Praia de Florianópolis recorre a fiscais e drone para caçar pelados

Comerciantes e adeptos do nudismo entram em confronto na Galheta, que proibiu a prática em 2016

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Praia vista do alto de um morro com bastante mata. Ao fundo, é possível ver pessoas na areia
Vista da praia da Galheta, em Florianópolis - Gustavo Simon/Folhapress
Florianópolis

Tradicional refúgio nudista, a praia da Galheta, em Florianópolis (SC), decidiu combater a presença de pessoas sem roupa. O plano inclui fiscais e até uso de drone para encontrar quem burla as regras.

A medida, por vezes, gera confusões entre comerciantes a favor da proibição e praticantes do nudismo.

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Placa contra atos obscenos na Praia da Galheta, em Florianópolis - Bruno Lucca/ Folhapress

Escondido por morros com densa vegetação nativa e com grandes pedras, o local —ao leste da ilha—está há décadas na lista de balneários recomendados para a prática da Federação Brasileira de Naturismo.

A Prefeitura de Florianópolis considera que a presença de pessoas sem roupas na região dificulta o acesso da população geral à praia, gera perturbação do sossego durante a noite e cria um cenário que facilita atos obscenos e casos de importunação sexual.

A gestão Topázio Neto (PSD) afirma ainda que não há atualmente previsão legal nem regulamentação da prática na Galheta. A situação, porém, já foi diferente.

Em 1997, uma atualização na Lei nº 3.455 de 1990 permitiu a prática de nudismo na praia, com o uso de roupas sendo opcional. A norma perdurou por quase duas décadas.

Vereadores aproveitaram um projeto para transformar a Galheta numa área protegida, em 2016, para aprovar um pacote que passou a proibir churrascos, animais e fogueiras na praia —além de vetar a nudez nas áreas públicas.

A regra, porém, tem sido desrespeitada. A reportagem esteve na praia no sábado (31). Na entrada, uma placa avisa aos visitantes sobre a proibição do nudismo no local. Segundo ela, fiscais estão por toda parte, contando com drone para caçar quem estiver pelado. O aviso, porém, não foi colocado pelo município.

Ocorre ainda reforço de comerciantes. Aos berros e ameaças, eles buscam afastar os naturistas a fim de atrair turistas, ainda reticentes em frequentar a área.

"Meu lucro vem de famílias, não de gente safada", diz Fernando Kempel, 43. Ele se apresentou como dono de um quiosque na Galheta. O homem compõe um grupo de empresários contrário à presença de pessoas sem roupa.

Para fugir da supervisão, alguns nudistas escolhem ficar entre as pedras, em trilhas no meio da mata ou ir ao local somente ao anoitecer —quando é comum a realização de orgias. Outros ignoram a situação e exibem os corpos nus, mas logo alguém aparece para repreender o ato.

Um advogado adepto do nudismo disse à Folha que considerava a praia um local de liberdade, mas agora tem medo de ficar nu na região.

Os naturistas da organização Amigos da Galheta cobra uma regulamentação nacional do movimento. Membros também criticam o que chamam de guinada conservadora em Florianópolis.

Após publicação deste texto, a associação relatou haver uma milícia agredindo fisicamente naturistas e LGBTQIA+ na praia, após descobrirem que a permissão para o naturismo foi revogada pela câmara dos vereadores. Segundo eles, muitos comerciantes os apoiam, não perseguem.

"Revogada em 2016, a Lei do Naturismo não foi amplamente discutida ou divulgada. Apenas em 2023 ficou claro que não há mais uma legislação que autorize a prática", dizem em nota.

Tal vácuo legislativo, continuam, permitiu o recomeço de um ciclo de violência que tinha sido apaziguado em 1997 com a criação da lei que autorizava o naturismo.

"Aqui é um lugar de gente ser gente", diz a argentina Luz Arroyo, 28, que vende doces na praia. "Você anda pela areia e vê peitos por toda parte, vê pintos de todos os jeitos. É lindo."

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