Zinho, apontado como líder da maior milícia no Rio, entrega-se à PF e é preso

Luís Antônio da Silva Braga se apresentou na sede da corporação no centro da capital após negociações, segundo governo fluminense

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Rio de Janeiro

A Polícia Federal prendeu neste domingo (24), véspera de Natal, Luís Antônio da Silva Braga, 44, o Zinho, apontado como o líder da maior milícia do Rio de Janeiro. Ele estava foragido desde 2018.

A prisão foi feita pela corporação em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública estadual depois de negociação com defensores de Zinho, de acordo com nota do governo fluminense.

Zinho, ainda segundo a PF, apresentou-se a policiais da Delegacia de Repressão a Drogas e do Grupo de Investigações Sensíveis e Facções Criminosas, na Superintendência Regional da corporação na cidade.

Zinho é um homem de pele clara, cabelos marrons e espetados e rosto redondo
Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, apontado como chefe da maior milícia do Rio de Janeiro - Divulgação

Havia 12 mandados de prisão em aberto contra ele, classificado pela gestão Cláudio Castro (PL) de "inimigo número 1 do RJ".

Cumpridas as formalidades da prisão, ele foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) e, em seguida, para o presídio Laércio Costa da Silva Pelegrino, Bangu 1, unidade de segurança máxima do estado do Rio de Janeiro. Lá, Zinho ficará 22 horas dentro da cela e outras 2 horas no chamado banho de sol, no pátio, isolado.

No local há 48 celas individuais. Além de os presos não terem contato uns com os outros, a penitenciária é destinada para casos de indisciplina e é passagem antes da transferência para o sistema penitenciário federal. O governo do Rio de Janeiro, no entanto, ainda não confirmou se irá solicitar a transferência de Zinho para uma unidade de segurança máxima fora do estado.

Investigadores afirmaram à Folha que esperam que ele faça uma delação premiada, entregando nomes de empresários, políticos e policiais que tenham envolvimento com a milícia.

No último dia 18, o Tribunal de Justiça do Rio afastou do cargo a deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), a Lucinha. Ela é acusada de ser o braço político de Zinho e teria influenciado tentativas de mudanças de comandantes de batalhões que combatiam a quadrilha. Outra suspeita que recai sobre ela é de que teria agido para soltar um miliciano que estava sendo conduzido a uma delegacia.

A deputada ainda não se manifestou oficialmente, mas, segundo a PF, ela teria afirmado aos oficiais da corporação que não tinha relação com a milícia. Em nota, o PSD-RJ disse acompanhar a operação pela imprensa e que aguardará o acesso aos autos para emitir posicionamentos adicionais.

Policiais ouvidos pela reportagem afirmam que, entre os motivos que teriam levado Zinho a se entregar estariam questões familiares e o cansaço da vida de foragido.

Um dos investigadores disse que a advogada de Zinho, Leonella Vieira, que participou das tratativas da rendição, afirmou que ele também tinha medo de ser morto pela Polícia Civil, assim como ocorreu com seus irmãos.

Carlos Braga foi morto em 2017, segundo a polícia, ao tentar tirar o fuzil das mãos de um delegado. Já Wellington Braga foi morto em 2021 após ser baleado dentro da viatura, já rendido. Segundo a polícia, ele também teria tentado pegar a arma de uma policial.

Procurada, a defesa de Zinho não retornou as ligações e as mensagens da reportagem. Em outras ocasiões, os advogados do preso negaram todas as acusações contra ele.

Arte da milícia faz homenagem à Família Braga, segundo a polícia. Estão retratados nela: Wellington da Silva Braga, o Ecko, Carlos da Silva Braga, o CL ou Carlinhos Três Pontes, e Luiz Antônio Braga, o Zinho - Reprodução

Caso não seja transferido para um presídio federal após 30 dias, Zinho irá para a Penitenciária Bandeira Stampa, unidade prisional que, desde 2016, é reservada para milicianos. Atualmente, há cerca de 500 presos na unidade. Entre os internos estão suspeitos de integrarem a quadrilha de Zinho.

Em nota, o governador comemorou a prisão como uma "vitória da sociedade".

"A desarticulação desses grupos criminosos com prisões, apreensões e bloqueio financeiro e a detenção desse mafioso provam que estamos no caminho certo", declarou Castro.

Pelo X (antigo Twitter), o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, também celebrou a prisão. "A PF prendeu hoje, dia 24 de dezembro, no final da tarde, o miliciano mais procurado, líder da milícia que domina a zona oeste do Rio de Janeiro".

De acordo com as investigações, Zinho comanda a maior milícia da zona oeste. Ele assumiu o comando do grupo paramilitar em 2021, após a morte de seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko.

O controle dessa milícia foi passado de irmão para irmão, à medida que eles iam morrendo. Antes de Ecko, que assumiu como chefe em 2017, quem comandava era Carlos da Silva Braga, o CL ou Carlinhos Três Pontes.

O grupo hoje é chamado de Bonde do Zinho, mas já teve outros nomes. Inicialmente, era chamado de Liga da Justiça e foi criado em meados da década de 1990, por agentes e ex-agentes das forças de segurança do estado e dos bombeiros.

Em 2010, visando expandir seu domínio territorial, os paramilitares passam a se aliar a traficantes de organizações criminosas. É nesse momento que o irmão de Zinho, o Carlinhos Três Pontes, assume o comando do grupo, após um racha interno. À época, o grupo passa a ser conhecido de Milícia do CL ou a Firma.

Das 833 áreas listadas pela Polícia Civil como sendo de influência da milícia, 812 têm influência do grupo. Os paramilitares exercem o domínio das regiões ao cobrar de seus moradores taxas extras, extorquir comerciantes e forçar monopólios de serviços básicos, como gás e luz.

De acordo com o Geni/UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos), grupos milicianos ocupam quase 60% da região metropolitana.

Na última terça-feira (19), a PF e o Ministério Público do Rio fizeram uma operação contra Zinho e outros milicianos do mesmo grupo. Eles são suspeitos de praticar crimes como formação de milícia privada, extorsão, homicídios, lavagem de capitais, além de porte, posse ilegal e comercialização de armas de fogo.

Segundo a investigação, as cobranças de taxa extra são planilhadas pelos paramilitares. Em um único mês, fevereiro deste ano, o grupo criminoso arrecadou mais de R$ 308 mil com a cobrança de taxas feitas a grandes empresas do ramo da construção civil atuantes na zona oeste do Rio.

"No intuito de ocultar e dissimular a natureza, origem e a localização do dinheiro ilícito, os criminosos valiam-se de variadas contas para recebimento e circulação dos valores obtidos através das extorsões", diz o Ministério Público.

Também é atribuída a Zinho a ordem dos ataques que incendiaram 35 ônibus e um trem na zona oeste do Rio, em outubro deste ano, resultando num prejuízo financeiro estimado em cerca de R$ 38 milhões para as empresas de transporte.

A ordem seria uma reação à morte do sobrinho, Matheus Rezende, o Faustão, em uma ação policial.

Um mês antes, Faustão havia sido denunciado por ser um dos atiradores que mataram o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho. Este, por sua vez, fundou nos anos 2000 a Liga da Justiça.

Zinho já havia sido preso por porte ilegal de arma e associação criminosa, mas foi solto. A Promotoria estima que ele arrecadava de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões por mês para a quadrilha.

Ele foi preso por policiais civis em outra ocasião, porém acabou solto após pagar R$ 20 mil de propina, ainda de acordo com a Promotoria. Segundo a denúncia à Justiça, um policial, ao saber da prisão, teria ido até Ecko pedir desculpas pelo engano e devolver o dinheiro.

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