Descrição de chapéu violência

Prefeitura de SP instala estrutura antifurto em postes com câmeras do Smart Sampa

Gestão aposta no 'chapéu chinês' para proteger aparelhos com reconhecimento facial; especialistas veem medida paliativa

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São Paulo

As câmeras de segurança estão se multiplicando pela cidade de São Paulo, e as medidas para protegê-las de furto e depredação também. Na capital, o dispositivo de proteção mais recente é chamado pela prefeitura de "chapéu chinês": um círculo com varetas de metal penduradas nos postes.

O objetivo é coibir furtos e depredação de equipamentos que integram um programa milionário da cidade. As câmeras protegidas fazem parte do Smart Sampa, projeto de monitoramento com reconhecimento facial que tem custo mensal de R$ 9,8 milhões —e mais R$ 120 milhões de investimento apenas na compra das câmeras.

Segundo a prefeitura, as estruturas de metal estão sendo testadas pela empresa responsável por administrar o programa. "O consórcio realiza testes de diferentes estruturas para identificar a eficácia dos itens de proteção", disse a gestão Ricardo Nunes (MDB), por meio de nota.

Poste com câmeras de segurança e a proteção do 'chapéu chinês' de metal, na avenida Francisco Matarazzo, zona oeste de SP; prefeitura adotou neste ano a estrutura antifurto - Danilo Verpa/Folhapress

A administração municipal não disse quais são os outros itens de proteção em fase de teste. No ano passado, semáforos para pedestres passaram a ser instalados em alturas maiores em alguns cruzamentos do centro, também com a intenção de coibir furtos de fios.

O "chapéu chinês" foi encontrado pela reportagem em três pontos da capital paulista: no cruzamento da rua Santa Ifigênia com a avenida Cásper Líbero, na região central, e nas avenidas Francisco Matarazzo e Marquês de São Vicente, na zona oeste. A prefeitura não respondeu qual é o critério para a escolha desses locais.

A ideia da estrutura é que, caso alguém escale o poste para arrancar os equipamentos dali, não consiga movimentar os braços e as mãos por causa da proteção metálica.

Para o diretor social do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) dos bairros Santa Cecília e Campos Elíseos, Antonio Castilho, a estrutura pode ser feia e representar uma solução paliativa, mas proteger o equipamento é essencial. "A câmera, indiscutivelmente, faz parte de um kit necessário para ajudar na segurança. É um item protetivo, não preventivo, para auxiliar depois na investigação, e precisamos achar um jeito de protegê-la."

Ele diz, no entanto, que a explicação para a grande quantidade de furtos de fios na região central está no interesse pelo cobre, que é vendido a ferros-velhos por bons preços. Para Castilho, o círculo de metal pode até dificultar o crime, mas não deve zerar essas ocorrências. "Quer resolver a questão do furto de cobres no centro? É só tirar os ferros-velhos da região", sugere.

O aumento dos registros de furto e assalto na cidade, principalmente no centro, tem sido uma das principais preocupações dos governos municipal e estadual. Pelo lado da prefeitura, o programa de câmeras com reconhecimento facial é a principal aposta para fazer cair o número de ocorrências.

Para o pesquisador Daniel Edler, do Núcleo de Estudos de Violência da USP, alguns tipos de proteção contra furto podem prejudicar o próprio funcionamento da câmera.

"Criam-se mecanismos físicos para evitar a depredação das câmeras, só que isso gera problemas também: se você constrói um poste superalto para impedir as pessoas de subirem, mas essas câmeras inteligentes precisam de um ângulo muito mais baixo para captar o rosto das pessoas", exemplifica. "No fim das contas, pode prejudicar o próprio funcionamento da câmera. Isso tudo é paliativo."

Até o início de fevereiro, o consórcio responsável pelo Smart Sampa havia instalado novas 2.100 câmeras na cidade. Dessas, cerca de 80% estão na região central, segundo a prefeitura.

A instalação das câmeras do projeto já está alterando a paisagem urbana, principalmente no centro, onde postes foram instalados apenas para o posicionamento das câmeras de segurança.

Segundo Edler, não há nenhuma pesquisa científica no mundo que comprove eficácia do reconhecimento facial na redução da violência. Além disso, ele considera que há insegurança jurídica a respeito do uso da tecnologia pela polícia e cita a possibilidade de um grande prejuízo financeiro caso existam, no futuro, restrições ao uso desses dispositivos por meio de leis.

"Não duvido, por exemplo, que o Congresso aprove uma legislação dizendo que a polícia só pode usar câmeras públicas e que todos esses sistemas, que estamos gastando milhões para construir, fiquem obsoletos em poucos anos", afirma o pesquisador.

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