Descrição de chapéu Chuvas no Sul Defesa Civil

Chuva eleva nível de rios, e cidades do interior do RS voltam a sofrer com enchentes

Regiões do Caí e do Taquari estão sob alerta para inundações até quarta (19); em Muçum, rio passou de 2,43 m para 15,66 m em 24 horas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Equipe de resgate em trajes laranja navega em um bote por ruas inundadas, passando por casas parcialmente submersas em água barrenta, evidenciando a gravidade da enchente que atingiu a área residencial.

Bombeiros voluntários fazem resgate de população atingida pela enchente do rio Caí em São Sebastião do Caí - Prefeitura de São Sebastião do Caí / Divulgação

São Paulo e Porto Alegre

A chuva do final de semana elevou rapidamente o nível de diversos rios, e cidades do interior do Rio Grande do Sul voltaram a sofrer com alagamentos. Centenas de moradores tiveram de sair de casa e voltar para abrigos.

Segundo a Defesa Civil gaúcha, 19 municípios reportaram danos em virtude de alagamentos, inundações e deslizamentos de terra durante o último fim de semana.

Cidades dos vales do Caí e Taquari estão sob alerta do órgão para inundações até quarta-feira (19), e a Serra e o Litoral Norte podem sofrer deslizamentos de terra.

Bombeiros voluntários fazem resgate de população atingida pela enchente do rio Caí em São Sebastião do Caí nesta segunda-feira (17) - Divulgação/Prefeitura de São Sebastião do Caí

O rio Taquari, em Estrela, marcava 12,85 metros às 7h deste domingo (16) e subiu para 22,18 metros às 7h desta segunda-feira (17). Em Muçum, ele passou dos 2,43 metros para 15,66 metros no mesmo período. O rio Caí, em São Sebastião do Caí, subiu dos 4,28 metros para 14,02 metros nesse intervalo e, às 11h, chegava a 14,58 metros.

Mais de 400 pessoas de São Sebastião do Caí foram retiradas de suas casas de caminhão de domingo para segunda. É a terceira enchente que o município enfrenta desde o fim de abril, quando teve início o fenômeno climático extremo no Rio Grande do Sul. O estado já contabiliza 176 mortes e mais de 470 municípios afetados pelas chuvas.

Além dos resgatados da madrugada, ainda há cerca de 150 pessoas em dois abrigos municipais, sem ter como voltar para casa desde a primeira cheia.

Na cidade de Três Coroas, cerca de 300 pessoas precisaram deixar suas residências no final de semana e buscar abrigos. O rio Paranhana ultrapassou a cota de inundação na noite de domingo e voltou alagar vias. Os bombeiros informaram que monitoram as encostas e outras áreas de risco. Ainda de acordo com a corporação, não é possível prever com exatidão as cotas de inundação devido as alterações dos leitos e profundidades após a cheia de maio.

Já São Luiz do Gonzaga sofre com a destruição causada no sábado (15) por uma microexplosão, que ocorre quando as nuvens não suportam mais o volume de água e despejam tudo em direção ao solo. Segundo a prefeitura, ao menos 1.200 casas foram destelhadas ou sofreram algum tipo de dano, o que afetou cerca de 15 mil pessoas. Quatrocentos moradores estão desalojados, e a prefeitura decretou situação de emergência.

De acordo com o professor Fernando Dornelles, integrante do IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o solo ainda encharcado do fenômeno climático extremo do mês passado faz com que chuvas com menores acumulados causem elevação de rios.

"É normal nesses períodos de chuvarada, de El Niño principalmente, a gente ter uma sequência de frentes frias e os rios não baixarem", diz o professor. "Evidentemente, a gente tem o agravamento disso por conta da mudança climática, e esses fenômenos vão começar a ser mais frequentes."

De acordo com Dornelles, é preciso manter a atenção nos próximos meses. "A gente não vai poder baixar a guarda ao longo desse ano todo, porque essa condição de umidade do solo consegue se reverter apenas nos períodos de verão, onde a gente tem menos precipitação e mais evapotranspiração."

O El Niño termina neste mês e abre caminho para o fenômeno La Niña, que costuma diminuir o índice de chuva na região Sul. Contudo, destaca Dornelles, o Rio Grande do Sul tem um inverno úmido e vai seguir em "condição de ameaça hidrológica pelo menos até final de setembro, outubro, que tradicionalmente são os meses mais chuvosos".

"Mesmo com a chegada do La Niña, não tem tanto que possa ser feito", diz.

O governador Eduardo Leite (PSDB) afirmou neste domingo que acompanha a situação.

"Desde a madrugada, nossa equipe da Defesa Civil estadual acompanha o município de São Luiz Gonzaga, pelo temporal ocorrido, dando suporte com lonas e materiais para evitar maiores estragos nas residências atingidas", afirmou. Segundo Leite, o governo se colocou à disposição para ajudar em tudo o que for possível emergencialmente e no suporte ao restabelecimento e reconstrução nos próximos dias.

No total, foram afetados pelas chuvas e inundações do fim de semana os seguintes municípios: Arvorezinha, Bento Gonçalves, Boqueirão do Leão, Canela, Capão da Canoa, Caxias do Sul, Coqueiro Baixo, Dom Pedro de Alcântara, Igrejinha, Mampituba, Maquiné, Pareci Novo, Parobé, Roca Sales, São Luiz Gonzaga, Rio Pardo, São Vendelino, Três Coroas, Vale Real.

No distrito de Barra do Ouro, em Maquiné, 2.000 pessoas ficaram ilhadas devido à interrupção da ERS-484 e da ERS-239.

As chuvas provocaram o desabamento do salão da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, um ponto de peregrinação de romeiros em Dom Pedro de Alcântara, no litoral norte do estado.

O salão desabou no domingo à tarde após um deslizamento de terra. Duas pessoas sofreram ferimentos leves. Fiéis que assistiam a uma missa no local conseguiram sair antes do desabamento.

Em Canela, a chuva forte causou a queda de barreiras em pontos da rodovia Arnaldo Oppitz, que foi parcialmente bloqueada por motivo de segurança. Três escolas tiveram as aulas suspensas.

Também em Bento Gonçalves foram registrados deslizamentos, alagamentos e bloqueio de vias no último domingo.

De acordo com a Prefeitura de São Leopoldo, uma das cidades mais atingidas pela enchente do Sinos em maio, há equipes em prontidão para exercer o plano de contingência contra as chuvas. O alerta na cidade segue até a terça (18).

Entre as cidades com mais chuvas neste final de semana no estado está Caxias do Sul, que teve 57,2 mm de chuva de sábado para domingo e 107 mm na aferição de domingo para segunda (17), segundo dados do Inmet. A cidade, a segunda maior do estado do Rio Grande do Sul, já tem 171,7 mm de chuva registrado neste mês –acima da média histórica do município no período, que é de 146,7 mm.

Serafina Corrêa, cidade da região da Serra Gaúcha, também enfrentou enchentes e somou 217,8 mm entre sábado e segunda, de acordo com o Inmet. Vídeo divulgado nas redes sociais registrou o arroio Feijão Cru, córrego que atravessa a cidade, alagando a região central.

Colaborou Matheus R. dos Santos, de São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.