Descrição de chapéu Obituário José dos Anjos Augusto (1944 - 2024)

Mortes: Seu projeto de vida foi investir na educação dos filhos

Amigo 'pau pra toda obra', José dos Anjos Augusto fez questão de dar aos filhos o estudo que não teve

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Alex Augusto
São Paulo

Um dos sete filhos de Antonio Augusto e Cremildes Augusto, José dos Anjos Augusto, o Zelão, nasceu em 1944 no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo, numa época em que, como costumava dizer, a famosa avenida Paes de Barros ainda era um caminho de terra para as carroças que ele frequentava com seu pai, e depois seu padrinho, vendendo verduras.

A infância na Mooca foi correndo atrás de balões nos telhados. Ainda muito novo (7 anos) perdeu o pai e foi buscar nas ruas, junto aos irmãos mais velhos, o sustento da família. Não pôde estudar, mas a escola da vida o tornaria um professor exemplar.

Aos 18, teve que ir para Brasília servir ao Exército, onde se tornaria campeão de corrida pelo seu batalhão. "Eu treinava de bota para depois voar na pista..." Incentivado a seguir carreira no esporte, abandonou a ideia e voltou para ajudar a família.

A imagem em preto e branco mostra um homem mais velho, com cabelo grisalho, inclinado sobre uma mesa, observando atentamente um menino que está à sua frente. O menino, com cabelo curto e castanho, parece estar interagindo com um objeto na mesa. Ambos estão concentrados na atividade
José dos Anjos Augusto (1944 - 2024) e o neto Enzo - Arquivo pessoal

Alguns anos depois, no fim da década de 1960, abriu o Autoelétrico Cajuru, no bairro do Belém, onde permaneceu por décadas batalhando para construir um modesto patrimônio. Foi assim que conseguiu os meios para investir em seu principal projeto de vida: a educação dos filhos.

Sempre repetiu incansavelmente que ele daria aos filhos aquilo que não pôde ter: estudo.

No início dos anos 1970, conheceu aquela que seria sua companheira de vida —Maria Valdete, a Detinha. Casaram-se em 1974 e tiveram dois filhos: Alex e Daniela.

Sua vida foi toda dedicada à família que construiu com Detinha. Tinha prazer em reunir todos naquela que foi sua paixão: a chácara São Judas Tadeu, na cidade de Guararema, a 76 km da capital. Até seus 70 anos, ainda costumava pedalar os 60 km de sua casa até a chácara. De boné e com mochila nas costas, o aventureiro foi apelidado de Rei da Dutra.

No início dos anos 1980, quando os computadores pessoais começaram a chegar à casa dos brasileiros, seu filho lhe disse numa manhã de sábado que aquele desconhecido equipamento poderia ser útil nos estudos. Imediatamente, ele disse: "Vamos pegar um metrô até o centro e tentar comprar um para você". Horas depois, voltaram com duas caixas, um Apple Unitron e uma impressora matricial.

Alex se formou engenheiro, e Daniela, cientista da computação, encerrando aquela que seria uma de suas missões. Educou com amor e zelo. Sua simplicidade transbordou lições.

Zelão foi filho, irmão, marido, genro, pai, tio, sogro, mas acima de tudo foi amigo, "pau pra toda obra". Com ele não tinha tempo ruim.

Anos depois vieram os netos: Enzo, Arturo e Leonardo, e uma nova fase, agora de avô amoroso e dedicado, se iniciava. Fez de tudo pelos netos. Chorou, brincou, correu, jogou bola e se emocionou com eles. A cada foto das crianças enviadas pelo WhatsApp, respondia sempre com as mesmas frases: "Amo vocês" e "manda mais".

Suas mensagens diárias de "boa noite" vão fazer falta. A última ele mandou em 12 de agosto, quando se deitou para dormir abaixo do pôster gigante dos netos que pendurou na cabeceira da cama. Partiu dormindo e tranquilo na madrugada de 13 de agosto. Missão cumprida!

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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