Descrição de chapéu Obituário Estevam Galvão de Oliveira (1942 - 2024)

Mortes: Quatro vezes prefeito, dedicou carreira à cidade de Suzano

Pragmático, Estevam Galvão de Oliveira achou espaço na ditadura para iniciar trajetória política que marcou a história de Suzano (SP)

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São Paulo

Ao concluir seu primeiro mandato como prefeito de Suzano, em 1982, Estevam Galvão de Oliveira apostava na boa avaliação junto ao eleitorado do município da Grande São Paulo para conseguir uma vaga na Assembleia Legislativa. Mas ele não estava entre os preferidos da sua legenda.

O PDS (Partido Democrático Social), agremiação herdeira da Arena (de apoio à ditadura militar), resolveu então dar a ele um antiprêmio de consolação: a permissão para disputar uma quase impossível eleição para deputado federal.

Homem branco, de cabelos brancos, usa óculos e terno cinza escuro, com camisa branca e gravata azul com listras brancas; ele está com a mão direita levantada e segura um microfone perto da boca com a mão esquerda; há outros homens ao fundo, ocupando seus lugares no plenário
Estevam Galvão de Oliveira (1942 - 2024) - Arquivo pessoal

"Ninguém acreditava que o Estevam tinha chance, mas ele chegou para mim e falou que iria ganhar", conta a esposa Viviane Domscke Galvão de Oliveira, 77.

Na disputa eleitoral mais difícil da carreira, decidiu percorrer o estado dirigindo o carro da família, um Ford Galaxie. Para ser lembrado por eleitores de longe, distribuía bombons "Sonho de Valsa" que carregava no porta-luvas.

Conseguiu se eleger com pouco mais de 54 mil votos, muitos vindos de eleitores de Suzano. Ele tinha especial afinidade com a população dos distritos carentes do seu reduto eleitoral.

Obras de infraestrutura, como o asfaltamento de ruas distantes do centro, e o hábito de atender pessoalmente em seu gabinete qualquer morador que o procurasse eram a receita do sucesso. Retornou mais três vezes à cadeira de prefeito.

"Ele nunca foi a favor de golpe militar e ditadura, ele só foi para o lado em que conseguiu a chance de disputar as primeiras eleições", conta Viviane. "Ele sempre foi pragmático e achava que essa era a chance de conseguir o melhor para a cidade."

Nascido em Garça em 15 de agosto de 1942, no interior do Paraná, Estevam chegou a Suzano em 1961. Foi quando Viviane viu pela primeira vez, na rua onde morava, o jovem loiro que usava óculos "fundo de garrafa". Estava em um caminhão, descarregando objetos na casa da mãe dele.

Na cidade, foi operário de tecelagem, vendedor de fogos de artifício em festas juninas e de cosméticos da Avon.

Conciliava os bicos com o emprego de auxiliar de serviços gerais na prefeitura, embora desempenhasse o papel de escriturário devido à facilidade com letras e números.

Antes de se formar em direito, obteve a habilitação técnica da época para exercer a pedagogia. Foi professor de uma escola em um distrito rural do município. "Isso tudo criou uma ligação profunda com a cidade" conta Viviane.

Durante os cinco mandatos como deputado estadual, ganhou fama entre governadores pelos insistentes pedidos de benfeitorias para o município. "Quando ele entrava no gabinete do [Geraldo] Alckmin, o [ex-]governador já sabia de cor a lista de pedidos", comenta a jornalista Viviane Strelec, assessora de Estevam por quase duas décadas.

Reagiu ao diagnóstico de câncer com a calma e otimismo costumeiros. Cumpriu o último mandato na Assembleia Legislativa até o fim, em 2023.

Nos meses seguintes, desfrutou da companhia da família. Manteve também os encontros semanais para jogar tranca e cacheta com os amigos, ritual iniciado há décadas e que durou até a semana anterior à última internação.

Estevam Galvão de Oliveira morreu em 29 de junho de 2024, aos 81 anos, em São Paulo. Deixa a mulher, duas filhas e cinco netos.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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