Descrição de chapéu acidente aéreo

Investigadores extraíram todos os dados de caixa-preta de avião; 8 corpos devem ser liberados neste domingo

Força Aérea Brasileira apura caso com apoio de agências da França e do Canadá

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Vinhedo (SP) e São Paulo

O órgão da Força Aérea Brasileira responsável pela investigação sobre a queda do voo 2238 da companhia Voepass anunciou neste domingo (11) ter extraído com sucesso 100% dos dados das caixas pretas da aeronave. A apuração das causas da tragédia também passou a contar com inquérito conduzido pala Polícia Civil paulista.

Paralelamente, a força-tarefa criada para atuar no caso já identificou 12 vítimas e tinha a expectativa de liberar oito corpos para familiares até o fim da noite deste domingo.

O modelo ATR 72-500 caiu na tarde de sexta-feira (9) dentro de um condomínio residencial na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, no trajeto entre Cascavel (PR) a Guarulhos (SP). Estavam a bordo 62 pessoas, sendo 58 passageiros e 4 tripulantes. Não houve sobreviventes. Inicialmente, a companhia aérea havia contado 61 vítimas, mas corrigiu o número para 62.

Destroços do avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP), a 79 km da capital, nesta sexta-feira (9) - Bruno Santos/Folhapress

Com os primeiras registros das caixas-pretas, o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) confirmou a ausência de comunicação entre o piloto e a torre de controle. Caberá à investigação descobrir o porquê.

Existem dois gravadores de voo, mais conhecidos como caixas-pretas. Eles têm diferentes funções. O primeiro, identificado pela sigla em inglês CVR (Cockpit Voice Recorder), registra o que foi conversado na cabine. O outro, o FDR (Flight Data Recorder), anota dados do voo, como altitude, meteorologia e velocidade.

"Toda a gravação das duas caixas pretas, de voz e de dados, foram codificadas com sucesso", afirmou o brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa.

Relatório preliminar sobre a ocorrência deverá ser concluído em 30 dias, informou o Cenipa ainda no sábado (10). O órgão destacou que não há a possibilidade encurtar o prazo devido a protocolos internacionais para acidentes aéreos.

"Seguindo esses protocolos, temos por dever convidar os países envolvidos na fabricação dessa aeronave", complementou Moreno.

A Agência Francesa BEA (equivalente ao Cenipa) esteve no local na manhã deste domingo para integrar a investigação. O ATR 72-500 é de fabricação francesa.

A Força Aérea brasileira também aguarda a chegada da agência canadense TSB, que deve apurar se no momento da queda os dois motores da aeronave tinham potência adequada para voar —os equipamentos são canadenses.

Até que todos os órgãos concluam suas respectivas atribuições, o local seguirá interditado. Há receio de que a remoção rápida dos destroços prejudique a apuração.

A Delegacia de Vinhedo também instaurou inquérito para buscar respostas sobre as causas do acidente. Diligências conduzidas pela Polícia Civil já estão em curso, divulgou neste domingo a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). A Polícia Federal também investiga o caso.

Prestam apoio na preservação da área da tragédia agentes penitenciários da região de Campinas (SP) que operam equipamentos antidrone. Segundo o governo estadual, o auxílio foi necessário para impedir que drones não autorizados sobrevoem a região.

Parte dos destroços permanece no local sob responsabilidade, mas os motores começaram a ser removidos na noite deste domingo. Eles seguirão para análise na sede do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, na capital.

Após o fim do resgate dos corpos na noite de sábado e com todos transferidos para o IML (Instituto Médico-Legal) na capital paulista, a força-tarefa envolvendo diversos órgãos públicos concentra esforços na liberação dos restos mortais das vítimas para seus parentes.

Até a tarde deste domingo (11), um corpo havia sido entregue para sua família. A expectativa, segundo o governo estadual, era de que o mesmo ocorresse com outros sete até o fim do dia.

Além disso, o número de vítimas identificadas subiu para 12. Com exceção do piloto, Danilo Santos Romano, e do copiloto, Humberto de Campos Alencar e Silva, não se sabe o nome das demais identificados. Em nota, o governo afirmou que as informações fornecidas primeiro às famílias.

Outras vítimas estão em processo encaminhado de reconhecimento. Dados sobre elas já foram catalogadas pela polícia científica, que compara detalhes verificados na perícia com o que é passado por familiares. Características físicas, tatuagens e marcas de cirurgia, por exemplo, colaboram para a confirmação das identidades.

Cerca de 40 famílias de vítimas já prestaram informações para subsidiar o trabalho do IML. Parentes diretos forneceram também material biológico.

Outros 17 familiares foram atendidos em Cascavel (PR) e a documentação deles era esperada ainda neste domingo (11) em Guarulhos, na Grande São Paulo.

O IML Central foi direcionado para atender exclusivamente o caso. Atuam na unidade aproximadamente 40 profissionais, entre médicos, equipes de odontologia legal, antropologia e radiologia.

É difícil e minucioso o trabalho realizado pelos peritos em razão do impacto e da explosão que sucedeu a queda. Muitos corpos estão queimados, segundo o capitão Roberto Farina, da Defesa Civil de São Paulo.

Apesar do avanço relativamente rápido neste primeiro dia dedicado às identificações, o trabalho tende a ficar mais difícil quanto aos corpos resgatados por último. Eles estavam nas partes central e traseira da aeronave, que foram mais atingidas pelo fogo e também estavam mais prensadas contra o solo.

Parentes de uma vítima conversaram com a reportagem nas proximidades do IML neste domingo e criticaram a Voepass e a Latam, que vendeu as passagens.

"Vi minha filha queimar ao vivo na televisão", disse Fátima Albuquerque, 66, mãe de Arianne Risso, 34, morta no voo 2283.

Ela pede responsabilização das companhias e diz que as famílias das vítimas estão sendo impedidas de falar. "Não vou me calar. Essas pessoas têm nome, têm história, e eu preciso lutar pela da minha filha", disse.

A Latam afirmou que todas as pessoas que compram passagem em seu site são informadas se o voo é operado por outra companhia.

Imagens feitas por moradores mostram o avião em queda vertical, quase sem deslocamento horizontal, embora o barulho dos motores indicasse que o equipamento estava funcionando.

A perda de sustentação num movimento chamado de "parafuso chato" e informações meteorológicas levaram especialistas a suspeitarem de que o acúmulo de gelo nas asas tenha provocado a queda. A Voepass afirma, porém, que tudo o que tem sido dito é especulação.

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