Descrição de chapéu Obituário Aline Porcina de Souza Sobral (1976 - 2024)

Mortes: Criou coletivo e ajudou afegãos no aeroporto de Guarulhos

Aline Sobral mobilizou doações, deu aulas de português e pressionou por acolhimento de refugiados

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São Paulo

A chegada de refugiados afegãos ao aeroporto de Guarulhos, acelerada a partir de abril de 2022, sensibilizou pela situação grave das dezenas de famílias que dormiam no mezanino do terminal 2.

Além de doações de comida e itens de higiene, voluntários perceberam a necessidade de pressionar governos para algum tipo de solução mais perene, como oferta de vagas em abrigos ou hotéis.

Foi assim que Swany Zenobini, 31, conheceu Aline Sobral. "Ela estava com um grupo de pessoas e veio falar comigo. Muito simpática e sempre de [véu] niqab", conta Swany. "Como não víamos seu rosto, ela fazia questão de se comunicar bem para que a conhecêssemos."

A imagem mostra uma mulher vestindo uma abaya (peça de roupa solta que se assemelha a vestido) e um niqab (véu que cobre todo o rosto, o pescoço e a cabeça, deixando apenas os olhos à mostra), em pé ao lado de um quadro branco. O quadro contém anotações e gráficos escritos à mão, com várias informações visíveis. A pessoa está segurando canetas parece estar apresentando ou explicando algo.
Aline Sobral (1976 - 2024) - Arquivo pessoal

Com a repercussão da situação dos afegãos, diz a amiga, Aline montou um grupo no aplicativo WhatsApp para organizar o cotidiano de recebimento de doações que se tornou o Coletivo Frente Afegã. O grupo também promoveu aulas de português e deixou, segundo ativistas, uma semente para outros projetos.

Aline continuou a se dedicar à iniciativa mesmo quando passou por dificuldades financeiras. "Ela trabalhava com entregas, mas usava o carro para buscar doação, levar cobertores. Parava de resolver a vida para fazer o necessário para o outro", diz Ana Paula Oliveira, 40, que participou do coletivo e hoje preside a Arro (Organização de Resgate de Refugiados Afegãos).

A veia ativista e o dom para o cuidado vinham de muito antes. Natural do Recife, Aline participou do movimento estudantil durante a graduação em ciências sociais na Universidade Federal Rural de Pernambuco, no início dos anos 2000.

Foi durante o trabalho de conclusão de curso, sobre o islamismo no Nordeste do Brasil, que ela conheceu aquele que um dia seria seu marido, Hosnir Henrique Pereira Simões Badawi, 48, no Centro Islâmico do Recife. Ela havia ido ao local para buscar material de pesquisa. "Acabei testemunhando o início dela no islã, porque quando ela voltou, disse que era para entrar para a religião."

Ambos ainda teriam dois casamentos antes de ficarem juntos, em 2011. Hosnir conta que, na juventude, sonhou com uma mulher de quem só via os olhos. Mais tarde, teve certeza de que eram de Aline.

Viveram em Caruaru (PE) e criaram em casa um pequeno centro para reunir muçulmanos, ajudando a difundir a religião, e há dez anos se mudaram para Franco da Rocha, na Grande São Paulo. Aline continuou a desenvolver projetos sociais, com foco na capacitação profissional de mulheres, e foi conselheira tutelar no município.

Ela morreu em 3 de julho, aos 47 anos, por uma parada cardiorrespiratória em decorrência de um acidente vascular cerebral. Deixa o marido e os filhos Victor Sobral, 32, e Yago Sobral, 28, do primeiro casamento, e Samory Touré, 16, e Amy Touré, 15, do segundo.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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