Descrição de chapéu Obituário Nair de Freitas Sacchetto (1935 - 2024)

Mortes: Dedicou a vida a cuidar e amar o próximo

Nair de Freitas Sacchetto teve infância e adolescência difíceis, mas escreveu uma história de amor e doação

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Tatiana Freitas
São Paulo

O que acontece na infância tem consequências para o resto da vida. Seguindo essa teoria, Nair de Freitas Sacchetto tinha tudo para ser uma pessoa com pouco amor para dar. Mas ela escreveu a história oposta: viveu para amar.

Filha de portugueses, nasceu em Itapira, interior de São Paulo, em 1935. A família era da roça, pobre, e a criação foi dura —o que lhe rendeu uma certa antipatia da naturalidade de seus antepassados.

O pai, agricultor, não deixou que ela avançasse nos estudos. Mulher não podia estudar, ele dizia, e o sonho de ser professora nunca se realizou. Nair estudou apenas até a quarta série. Para o pai, saber ler e escrever era o suficiente para uma mulher. Seu único irmão, José, teve a oportunidade de terminar o ensino superior —graças a ela.

Mulher em pé ao lado de uma planta de orquídeas, segurando uma das flores. As orquídeas têm flores rosa e roxas.
Nair de Freitas Sacchetto (1935 - 2024) - Arquivo pessoal

Nair ficou órfã de pai aos 15 anos. A mãe, que tinha um distúrbio mental mal diagnosticado, algo comum à época, foi internada em um sanatório. Durante um período de sua vida, a avó paterna ajudou o pai a olhar os netos, deixando memórias assustadoras. "Às vezes, ela comia escondido da gente na casinha do banheiro para não dividir", ela contava.

Após a morte do pai, Nair e seu irmão, então com 7 anos, se mudaram para a casa de tios em São Paulo. Ali ela assumiu o papel que exerceria durante toda a vida, o de cuidar.

Na casa dos tios, além do irmão, Nair passou a tomar conta dos primos. Uma babá à moda antiga que também cuidava dos afazeres da casa. Ela batalhou para sair e, aos 16 anos, arrumou um emprego numa oficina de costura. Os tios autorizaram que ela saísse para trabalhar, mas, ao chegar, todos os afazeres domésticos precisavam ser cumpridos —dar banho nos meninos, limpar a casa, passar roupa.

Aos 19, conheceu Milton, seu parceiro durante 73 anos. Casaram-se no dia 7 de setembro de 1956. O feriado possibilitou uma festa de três dias.

Semanas depois, Nair levou o irmão, então com 14 anos, para morar com ela. "Ela viveu só para os outros, nunca pensava nela", conta Milton Sacchetto.

Nair deu à luz um casal de filhos, mas teve quatro. José perdeu precocemente a esposa, que deixou uma filha de 7 anos e outra de apenas cinco meses. Nair acolheu todos.

Quando o irmão se recuperou emocionalmente, tentou restabelecer seu lar. Mas o amor com que Nair e Milton receberam as sobrinhas foi tanto que elas se sentiram à vontade para ficar. A mais nova, autora deste texto, não saiu mais de perto dela e nunca conseguiu chamá-la de tia.

Depois de uma vida dedicada ao cuidado, que se materializava na comida deliciosa, no conforto do colo, nos consertos das roupas de toda a família e na capacidade de fazer reflorir, Nair morreu no dia 13 de agosto, aos 89 anos, por complicações decorrentes de uma insuficiência renal. Deixa o marido, Milton, os filhos Marisa, Renato, Luciana e Tatiana, e os netos Lucas, Gabriela, Paula, Gustavo, Leonardo e Ricardo.

Uma mulher está em uma cozinha, usando um avental e gesticulando com a mão direita, fazendo uma bolha de sabão. Ela está em frente a uma pia, com um pano de prato e um jornal sobre uma mesa.
Nair de Freitas Sacchetto morreu aos 89 anos em São Paulo - Arquivo pessoal

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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