Descrição de chapéu violência

Polícia conclui inquérito e pede prisão de motorista de Porsche pela 3ª vez

Fernando Sastre Filho, 24, foi indiciado pela batida que causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo Viana em março

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São Paulo

A Polícia Civil concluiu o inquérito que investiga o acidente envolvendo o Porsche dirigido pelo empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, e pediu, pela terceira vez, a prisão preventiva (sem prazo) dele. A batida causou a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52.

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informa que o inquérito foi concluído pelo 30º DP (Tatuapé) e encaminhado para a Justiça, que deve acatar ou não o pedido de prisão. A polícia já havia solicitado a prisão do empresário outras duas vezes, mas os pedidos foram negados.

O empresário foi indiciado sob suspeita de homicídio doloso, lesão corporal e fuga de local de acidente. Procurada na manhã desta quinta (25), a defesa dele não se respondeu até a publicação deste texto.

Porsche azul ficou com dianteira destruída após colisão com Sandero na avenida Salim Farah Maluf - Divulgação/Polícia Civil

No relatório final, a polícia argumenta que a prisão preventiva de Fernando foi solicitada sob argumento da garantia da ordem pública. De acordo com as autoridades, os crimes são graves e há provas indiscutíveis da existência do crime e indícios suficientes de autoria.

Segundo a polícia, os crimes investigados afrontam a "segurança viária e a locomoção de cidadãos de bem", diz. A mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, é citada, no fim do relatório, como coautora no crime de fuga do local.

A prisão foi solicitada após a Polícia Militar ter entregado para a investigação as imagens das câmeras corporais do policiais militares que atenderam a ocorrência.

As imagens mostram o empresário após o acidente, ao lado da mãe e de um tio, falando que não se recordava do que havia acontecido no acidente ao ser questionado pelos policiais militares. Na ocasião, Fernando usava uma camisa branca com o texto "only Porsche" (somente Porsche em inglês).

Os dois tentaram deixar o local, mas foram impedidos por uma policial militar que afirmou que precisava "qualificar" o jovem antes de liberá-lo. "Não pode tirar ele daqui assim."

A PM pergunta a outro colega se ele possui equipamento para teste de bafômetro no local, e o policial responde que não.

Questionado sobre o que tinha acontecido, Fernando diz: "A gente estava saindo da festa e a gente ia para a minha casa jogar sinuca, aí do nada aconteceu um acidente horrível e aconteceu isso. Eu não lembro mais de nada".

Nas imagens, a mãe aparece ao lado do empresário e pede que ele seja liberado para ir ao hospital. "Pelo amor de Deus, moça. Se ele tiver batido a cabeça, cada minuto conta", diz.

As imagens também mostram Fernando perguntando diversas vezes onde está seu amigo Marcus Vinicius Rocha, 22, que estava no banco do passageiro e se feriu no acidente. "O Marcus está bem?", pergunta, sendo informado de que Marcus foi levado para o hospital.

"Pode ir?", pergunta a mãe após os questionamentos da polícia sobre o que havia acontecido. Os policiais concordam e liberam a família. "Vamos, Fernando", diz ela.

Fernando é então retirado do local do acidente no carro da mãe sob a alegação de que seria levado para atendimento no hospital São Luiz, sem passar pelo teste do bafômetro.

Ao chegarem à unidade Anália Franco do hospital, porém, os PMs souberam Fernando não havia dado entrada no pronto-socorro nem em qualquer outro endereço da rede hospitalar. Os policiais disseram que então tentaram contato por telefone com a mãe e o investigado, que não atenderam as ligações.

Na terça-feira (23), foi divulgado o laudo da perícia que demonstra que o motorista do Porsche estava a 156 km/h momentos antes da colisão. De acordo com a SSP, também afirmou que, após sindicância, concluiu que houve falha de procedimento dos policiais que atenderam a ocorrência pelo fato do motorista não ter sido submetido ao bafômetro.

Policia civil faz uso de drone durante reconstituição de acidente com Porsche na avenida Salim Farah Maluf, nesta quinta (25) - Ronny Santos/Folhapress

A batida aconteceu na madrugada de 31 de março, um domingo. Fernando perdeu o controle do Porsche e colidiu na traseira de um Renault Sandero, de acordo com policiais militares que atenderam a ocorrência. Atingido, Viana foi socorrido e encaminhado ao Hospital Municipal do Tatuapé, onde morreu.

O dono do Porsche se apresentou na delegacia na tarde de segunda, mais de 30 horas após a colisão.

O Ministério Público afirma que Daniela Cristina de Medeiros Andrade, mãe do empresário que causou o acidente, tentou atrapalhar as investigações.

Testemunhas do caso foram ouvidas, como a namorada de Fernando e o amigo que estava com ele no carro e a namorada desse amigo. Enquanto a namorada do empresário nega que ele tenha bebido, os amigos afirmam que todos beberam horas antes do acidente.

A Folha teve acesso ao inquérito com informações sobre onde o grupo do empresário esteve antes do acidente —eles foram jantar e depois seguiram para uma casa de pôquer.

Em um dos estabelecimentos, eles consumiram oito drinques chamado Jack Pork —feito com uísque, licor, angostura e xarope de limão siciliano—, além de uma capirinha de vodca.

Também foram consumidos água, um torresmo, um bolinho de costela, um hambúrguer e outros dois salgados. O total gasto foi de R$ 620. No inquérito é dito que ainda não é possível confirmar se há imagens de Fernando ingerindo bebida alcoólica, mas que existe essa possibilidade.

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