Descrição de chapéu Obituário IVONETE JOSÉ DE MELO (1946 - 2024)

Mortes: Atriz e bailarina, lutou pela classe artística pernambucana

Ivonete Melo atuou em dezenas de espetáculos e presidiu o sindicato dos artistas de Pernambuco por mais de 20 anos

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Juazeiro (BA)

O Vivencial Diversiones, grupo teatral criado em Olinda (PE) em 1974, foi resistência durante a ditadura militar e virou símbolo de subversão na cena artística. A bailarina Ivonete Melo abria um dos espetáculos com seios à mostra e penduricalhos no bico do peito. O nu era um ato político com deboche, como definiam.

A cena ficou na memória do professor de literatura da Universidade de Pernambuco (UPE) Moisés Melo. Na época estudante, tornou-se amigo de Ivonete e futuramente escreveu uma peça das suas histórias, "Rainha da Pernambucália".

Mulher com nariz de palhaço e com as mãos no peito
A atriz e bailarina pernambucana Ivonete José de Melo morreu no dia 1º de janeiro, aos 78 anos - Leitor

"O vivencial misturava tudo. Satirizava a ditadura e mudou a cabeça de muita gente", diz Moisés, 62.

Ivonete José de Melo nasceu em Vitória de Santo Antão, na zona da mata de Pernambuco, no dia 12 de maio de 1946. Perdeu o pai aos 9 anos e, como ela e o irmão não estavam registrados, ficaram sem a herança. Acabaram indo morar com a mãe nas palafitas do Recife.

Na juventude, foi feirante. Com esforço, cursou magistério e começou a dar aulas nas escolas públicas da cidade.

Foi na época do magistério que teve os primeiros contatos com a arte. Por meio de uma amiga, chegou aos cursos de balé que eram ministrados no icônico Teatro de Santa Isabel, onde fez parte do corpo de baile. "O balé foi a primeira paixão artística dela", diz a filha Andreza de Castro Melo do Nascimento, 47.

A carreira nos palcos foi além da dança, fez turnês nacionais e internacionais com peças de teatro, mesmo sem ter ingressado em grupos após o Vivencial. E também atuou no cinema. "Contracenar com ela era um absurdo. Ela tinha um brilho muito intenso. No olhar, nos gestos e nas atitudes", afirma Melo.

Ela adotou duas filhas durante a vida e dedicou peças infantis a elas e aos netos. "Ela adorava fazer teatro infantil", afirma Andreza, a quem a mãe dedicou "A Revolta dos Brinquedos", de Pernambuco de Oliveira e Pedro Veiga.

A artista também teve forte atuação nas políticas culturais. Esteve na luta nacional pela regulamentação dos trabalhos dos artistas e técnicos envolvidos no setor do teatro, que resultou na criação da Lei dos Artistas, em 1978.

Por mais de 20 anos, presidiu o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado de Pernambuco (Sated-PE).

Durante a pandemia do coronavírus, fez campanha por doações de alimentos para profissionais do setor artístico que ficaram sem trabalhar. Atendeu principalmente aos artistas de circos itinerantes.

Era uma figura marcante de gestos firmes, como uma boa bailarina clássica. Passou quase toda a vida colorindo o cabelo de ruivo, o vermelho cobre era seu favorito.

Acordava sempre cedo para andar com seu cachorro. Fazia comida para animais abandonados e também ajudava os moradores de rua. Um de seus últimos aniversários foi com eles, teve bolo e refrigerante.

Ivonete morreu aos 78 anos, no primeiro dia de 2024, em decorrência de um câncer no útero. Deixa duas filhas, Andreza e Ivanilda, três netos, Clarissa, Tiago e Tomás, e dois bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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