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Turistas da região Sul mantêm vivos Gramado e Vale dos Vinhedos

Enquanto aguardam voos, comerciantes recebem visitantes de Paraná, Santa Catarina e da capital gaúcha

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Gramado e Bento Gonçalves

Destino de frio mais procurado do Brasil, segundo divulgou o site de reservas Booking.com no ano passado, Gramado bateu um recorde de 8 milhões de visitantes de todo o Brasil em 2023. Hoje, no entanto, após as cheias que atingiram o estado no início de maio, quem vem segurando as pontas e ajudando na reconstrução do turismo são os turistas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

O mesmo acontece no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, uma estradinha pitoresca que reúne dezenas de vinícolas, restaurantes, pousadas e lojas de quitutes. Os visitantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro simplesmente não estão conseguindo chegar devido à paralisação do aeroporto Salgado Filho, de Porto Alegre, cuja retomada está prevista para o final de dezembro.

Gabriel Lemos de Azambuja e Thaiane Schaun Ferreira com a filha Maitê entre as parreiras da vinícola familiar Torcello, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS) - Carlos Macedo/Folhapress

"O que nós estamos vendo aqui é principalmente pessoal do Rio Grande do Sul mesmo. Depois, gente de Santa Catarina e, em menor número, do Paraná. É o pessoal que consegue chegar de carro", diz o gerente do hotel Sky Gramado, Amarildo Garcia da Rosa.

Dos oito hotéis da rede Sky na região, apenas dois ficaram abertos em maio. Em junho, quando a lotação deveria estar esgotada aos finais de semana e com 70% de ocupação nos dias da semana, ele diz que as taxas caíram para 50% e 15%, respectivamente.

Buscando uma recuperação, a rede criou a diária solidária, baixando de cerca de R$ 350 para R$ 150 a noite para o casal, que deve levar um quilo de alimento. A promoção vale de domingo a quinta em cinco hotéis da rede.

"Adiantou pouca coisa", revela Rosa. "Mas não estamos esperando melhorar mais do que está agora até o fim do ano." Mesmo assim, estacionar continua sendo quase impossível nas ruas principais de Gramado.

No restaurante caseiro Empório da Colônia, Vilmar Benetti já chegou a alimentar 400 pessoas, com uma média de 200 ao dia. "Outro dia coloquei na churrasqueira costelão, cupim, ponta de peito, maminha, fraldão, porco, galeto e salsichão. Atendi seis pessoas", lamenta.

Vindos de Porto Alegre para comer fondue, Juliane Wolff, Eric Homem, Rafaela Lima e Kelen Selau tomam chimarrão no Lago Negro de Gramado (RS) - Carlos Macedo/Folhapress

No bucólico Lago Negro, Juliane Wolff, Kelen Selau, Rafaela Lima e Eric Homem não queriam saber de comida caseira. Eles observavam pedalinhos e se preparavam para comer a seleção de fondue, grande hit da cidade. E não precisaram viajar de tão longe para isso. Estavam a cerca de uma hora e meia de Sapucaia do Sul, na Grande Porto Alegre.

"A dica é não comer brócolis e batata, que eles colocam antes, e reservar espaço para as carnes e chocolates", ensina Wolff.

Presidente da Gramadotur, autarquia responsável pelos eventos públicos de turismo e cultura na cidade, Rosa Helena Volk afirma que está buscando alternativas para trazer os 200 convidados que o Festival de Cinema de Gramado aguarda.

"Conversei sobre aviões fretados com as operadoras de turismo e também pedi o auxílio da FAB em relação ao aeroporto de Canoas", diz ela. Dos 148 voos diários que o Salgado Filho recebia, a região conseguiu absorver só 16%, segundo levantamento da Folha.

A distância da capital gaúcha para o Vale dos Vinhedos é semelhante, ainda que algumas obras nas estradas possam atrasar um pouco a viagem.

"Tivemos uma melhora nos últimos dias, com bastante gente de RS, SC e PR. O que prejudica é a questão do aeroporto", diz Guilherme Valduga, sommelier do grupo Valduga, na vila que reúne pousada, restaurante, bar, loja, cursos, experiências e vinhedos.

Em sábados de alta temporada, ele diz receber de 300 a 400 pessoas. "Mas na segunda-feira, entraram quatro pessoas. Hoje temos 80 e as reservas para julho estão aumentando, afirma.

Turostas na vinícola Valduga, no Vale dos Vinhedos, que teve apenas quatro visitantes em uma segunda-feira recente - Carlos Macedo/Folhapress

Uma das unidades da vinícola Aurora, que deveria estar recebendo até 200 pessoas por dia para degustações de vinho, viu o movimento cair para 50.

Na pequena Torcello, recebiam-se 50 e agora aparece apenas a metade dos visitantes. "É Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná", conta a atendente Ana Paula, na loja do local. Para melhorar, a vinícola está dando 30% de desconto para as deferentes degustações, que variam entre R$ 90 e R$ 140.

Por entre as parreiras de merlot da Torcello, lá estava a pequena Maitê, 2, correndo, dando canseira em seus pais. É a terceira vez que Gabriel Lemos de Azambuja e Thaiane Schaun Ferreira estão na vinícola, pois, quando se conheceram, há sete anos, esse foi o primeiro passeio que fizeram juntos.

O mestre queijeiro Enio Martin Biancho, produtor de dez tipos do laticínio, cujas vendas são 99% para turistas do Vale dos Vinhedos - Carlos Macedo/Folhapress

Quase em frente, do outro lado da estrada, pode-se entrar nos domínios do mestre queijeiro Enio Martin Biancho, produtor de dez tipos do laticínio usando 500 litros de leite a cada dia.

Biancho conta que 99% de seus queijos premiados, da marca Valbrenta, são comprados por turistas. "Fechamos a queijaria por um mês. Parece que o capeta caiu em cima do Rio Grande do Sul", brinca.

Mas, como a Maria Fumaça da região havia voltado a funcionar neste sábado (22), ele havia recebido alguns grupos maiores, talvez umas 70 pessoas, calcula. Ainda longe dos usuais 150.

No Restaurante di Bartolomeu, que se mudou há seis meses da estrada principal para uma casa mais afastada, o proprietário Douglas Bertamoni diz que os clientes não sulistas são apenas 25% de sua clientela atual. "Antes, 90% eram desses outros estados", afirma.

Douglas Bertamoni, proprietário do Ristorante di Bartolomeu, no Vale dos Vinhedos, que teve clientela de outros estados reduzida de 90% para 25% - Carlos Macedo/Folhapress

O gerente operacional do hotel Villa Michelon, Leandro Jose Giordani, conta que sua ocupação neste mês é de 60% em geral. "Vamos ter uma média de 25%. Nossos eventos empresariais de maio e junho foram todos adiados e alguns estão indo para o Nordeste", diz Giordani.

"É uma cadeia muito sensível. O avião não chega, e isso vai repercutindo por toda a economia. Está sendo pior que a pandemia. Sabe qual foi nossa ocupação de maio? Foi de 3,5%. Mas somos otimistas no geral. O vale não está destruído, como alguns pensam. Podem vir conferir."

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