Descrição de chapéu Obituário Jorge Barallobre (1942 - 2024)

Mortes: Espanhol fez da inovação e da elegância a sua marca

Empresário Jorge Barallobre fundou indústria nacional referência na fabricação de válvulas

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São Paulo

Jorge Barallobre guardava na memória os tempos difíceis do pós-Guerra na Espanha. Lembrava-se da mãe tecendo apenas a face da frente do pulôver com a linha de que dispunha para mandar o filho para a escola impecavelmente vestido no inverno, apesar da penúria.

Quando Jorge tinha 11 anos, seu pai vestiu o melhor terno, saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. Quando o jovem estava prestes a fazer 18 anos, a mãe comprou e lhe deu uma passagem de navio, apenas de ida, com destino a São Paulo. Deu-lhe o endereço, onde deveria procurar pelo pai.

E assim, o jovem deixou a Galícia natal rumo ao Brasil, onde construiria as bases de sua vida adulta. Se tivesse permanecido em La Coruña corria o risco de ter que se alistar e ser mandado como soldado para a África.

Homem branco, de barba e cabelos grisalhos, olha para o lado, enquanto apoia braço em cadeira. Ele veste uma camisa social branca. Sua expressão é séria.
Jorge Barallobre (1942 - 2024) - Arquivo pessoal

Em terras brasileiras, encontrou o pai estabelecido como professor de matemática, morando na periferia e casado com sua ex-babá. A convivência durou menos de um mês.

Foi parar numa pensão nas imediações da estação da Luz, onde buscou apoio junto a dois amigos também espanhóis que conhecera no navio.

Passou a trabalhar como desenhista numa empresa de válvulas, trabalho que lhe permitiu custear a faculdade de física no Mackenzie. O curso foi escolhido por puro pragmatismo: era o que tinha menos concorrência.

O ofício de desenhar válvulas abriu-lhe um novo mundo. "Jorge sempre foi muito articulado, envolvente e trabalhador. Ao terminar a faculdade, surgiu a oportunidade de abrir uma pequena fábrica para produzir o que desenhava", relata o endocrinologista Herman Parczew, amigo de mais de cinco décadas que viu os negócios progredirem.

Barallobre conseguiu um sócio estrangeiro, a Valtec, empresa americana que depois seria vendida. "Como batalhador e determinado em todas as brigas que era, ele conseguiu negociar com os americanos. Manteve o nome e o direito de continuar produzindo válvulas com a mesma tecnologia, desde que redesenhasse a forma de acoplá-las para que as peças produzidas no Brasil e nos Estados Unidos não fossem intercambiáveis", explica o amigo.

Jogada de mestre que fez da Valtec sul-americana uma referência nacional em válvulas de controle do tipo rotativo.

O empresário se orgulhava de suas inovações que ganharam o mundo. Assim como ele, um apreciador de viagens, artes, vinhos e bons restaurantes. "Era um cara que queria viver a vida. Tudo fazia sentido porque tinha de desfrutá-la", define Parczew, recordando-se dos almoços e das conversas na cozinha, onde o amigo se deliciava como chef diletante.

Naturalmente elegante, Barallobre traduziu seu modo de vida em uma casa de campo no estilo Toscano, refúgio também dos familiares, os dois filhos do primeiro casamento, Rafael, 47, e Raquel, 45, e os seis netos.

"Todas as suas frases em portunhol estarão em minha memória, os seus mil beijos, suas manias de sempre ir no mesmo restaurante, sua paixão por sorvete de pistache, suas receitas diferentes", escreveu Manuela, 15, em um post no Instagram em homenagem ao avô.

Delícias gastronômicas que Barallobre compartilhava com amigos, como a atriz Mila Moreira (1946-2021), e sempre ao lado da companheira ao longo de 23 anos, a relações públicas Sônia Gonçalves.

Barallobre tinha prazer em organizar almoços sob o caramanchão da propriedade de campo, onde se despediu da vida. Na quarta-feira (22), aos 82 anos, ele sofreu um infarto durante uma temporada de descanso por lá, onde as suas cinzas também irão repousar.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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