Descrição de chapéu Obituário Mara Cláudia Ribeiro Ezequiel (1972 - 2023)

Mortes: Determinada, lutou pela inclusão social de mulheres negras

Talento de Mara Ribeiro para a educação ultrapassou a sala de aula e virou projeto social

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São Paulo

A vocação de Mara para o ensino apareceu cedo, quando ela começou a alfabetizar e acompanhar os estudos dos irmãos mais novos. Parecia já saber o poder que a educação exerce na vida das pessoas.

Nascida em dezembro de 1972 em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Mara foi criada naquela região e lá empregou todos os seus esforços. Professora formada pelo Instituto de Educação Rangel Pestana, seria aprovada em um concurso para lecionar na rede estadual do Rio de Janeiro.

Anos depois e seguindo o caminho de liderança pela qual seria conhecida, deixou a sala de aula para trabalhar como orientadora pedagógica do Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) Augusto Rodrigues, escola localizada no bairro Dimas Filho, em Belford Roxo.

mara posa para foto, é negra, cabelos cacheados, sorri e apoia o queixo na mão equerda
Mara Ribeiro (1972-2023) - Arquivo pessoal

"Era uma escola que, na chegada dela, tinha 28 alunos, por ficar em uma comunidade altamente conflagrada pelo tráfico de drogas, pobreza e vulnerabilidade social", diz a irmã Celia Ribeiro, 46.

Mara se tornou diretora da escola e decidiu fazer uma busca ativa pelos alunos. Deu certo. A educadora conseguiu completar os três turnos das turmas até o ensino médio.

Sua determinação foi abalada quando após ser vítima de racismo na escola. Decidiu então mudar de rumo e foi para a gestão da educação no estado. Aproveitou para colocar de pé um projeto social que era sonho antigo, o Instituto de Mulheres Negras Herdeiras de Candaces.

Inspirada nas candaces, termo que designava mulheres com papeis proeminentes no antigo reino Kush, na região da África subsaariana, Mara lutou para incluir, por meio do trabalho e da qualificação, as mulheres que via batalhando todos os dias. "Ela sempre foi ativista nessa causa, das mulheres negras menos favorecidas e invisíveis", diz Celia.

E Mara sabia, pela experiência de vida na Baixada Fluminense, como o jogo era mais difícil para quem estava afastado da capital. "Se você não estiver no grande centro, as suas oportunidades de adesão uma vaga [de emprego] se distanciam muito", afirmou em um programa de debates da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) sobre racismo e mercado de trabalho.

Na época, em 2017, ela era superintendente de igualdade racial da pasta de Assistência Social e Direitos Humanos do governo do Rio de Janeiro.

Seus projetos exigiam um esforço extra: Mara convivia com a anemia falciforme e sempre brigou para que a doença não a impedisse de estar presente no trabalho, no convívio com a família e nos sambas.

Ela morreu no Rio de Janeiro em 14 de dezembro, uma semana depois de completar 51 anos. Deixa, além de Celia, os irmãos Mario Ricardo, 45, e Francinice Alves, 49, as mães biológica e de criação, respectivamente Nadir Ezequiel, 83, e Eunice Alves, 85, e três sobrinhas.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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