Descrição de chapéu violência

Operação policial em dez comunidades prende 28 no Rio de Janeiro

Objetivo é combater exploração ilegal de serviços e enfraquecer braço financeiro de facções e milícias

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Rio de Janeiro e São Paulo

Vinte e oito pessoas foram presas nesta segunda-feira (15) durante ação das forças de segurança do Rio de Janeiro em dez comunidades de seis bairros da zona oeste. A operação visa enfraquecer o braço financeiro das facções e as disputas violentas entre grupos criminosos formados por traficantes e milicianos. Quatro adolescentes também foram apreendidos.

A ação policial é realizada em Cidade de Deus, Gardênia Azul, Rio das Pedras, Morro do Banco, Fontela, Muzema, Tijuquinha, Sítio do Pai João, Terreirão e César Maia. Dessas, somente Rio das Pedras tem forte influência da milícia, sendo o berço delas no estado. As outras são dominadas por traficantes do Comando Vermelho. Não há relatos de feridos.

Batizada de Ordo, que significa ordem, a operação conta com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e de concessionárias de energia, água, gás e saneamento, além de operadoras de serviços de telecomunicações e Guarda Municipal.

Policiais durante operação na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (15) - Eduardo Anizelli/Folhapress

As concessionárias estão ajudando a identificar furtos e desvios de serviços públicos, diz o governo. Alguns serviços, como oferta de sinal de internet, são explorados pelos próprios criminosos.

As comunidades alvo da operação ficam em Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Recreio, Itanhangá, Vargem Grande e Vargem Pequena. Há grande contingente policial nos principais eixos viários desses bairros.

Foram apreendidos 130 kg de drogas, o que representa um prejuízo de cerca de R$ 160 mil ao tráfico, segundo o governo do estado.

O governador Cláudio Castro (PL) acompanhou a saída de tropas das polícias Civil e Militar para a ação, além de agentes do programa Segurança Presente e da Seap (Divisão de Recaptura e de Inteligência).

"A ideia seria combater a lavagem de dinheiro, combater o crime organizado, e por isso chamamos as concessionárias para dentro da ação", disse Castro em entrevista coletiva no início da tarde.

"Hoje vimos o roubo de água, de energia, de gás. Notório, que a questão do gás é uma questão complicada, as telefonias também estão dentro conosco, sobretudo por causa do 'gatonet' e também de roubos e furtos de celulares", acrescentou.

O governador também criticou o vazamento de informações e disse que os responsáveis serão punidos.

"É óbvio que isso [vazamento], além de deixar a gente triste, irrita profundamente, porque são os servidores que deveriam estar do lado da lei e estão desvirtuados. Vamos achar e vamos punir severamente aquele que deveria estar do nosso lado e está perto para coletar informação."

Castro afirmou que a operação foi realizada nesta segunda-feira devido ao período de férias escolares. Ele também disse que ligou para o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), para relatar o plano conforme a ADPF 635 (ADPF das Favelas), que restringiu a realização de operações policiais nas comunidades.

A operação envolve 2.000 policiais, que vão atuar nas comunidades por tempo indeterminado. O objetivo, segundo o governo, é identificar, investigar e prender criminosos.

Também são empregados 300 veículos, 37 motocicletas e dois helicópteros apoiados por aparato tecnológico, como drones com câmera de reconhecimento facial e de leitura de placas. Além disso, o Centro Integrado de Comando e Controle Móvel foi instalado ao lado da base do Barra Presente, na avenida Ayrton Senna.

Nas primeiras horas da operação, os policiais apreenderam um carro no qual havia três granadas, encontrado na Linha Amarela após a fuga de criminosos. Também foram apreendidos uma pistola 9 mm, 102 porções de maconha e dinheiro em espécie.

Além disso, uma fábrica de gelo foi autuada por poluição do solo —com vazamento de óleo direto para rede de esgoto— na Cidade de Deus, e a polícia afirma que o estabelecimento também furtava água.

"Não vamos recuar até que cada cidadão possa viver sem medo. O estado do Rio tem dono, e é a população fluminense", afirmou o governador.

Conforme a Folha mostrou, de acordo com investigadores, o Comando Vermelho quer criar uma espécie de "cinturão" entre a Baixada Fluminense, a zona norte e a zona oeste. Para isso, disputa as áreas antes controladas por milicianos e pela facção criminosa TCP.

Atualmente há cinco grandes regiões em conflito: Barra da Tijuca, Jacarepaguá, ambos na zona oeste; Penha, na zona norte; e Nova Iguaçu e Queimados, na Baixada Fluminense.

A polícia afirma que Edgar Alves, o Doca, apontado como um dos chefes mais antigos do Comando Vermelho, planeja desde janeiro de 2023 a expansão do grupo, após perceber um enfraquecimento da milícia que atua na região. A reportagem não conseguiu contato com Doca, que não tem advogado.

Investigadores afirmam que hoje não há diferença na forma de atuar de traficantes e milicianos —ambos cobram taxas de moradores e vendem drogas. Apurações das polícias Civil e Militar apontam, contudo, maior envolvimento de agentes públicos com milicianos do que com traficantes.

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