Descrição de chapéu Obituário Padre Gabriel Figura (1946 - 2024)

Mortes: Progressista, padre questionou normas e atraiu fieis no Paraná

Gabriel Figura ficou conhecido pelas falas no rádio, bênçãos polêmicas e animais que levou para igreja

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Curitiba

A missa da manhã de domingo foi transmitida no Paraná pelo padre Gabriel Figura durante décadas. Na região metropolitana de Curitiba, onde atuou por cerca de 50 anos, o sacerdote atraiu fiéis e personalidades com seu carisma e suas ideias que, por vezes, fugiam às normas da Igreja Católica.

"Era bastante progressista, não se encaixava muito em regras e normas", conta o amigo e também padre Fabiano Dias Pinto, lembrando que o padre Figura chegou a criar galinhas no pátio da igreja, fazendo a alegria das crianças enquanto os pais iam à missa.

Padre com batina branca faz gesto com as mãos
O padre Gabriel Figura morreu no último dia 25 de dezembro, aos 77 anos, no Paraná - Arquivo pessoal

O religioso também adorava cavalos, que criava em seu sítio, e ia montado neles visitar os fiéis distantes.

Em 2008, ficou famoso por causa de uma mula, que queria levar para a igreja. "Houve uma polêmica que ganhou os jornais nacionais. A mula, por ordem do arcebispo, não entrou. Feita uma enquete na TV, o padre ficou mais famoso e ganhou a opinião popular", recorda o amigo.

A fama, no entanto, também incomodava. "Sofreu, porque quebrava algumas regras, batizando sem realização de curso e abençoando casais que não poderiam contrair o matrimônio", diz o irmão, Francisco Figura. "Porém, nunca escondeu seus atos, era um livro aberto."

Sua carreira de comunicador começou em 1971, na Lapa (PR), na rádio Legendária, quando narrava jogos e até inventava campeonatos fictícios nas tardes de domingo, envolvendo nomes de paroquianos notáveis e padres da região.

As passagens por emissoras de rádios lhe renderam o título de Cônego do Cabido Metropolitano, por sua desenvoltura nos meios de comunicação.

Amigo de personalidades e políticos, era sempre convidado para encontros e debates. "Dizia que se não fosse padre, seria político", observa o padre Dias.

O padre Figura achava que o celibato deveria ser opcional, como na Igreja oriental. "Às vezes, discutíamos por conta de suas posições pouco ortodoxas, mas logo ele convidava para tomar um chope e pedia desculpas: ‘Eu sou um ser diferente’."

O amigo admirava a capacidade de o religioso ter sua opinião sem desobedecer à Igreja, com humildade em voltar atrás e acolher ideias diferentes.

Era alegre e extrovertido, sempre fazendo as pessoas rirem. Ajudou muitos seminaristas pobres, com roupas, materiais para estudo e tratamentos de saúde. Todos os anos, sorteava uma bicicleta entre eles.

Os jovens o chamavam de "tio", e um dos ensinamentos que gostava de repetir era: "Ninguém é tão bom que não tenha algum defeito, mas ninguém é tão ruim que não tenha nada a oferecer".

Gabriel Figura nasceu em Quitandinha (PR), em uma família de agricultores, o segundo entre nove irmãos. Ordenou-se sacerdote aos 25 anos e deixou a função de pároco aos 75, mas ainda abençoava casamentos, fazia batizados, benzia quem pedia, rezava missas e atendia confissões.

"Dizia que a vida deve ser comemorada. Tudo era motivo para festejar. Tanto é que partiu deste mundo aos 15 minutos do dia de Natal, uma grande festa", conclui o irmão.

Ele morreu de infarto no último dia 25 de dezembro, aos 77 anos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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