Mulher que atacou judia deve ser indiciada sob suspeita de ameaça e injúria racial

Comerciante foi xingada de 'assassina de crianças' e teve sua loja depredada por chilena; elas disseram que já se conheciam

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Salvador

A mulher que atacou uma comerciante judia no distrito de Arraial d’Ajuda, em Porto Seguro (BA), deve ser indiciada sob suspeita de crimes de injúria racial, ameaça, dano material qualificado e tentativa de lesão corporal.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil da Bahia e o inquérito deverá ser concluído nos próximos dias, informou o delegado Paulo Henrique de Oliveira, coordenador da 23ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior.

Mulher acusada de agredir comerciante judia em Arraial d'Ajuda - Reprodução

A comerciante Herta Breslauer foi chamada de "assassina de crianças" e teve sua loja depredada pela chilena Ana Maria Leiva Blanco nesta sexta-feira (2). Um vídeo do episódio viralizou nas redes sociais.

As imagens mostram Blanco quebrando as mercadorias nas prateleiras e, em seguida, gritando: "Eu vou te pegar, maldita sionista".

Breslauer e Blanco prestaram depoimento à polícia e deram versões distintas para o episódio. Elas afirmaram que se conhecem e que os filhos de ambas, adolescentes, são amigos desde a infância.

Em depoimento à polícia, Ana Maria Leiva Blanco afirmou ter rompido relações com Breslauer em novembro de 2023, mês seguinte ao início da guerra Israel-Hamas, depois ter recebido uma mensagem em que a lojista a teria acusado de ser antissemita.

Na época, a comerciante também teria acusado Blanco de ter abandonado o filho, que viveu com o pai durante um período em que ela morou no Chile.

Breslauer, por sua vez, contou à polícia ter visto mensagens postadas por Blanco em uma rede social em que ela chamava Israel de "país assassino" e prestava solidariedade ao Hamas.

Depois disso, a lojista teria enviado uma mensagem privada na mesma rede social em que disse: "Por que você está criticando Israel? O seu filho cresceu em um lar judeu, que quando você foi embora eu acolhi seu filho."

A mulher teria retrucado a mensagem com ofensas, o que levou a comerciante judia a bloqueá-la na rede social.

A advogada da vítima, Lília Frankenthal, confirma que as duas mulheres tiveram uma discussão privada em uma rede social: "Mas isso não pode ser usado como justificativa para a agressão, senão a gente vai viver em uma selva. Se ela ficou sentida, que tomasse as providências, como minha cliente está fazendo".

Na última sexta-feira, elas teriam se encontrado pela primeira vez depois de terem cortado o contato. No depoimento, Blanco que foi chamada de terrorista ao passar em frente da loja –a comerciante nega.

Mais tarde, ao passar novamente pela loja, ela afirma que "perdeu a cabeça" e admitiu que entrou na loja, quebrou produtos e desferiu ofensas e xingamentos contra a comerciante.

Em seu depoimento, a lojista disse que Blanco teria entrado de forma calma na loja e inquirido: "Você está feliz?" Ao questionar o motivo da pergunta, ela teria sido surpreendida com um tapa no rosto.

Depois disso, a chilena teria destruído objetos da loja e foi contida pelo próprio namorado, que a segurou. Ambos deixaram a loja e a proprietária foi acolhida por um casal de clientes e chamou a polícia.

Blanco, por sua vez, justificou a atitude afirmando que descarregou sua raiva pelo fato de ter sido chamada de terrorista e ter sido acusada de abandonar o filho.

Ela ainda afirmou que não agrediu fisicamente a comerciante —que, por outro lado, afirma que há testemunhas da agressão. O laudo do Instituto Médico Legal não constatou nenhuma lesão em Breslauer, informou a polícia.

Neste sábado (3), a chilena foi alvo de uma decisão judicial que a proíbe de se ausentar do município e de se aproximar da comerciante ou frequentar a loja, sob pena de prisão preventiva em caso de descumprimento.

A Folha não conseguiu contato com ela, que não apresentou advogado para o caso. Em entrevista ao Fantástico, a chilena se disse arrependida do episódio e alegou que teve um surto.

Antes, em depoimento à polícia, declarou que possui um laudo de incapacidade mental expedido no Chile e que toma medicamentos ansiolíticos. Também afirmou que nunca foi presa ou processada.

Em nota, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) prestou solidariedade a Herta Breslauer e disse que as autoridades estaduais estão agindo dentro do que determina a lei: "Só o amor constrói. Respeito sempre, preconceito jamais. Juntos, podemos construir um futuro de paz."

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em postagem em uma rede social, também disse repudiar os insultos antissemitas.

"O Brasil é uma nação formada pela mistura de povos e culturas, e atitudes discriminatórias contrariam os valores fundamentais de respeito e convivência pacífica. É crucial lutarmos contra o antissemitismo e qualquer forma de discriminação."

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