Descrição de chapéu violência forças armadas

Ronnie Lessa afirma que atual delegado da Divisão de Homicídios recebeu propina

Ex-PM diz que Alexandre Herdy cobrou R$ 400 mil junto a Rivaldo Barbosa de um miliciano; procurado, delegado não respondeu

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Rio de Janeiro

O ex-PM Ronnie Lessa afirmou nesta quinta-feira (29) que o delegado Alexandre Herdy, atualmente lotado na Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, recebeu propina de um miliciano para não registrar uma apreensão de armas.

A fala ocorreu durante audiência virtual do STF (Supremo Tribunal Federal) do caso Marielle Franco (PSOL). A afirmação foi feita quando questionado pela defesa do delegado Rivaldo Barbosa, acusado de participação no homicídio da vereadora, se poderia apontar uma pessoa que teria pago propina a ele.

"Tenho um nome, sim. Mas essa pessoa tem medo de falar. Estava presa comigo. [Ela diz que] Rivaldo Barbosa juntamente com dr. Herdy, atual chefe da delegacia. Mas eu não posso provar. Na visão dele, eles levaram R$ 400 mil para não apresentar as armas", afirmou Lessa.

Procurado pela reportagem desde quinta-feira para comentar as declarações de Lessa, Herdy não respondeu até a publicação desta reportagem.

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Ronnie Lessa presta depoimento no âmbito de seu acordo de colaboração premiada sobre a morte de Marielle Franco - Reprodução

"Essa pessoa está presa há dez anos. Acharam dinheiro na casa dele. É miliciano. Está preso até hoje. Acharam o dinheiro, prometeram que não apresentariam as armas, e deixariam ele num crime que ele acabou impronunciado. Apresentaram as armas, ele continua preso, respondeu mais um processo e os R$ 400 mil sumiram", afirmou Lessa.

O depoimento de Lessa se encerrou nesta quinta após três dias de perguntas da PGR (Procuradoria-Geral da República), assistentes de acusação e advogados dos réus na ação penal.

Lessa firmou delação premiada com a PGR e a Polícia Federal na qual assumiu a autoria do crime e apontou os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão (conselheiro do TCE-RJ e deputado federal, respectivamente) como os mandantes do crime.

Ele também voltou a negar ser um "assassino profissional", como a própria PF o descreve no relatório final do caso Marielle. Questionado pelo advogado Roberto Brzezinski Neto, que representa Domingos Brazão, se era um "matador de aluguel profissional ou de oportunidade", ele respondeu: "Nenhum dos dois".

Neto perguntou, em seguida, por qual motivo foi chamado pelo ex-PM Edmilson de Oliveira, o Macalé, morto em 2021, para participar de dois homicídios: de Marielle e de Regina Céli, ex-presidente do Salgueiro —este último, segundo a delação, a pedido do bicheiro Bernardo Bello.

"Porque é meu amigo íntimo. [...] Fui um policial durante 20 anos trabalhando com muito afinco, combatendo o tráfico, o assalto, qualquer tipo de crime que combati. E o Macalé era muito meu amigo, sim", disse ele.

Ao ser questionado, de novo por Neto, para explicar por que Macalé o convidou para um homicídio, Lessa recorreu à amizade entre os dois e classificou a emboscada como uma "oportunidade".

"Da mesma forma que eu chamei o Élcio [Queiroz, também réu confesso]. É muito meu amigo há 30 anos. Élcio estava desempregado desde 2010. Estava fazendo um serviço de escolta para ganhar bem pouquinho para trabalha todo dia por não sei quantas horas atrás de um carro. Do mesmo jeito que o Macalé me trouxe uma oportunidade de ficar rico, mesmo que cometendo um crime, eu chamei o Élcio."

Em relação à encomenda da morte de Regina Céli, Lessa voltou a dizer que não pretendia executar o crime, tendo em vista o dinheiro que imaginava obter com o homicídio de Marielle.

Neto questionou o ex-PM se Bernardo Bello nunca o cobrou pela não execução do crime encomendado. O delator afirmou que o dinheiro que recebia do bicheiro também tinha como objetivo autorizar o uso de seu nome pelo contraventor.

"O que nós faríamos para o Bernardo era simplesmente emprestar o nosso nome, a nossa bagagem na polícia. Como funciona isso? O Bernardo era presidente da Vila Isabel. Na semana que tem a escolha de samba, se eu aparecer no camarote do Bernardo junto com Macalé e mais alguém, o Rio de Janeiro inteiro vai saber que eu estou com o Bernardo. Simples assim. E só vou ter que botar minha cara novamente lá no outro Carnaval", disse ele.

"O Carnaval carioca é assim que funciona. Em vários camarotes da Apoteose, o senhor vê pessoas só no dia do desfile junto com um banqueiro, junto com um miliciano. Por quê? Todo mundo vai estar vendo ali. 'Caramba, aquele coronel ali está do lado do miliciano. Aquele tenente ali está do lado do bicheiro. Aquele capitão ali está do lado de não sei quem'. Isso é uma venda de bagagem."

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