Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Tragédia ambiental destrói casas, vinícola e plantações no interior do RS

Famílias tentam reconstrução após chuva na região de Santa Maria

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Santa Maria (RS) e Silveira Martins (RS)

Cada momento da tragédia vivida com as chuvas no Rio Grande do Sul está marcado na memória do enólogo Rafael Torri, 38. No início de maio, as duas casas e a vinícola da família desmoronaram em uma propriedade rural da localidade de Val Feltrina, no município gaúcho de Silveira Martins (a 290 km de Porto Alegre).

"Na primeira noite, estava ali na frente e, a cada vez que escutava um ‘plim’, pensava: ‘caiu alguma coisa, perdi tal coisa’", lembra.

Segundo Torri, as construções caíram com a movimentação do solo em meio a fortes chuvas na região. Pouco mais de um mês após a tragédia ambiental, a família tenta salvar equipamentos para construir uma nova sede para a vinícola em outra área. As casas também serão mudadas de endereço.

Rafael Torri (à direita) posa para foto ao lado do seu pai, Arnaldo Torri (à esquerda); eles estão na área em que ficavam as casas e uma vinícola da família no interior de Silveira Martins (RS) - Anselmo Cunha/Folhapress

Silveira Martins tem 2.028 habitantes e fica ao lado de Santa Maria, a quinta cidade mais populosa do Rio Grande do Sul, com 271,7 mil moradores.

"Garanto que, no futuro, a gente vai vir seguidamente aqui e ver alguma coisa que foi nossa, um barbeador, algum instrumento musical", afirma Torri diante dos escombros de uma das moradias.

Casos como o do enólogo se repetem no interior do estado. Após as fortes chuvas do início de maio, famílias afetadas tentam salvar o que restou das propriedades ou reconstruir o que ainda é possível.

No caso dos Torri, o prejuízo total estimado é de R$ 1,2 milhão a R$ 1,3 milhão. O enólogo toca a vinícola da família, chamada Vinhos Val Feltrina, com o apoio dos pais –não há funcionários.

Antes da tragédia, a empresa fabricava em torno de 30 mil litros de suco de uva e 20 mil litros de vinho por ano. O plano é reduzir a produção, que deve ser direcionada apenas para os vinhos, quando as atividades forem retomadas.

De acordo com Torri, o preparo do suco requer maquinário mais tecnológico, e esse mercado está mais saturado. O enólogo entende que o pequeno produtor precisará de crédito subsidiado para enfrentar a crise.

Enquanto a ajuda não chega, a família conta com a solidariedade de pessoas que fizeram doações nas últimas semanas. Torri afirma que, inicialmente, até relutava em aceitar o auxílio via Pix, mas mudou de opinião devido à gravidade da situação.

"Depois de um tempo, a gente perde o orgulho, até porque a gente perdeu praticamente tudo."

No distrito vizinho de Arroio Grande, em Santa Maria, as fortes chuvas elevaram o nível de arroios no mês passado. A propriedade da família do aposentado Luiz Fernando Noal, 65, foi atingida.

A água chegou até a janela da casa onde a mãe dele vivia e também derrubou um moinho que, no passado, produzia farinha de milho. A enchente ainda levou montes de areia para o endereço.

"A gente vê mesa e outros materiais indo embora sem poder fazer nada, mas a gente está bem. O maior culpado disso tudo é o homem", diz Noal, que mora na cidade de Santa Maria.

Com o trauma, ele levou sua mãe para viver longe da propriedade rural. "Ela tem 90 anos. Sem condições de ficar aqui", diz.

Após a enchente, Noal passou a limpar a propriedade e já refez parte das estruturas danificadas, como as cercas. A limpeza e os consertos, contudo, só devem ser concluídos no final deste ano, segundo ele.

Na terra de Adalmir Noal, 76, seu primo, as fortes chuvas comprometeram cerca de 50% da produção de arroz, que é cultivada em 20 hectares.

"Para reverter o prejuízo, a gente vai levar uns cinco anos", diz o agricultor, que tinha a ajuda do filho para fazer consertos na propriedade durante a manhã deste sábado (8).

Também em Arroio Grande, o comerciante Edson Ângelo Del Fabro, 60, amargou queda no número de clientes em seu bar e armazém nas últimas semanas.

A baixa esteve associada a gargalos logísticos criados pelas fortes chuvas, como os estragos em pontes da região. "Ficamos praticamente ilhados", conta Del Fabro.

Ele espera uma melhora no quadro em breve, já que a infraestrutura local passou por reconstrução. O comerciante aposta no retorno de ciclistas que costumavam circular por Arroio Grande.

"Tem aqueles que vêm [da região central] de Santa Maria, passam aqui e param para tomar um refri, uma água", diz.

Conforme relatório recente do governo estadual, o Rio Grande do Sul teve em torno de 206 mil propriedades rurais afetadas pelas chuvas desde o final de abril.

O cálculo abrange perdas na produção e na infraestrutura com inundações e deslizamentos. Ainda de acordo com o documento, 34,5 mil famílias ficaram sem acesso à água potável no meio rural.

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