Indígenas levam visibilidade de povos originários à Parada LGBT+ em São Paulo

Jovens lembrarão, no evento, a história de vítima de homofobia no Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O primeiro indígena executado, no Brasil, por conta de sua orientação sexual será lembrado na Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, neste domingo (2). Do povo tupinambá, Tybyra foi perseguido pela Igreja Católica, no período da colonização, e condenado à morte por práticas homossexuais. O caso aconteceu no Maranhão em meados do século 17, conforme a história.

Hoje, indígenas LGBTQIA+ de diferentes etnias atuam para manter viva a memória de Tybyra e lembrar que o preconceito chegou ao território brasileiro com as caravelas, segundo o cientista político Danilo Tupinikim, 24, pertencente à aldeia Caieiras Velha, localizada em Aracruz (ES).

"Participar da parada LGBT+ de São Paulo é um momento de luta. Trazer a nossa presença para esses espaços é uma forma de reforçar a nossa existência, para falar sobre o que nós existimos também. É um momento de visibilidade, de articulações", disse.

Um rapaz indígena com cocar colorido na cabeça, segura a bandeira do arco-íris, símbolo do orgulho LGBTQIA+. Ele usa uma camisa preta. No fundo, o céu noturno.
Indígena da etinia Boe Bororo segura bandeira do arco-íris, símbolo do Orgulho LGBTQIA+, durante programação cultural no Acampamento Terra Livre - Lucas Borobó - 24.abr.2024/Folhapress

Com expectativa de discursar em um dos trios elétricos do evento, Tupinikim participará pela primeira vez da Parada LGBT+ de São Paulo como representante do coletivo Tybyra, criado por ele e outros indígenas em 2019 para acolher vítimas de preconceito, além de debater políticas públicas e denunciar casos de violência relacionados a LGBTIfobia.

Atualmente na secretaria-executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), maior entidade de luta pelos direitos dos povos originários do país, o jovem cientista político diz que está na linha de frente de pautas como a demarcação de terras e outras questões coletivas.

"Resolvemos criar esse coletivo como forma de trazer visibilidade e acolhimento entre a gente, porque não sentimos pertencimento na comunidade LGBT (não indígena), então trazemos esse recorte indígena para dentro do movimento", afirmou.

De Brasília, o líder indígena e estudante de sociologia na UnB (Universidade de Brasília) Fetxawewe Tapuya Guajajara, 25, também participará pela primeira vez da Parada na capital paulista.

"Acredito que participar da parada, a maior do mundo, enquanto indígena, é muito importante. Nós, estudantes indígenas LGBT da UnB, abrimos a parada LGBT de Brasília, no ano passado para falar sobre a importância de nos juntarmos com o movimento LGBT nacional não indígena."

Guajajara nasceu no Santuário Sagrado dos Pajés, o primeiro território indígena reconhecido no Distrito Federal. Ele afirma que os povos têm modos de vidas diferentes, de acordo com suas regiões e etnias – tema, que, segundo ele, ainda não é compreendido pelas pessoas não indígenas.

"Nós indígenas precisamos ocupar esses espaços e dialogar com os não indígenas, principalmente para eles conhecerem as nossas demandas e entender que a sigla LGBTQIA+ não contempla os nossos corpos, nossa sexualidade e nossa espiritualidade por completo", afirmou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.