Descrição de chapéu Obituário Joyce Campos Lobato (1930 - 2024)

Mortes: Manteve viva a obra do avô Monteiro Lobato

Amante de leitura e história, Joyce Campos Lobato deu ideias para as obras do escritor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Joyce Campos Lobato costumava dizer que "nasceu por acaso em Nova York". Seu avô, o escritor Monteiro Lobato, foi nomeado adido comercial em 1927 e se mudou para lá com a esposa e os quatros filhos.

Foi na megalópole americana que Martha, filha mais velha de Lobato, conheceu o desenhista publicitário Jurandyr Ubirajara Campos, com quem se casou. Em 1930, Joyce nasceu, e quando ela tinha apenas sete meses toda a família voltou para o Brasil.

Na infância, foi considerada uma criança levada, que dava trabalho: subia em árvores, queimava taturanas e chegou a cortar o vestido chique da tia porque achou lindo e queria usar. Mais tarde contava também com a avó, Purezinha, que acobertava suas escapulidas para namorar.

Neta de Monteiro Lobato, Joyce morreu aos 93 anos
Joyce Campos Lobato (1930 - 2024) - Prefeitura de Taubaté

Conviveu ao lado do avô até sua morte, em 1948, quando tinha 18 anos. Ela costumava contar que Monteiro Lobato dizia que dentro de seu escritório tinha um Saci —ele brincava com isso para evitar que a neta entrasse no ambiente de trabalho.

Joyce colaborou com o avô com ideias para suas histórias, como no livro "A Reforma da Natureza", que compõe a coletânea "Sítio do Pica-Pau Amarelo".

Na obra, a personagem Emília tem a ideia de corrigir alguns "erros" da vida no planeta. Entre os planos da boneca está o projeto de ter uma torneira no lugar das tetas das vacas, ideia de Joyce. "Naquele tempo era muito comum tomar leite quente direto da vaca. Mamãe achava pouco higiênico e difícil. Se fosse uma torneira seria mais higiênico e fácil", conta a filha Cleo Hill.

Joyce se formou arquiteta na Universidade Presbiteriana Mackenzie e trabalhou na área por poucos anos. Em 1958, conheceu o engenheiro e imigrante polonês Jorge Kornbluh, com quem se casou e teve uma filha.

Até 1977, foi a mãe de Joyce, Martha, quem administrou o legado de Monteiro Lobato. Ela acompanhava a mãe em cerimônias, homenagens e entrevistas. Após a morte de Martha, o marido de Joyce se tornou o representante oficial da família.

Foi nessa época que firmaram contrato com a Globo, que passou a produzir o "Sítio do Pica-Pau Amarelo" para a TV. Joyce participou ativamente da primeira produção. Era ela quem lia e aprovava as sinopses, discutia os personagens e os figurinos. A partir dos anos 1980, assumiu também as entrevistas, as visitas a escolas e as doações de livros.

Hoje é a filha Cleo quem mantém o legado do bisavô em um site e nas redes sociais. Apesar de viver na Califórnia (EUA), ela diz fazer palestras virtuais gratuitas para escolas públicas no Brasil por meio do projeto Lobato nas Escolas.

Joyce e o marido, que sempre gostaram muito de viajar, viveram um ano na França. Antes de entrar para os negócios da família Lobato, Jorge Kornbluh trabalhava para uma empresa francesa e o casal viajava todo os anos para a Europa.

Interessada em arqueologia, Joyce viajou para destinos como Creta, na Grécia, Machu Picchu, no Peru, península de Yucatán, no México, e também para o Egito.

A filha Cleo conta que a mãe tinha "uma energia incrível e estava sempre fazendo alguma coisa". Ficar quieta não era com ela. Joyce também tinha habilidades manuais, gostava de cozinhar para o marido, desenhava, costurava as roupas da filha, trocava o encanamento da casa, consertava a telha, reformava o quarto.

Ainda nos anos 1970, Joyce e o marido, com quem viveu por 57 anos, compraram uma chácara em Americana, no interior de São Paulo. Aos finais de semana, gostava de jogar cartas com as amigas. Ela morreu no dia 28 de janeiro, em Americana. Deixa a filha Cleo e o neto Luca Lobato Hill.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.