Assembleia do RJ devolve mandato de deputada sob suspeita de atuar em favor de milícia

Deputados também instauraram processo no Conselho de Ética para decidir sobre cassação de Lucinha, afastada em dezembro pelo TJ-RJ

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Rio de Janeiro

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro decidiu nesta quinta-feira (8) suspender o afastamento da deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) determinado pelo Tribunal de Justiça, investigada sob suspeita de atuar como um braço político da maior milícia do estado.

O plenário da Alerj decidiu, por 52 votos a 12, autorizar o retorno de Lucinha ao cargo e abrir um processo contra ela no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. A medida pode levar, no futuro, à cassação do mandato.

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A deputada estadual Lucinha (PSD-RJ) discursa no plenário da Assembleia Legislativa sobre projeto de lei em discussão na Casa. - Divulgação/Alerj

Lucinha foi afastada por determinação do desembargador Benedicto Abicair, do Órgão Especial do TJ-RJ, em dezembro, após requerimento do Ministério Público estadual.

De acordo com as investigações da Polícia Federal, a deputada atuava em favor do grupo criminoso comandado por Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, responsável pelos ataques a ônibus e trem na zona oeste em outubro. Ela não se manifestou sobre as investigações.

O presidente da CCJ, Rodrigo Amorim (PTB-RJ), afirmou que a decisão não significa corporativismo, mas manutenção da prerrogativa da Assembleia para decidir sobre os mandatos.

"Estamos mantendo a prerrogativa e tomando a medida mais dura contra um parlamentar em sua história. Nunca um deputado foi sumariamente a condição de réu no Conselho de Ética, sem aguardar o parecer da Corregedoria, Mesa Diretora", disse Amorim.

"Mesmo que ela possa ser, em alguns anos, absolvida, o simples fato de ter uma interlocução com um miliciano é algo gravíssimo e precisa ser enfrentado pelo parlamento. Ao invés de aplicar uma suspensão, [o processo ético-disciplinar] pode cassar o mandato da deputada independente da decisão judicial."

A Comissão rejeitou uma proposta de deputados do PT, PSOL e PSB que mantinha a suspensão por três meses para prosseguimento das investigações.

"Não estamos defendendo o afastamento por tempo indeterminado como fez o desembargador. Ficou parecendo que nós queríamos estabelecer um Fla-Flu e queríamos tirar uma casquinha da mazela alheia. O tempo determinado é para que todos os deputados pudessem ter acesso àquilo que os membros da CCJ tiveram até agora. A gente não reforma uma decisão do juízo que não conhece", disse ela.

Amorim criticou a proposta e afirmou que seus autores fazem parte de "um grupo pequeno de colegas jogando os demais aos leões".

"A política é para quem tem coragem. [...] A deputada Lucinha tem o jeito dela e muitas vezes talvez não seja a mais popular da Assembleia. Ela faz embates, é dura. Não é uma deputada superpopular entre os pares e que todos nós correríamos para passar pano para qualquer eventual conduta dela", disse o presidente da CCJ.

Apesar de ter votado contra a suspensão da decisão do TJ-RJ, o deputado Carlos Minc afirmou que "não cabe a ninguém tirar casquinha em cima de ninguém". "Ninguém quer assumir uma posição para tirar proveito em cima de uma situação. Estamos todos nós sofrendo com essa situação."

O nome de Lucinha apareceu na investigação a partir da quebra de sigilo de Domício Barbosa de Sousa, acusado de integrar a milícia "bonde do Zinho". Segundo a Procuradoria-Geral de Justiça, Domício encontrou a deputada e sua assessora Ariane Afonso Lima pelo menos 15 vezes ao longo de 2021.

Segundo a decisão que afastou a deputada, os dados mostram cinco episódios que demonstrariam a interferência delas em favor do grupo criminoso.

Lucinha, chamada de "madrinha" por Domício, teria repassado data de visita do prefeito nos bairros em que atuam. Segundo o Ministério Público, a informação permitiu que o miliciano se programasse para retirar sua "tropa armada" das ruas.

A deputada também é suspeita de ter atuado em favor de que motoristas de vans cobrados pela milícia pudessem continuar circulando pela zona oeste.

Os dados mostram também, segundo o MP-RJ, que Domício teria pedido à deputada, por meio da assessora, a realização de uma operação policial contra uma facção rival.

Lucinha é suspeita também de ter atuado em favor de milicianos do "bonde do Zinho" presos pela polícia. Segundo o MP-RJ, em novembro de 2021, Domício solicitou à deputada atuação em favor de criminosos presos em flagrante com armas, fardamento e veículo roubado.

A Procuradoria afirma que a deputada fez ligações e informou Domício sobre o fato da ocorrência ter se encerrado sem preso. De acordo com o MP-RJ, ela disse ao miliciano que "fez sua parte" e que "agora quebraria o telefone", orientando que ele fizesse o mesmo.

O quinto episódio narrado se refere à suposta tentativa de interferir na nomeação do então comandante do 27º Batalhão da PM (Santa Cruz), tenente-coronel Eduardo Lopes.

No início de outubro, antes dos ataques, a deputada registrou boletim de ocorrência relatando ter sido raptada por homens que teriam invadido seu sítio em Campo Grande. Após ser levada para o interior da Vila Kennedy, também na zona oeste, foi liberada, segundo ela.

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