Bolsonarista anticlima nacionaliza eleição na cidade da COP e incomoda aliados de Lula

Crítico das previsões do aquecimento global, Éder Mauro é lançado por Bolsonaro em Belém e minimiza conferência da ONU em 2025

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Brasília

A pré-candidatura do deputado federal Éder Mauro (PL-PA) à Prefeitura de Belém virou motivo de incômodo para integrantes da ala ambiental dos governos Lula (PT) e Helder Barbalho (MDB) devido à COP30, a conferência mundial para clima da ONU (Organizações das Nações Unidas) prevista para ser realizada na capital paraense em 2025.

O deputado Éder Mauro, durante entrevista

Mauro, lançado oficialmente no final de semana em ato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e liderando pesquisas preliminares, é integrante da bancada do garimpo, crítico de operações contra crimes ambientais e vê "exagero" nas previsões do aquecimento global.

O deputado tem como uma de suas principais bandeiras a segurança pública. Não esconde ter matado "muita gente" quando delegado da Polícia Civil paraense —ele se defende dizendo que eram bandidos e que nunca foi condenado nem processado por corrupção.

Se eleito, afirma que pretende utilizar os recursos da COP para investir em turismo e infraestrutura e admite não ser "adepto" das pautas debatidas no evento climático.

"Acredito que, por uma questão formal, o prefeito tem que estar presente. Queiram eles ou não, vão ter que convidar o prefeito. Eu vou sentar para conversar para tratar o assunto", afirma.

No Congresso, Mauro se envolveu em diversas brigas com parlamentares de esquerda, a mais recente com André Janones (Avante) no Conselho de Ética —caso que fez o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), mudar o regimento para punir esse tipo de episódio.

Ele enfrentará as forças políticas tanto do presidente Lula como do governador Helder Barbalho, um dos principais aliados do petista.

Trazer a COP para o Brasil foi um dos trunfos de Lula na agenda ambiental e internacional.

O Pará é considerado uma síntese da Amazônia, inclusive por suas contradições: enquanto é o segundo maior estado do bioma, também viveu, durante o governo Bolsonaro, a explosão da agropecuária e de garimpos ilegais, e liderou os índices de desmatamento do país.

Uma COP no meio da Amazônia foi um dos argumentos de Lula na negociação com a ONU —duas pessoas envolvidas nas conversas diplomáticas afirmaram, sob reserva, que alguns países europeus condicionaram seu voto ao Brasil à realização da conferência dentro da floresta.

Com o Norte governado sobretudo por políticos bolsonaristas, a escolha foi o Pará de Helder Barbalho, especulado como seu possível vice nas eleições de 2026.

Desde a escolha oficial como sede da COP, Belém já recebeu uma cúpula de países amazônicos e a visita do presidente da França, Emmanuel Macron. Por isso, a presença de Éder Mauro faz o pleito ganhar importância nacional.

Bolsonaro esteve em Belém no domingo (30) no lançamento oficial da pré-candidatura do deputado e ressaltou a importância do pleito municipal para todo o país.

"Para chegar em 2026, temos que passar por 2024", disse o ex-presidente, em referência às eleições presidenciais que acontecem em dois anos e para as quais ele atualmente está inelegível.

O pleito municipal deste ano deve ser mais um capítulo da disputa entre Lula e os Barbalho, de um lado, e Bolsonaro, do outro.

Em 2022, o atual governador foi reeleito no primeiro turno contra o bolsonarista Zequinha Marinho (Podemos-PA), que agora é um dos principais aliados de Mauro.

Antes, há quatro anos, a disputa pela prefeitura acabou no segundo turno, com vitória apertada (51%) de Edmilson Rodrigues (PSOL), apoiado por Lula, sobre Delegado Ecchi (Patriota), endossado por Bolsonaro.

Desde então, a popularidade de Rodrigues despencou, sobretudo em razão da crise na coleta de lixo da cidade —em pesquisas preliminares, chega a aparecer em terceiro lugar, atrás de Mauro e também de Igor Normando (MDB), ex-secretário estadual que tem apoio de Barbalho.

A equipe de Barbalho diz que o nome de Normando foi escolhido recentemente, e a tendência é que ele ainda cresça com impulso do governador.

Já Mauro afirma estar preparado para uma campanha de todos contra um, diante de uma possível união entre petistas e emedebistas.

O deputado compara o cenário ao da União Europeia, na qual a extrema direita ganhou força nas últimas eleições. Segundo ele, é uma mostra de que a população "não está preocupada com esses temas, como ideologia e questões climáticas".

Mauro também defende a exploração com grandes hotéis do arquipélago fluvial da região insular de Belém. A área é ocupada por comunidades tradicionais e abriga a turística ilha do Combu.

Questionado sobre sua opinião acerca da conferência climática, Mauro divide sua resposta. "Como deputado", diz, "não estou nem um pouco preocupado com a questão".

Já como candidato: "Com o tema em si não me preocupo muito; me preocupo com a cidade", afirma, citando a oportunidade de atração de recursos e as obras necessárias para receber o megaevento. Até porque, segundo ele, a grande parte das pessoas que comparecem à COP "vai para passear".

O atual deputado corrobora críticas sobre a cidade não ter capacidade para receber as 50 mil pessoas que se espera no evento.

As dúvidas acerca da viabilidade de Belém fizeram o governo Lula cogitar fatiar a conferência e transferir parte das agendas para outras cidades com maior infraestrutura.

Já os organizadores do governo estadual projetam hospedar boa parte dos presentes em cruzeiros de luxo no rio Guajará e em aluguéis por temporada, como Airbnb.

Mauro diz que seguirá defendendo as suas pautas e usa os termos "extrapolar" e "covardia" para definir operações contra crimes ambientais —por exemplo, ações do governo federal contra invasores de terras indígenas.

Afirma que não irá fugir da COP, mas evidencia o contraste de ponto de vista com os ambientalistas quando dá sua opinião sobre a causa das enchentes que há anos acontecem no centro da cidade —para ele, falta de limpeza dos canais de água e reformas nas comportas.

"Não tem absolutamente nada essa questão do aquecimento global e do desmatamento com as enchentes que acontecem em Belém", diz.

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