumento predileto, Lauretti encontrou numa vida intensa o segredo da vitalidade.

Certa vez, numa conversa com o pai, Lísias constatou que, apesar da idade e da agenda cheia, Lauretti estava absolutamente saudável aos 93 anos. A explicação estava na ponta da língua: "Eu não tenho tempo de ficar doente", disse o professor.

Mas a chegada da pandemia do coronavírus no início de 2020 o obrigou a desacelerar. O período coincidiu com os sintomas iniciais da doença de Alzheimer.

Em outubro do ano passado ele teve Covid que, em conjunto com o seu quadro, o debilitou muito.

Nascido em 5 de outubro de 1927 em Casa Branca, no interior paulista, morreu no último dia 9 de janeiro na cidade de São Paulo, aos 96 anos de idade.

Nas muitas manifestações de pesar enviadas aos parentes nos últimos dias, algumas o chamavam de guru, apelido típico conferido a líderes que alcançam status de referência devido ao carisma e sabedoria.

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