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Mudanças climáticas entram no currículo das pós-graduações no Brasil

Apelo comercial faz com que cursos de pós-graduação sobre sustentabilidade sejam valorizados

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São Paulo

​O interesse crescente pela economia verde, que visa reduzir riscos ambientais, tem levado cursos de pós-graduação de diferentes áreas a incluir no currículo discussões sobre os impactos das mudanças climáticas.

O objetivo é formar alunos com expertise em sustentabilidade. Esse atributo é cada vez mais valorizado pelos setores público e privado, que hoje repensam suas estratégias, inovando modelos de produção ou estabelecendo metas de redução de poluentes.

“O tema das mudanças climáticas estará presente nas agendas social, política e econômica das próximas décadas. Jovens veem aí uma oportunidade de trabalho”, diz Fernando Rei, professor de direito ambiental da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).

Cursos que abordam esse tema são interdisciplinares. São procurados por físicos e geógrafos, mas também por economistas, administradores, engenheiros, advogados, jornalistas e enfermeiros, entre outros.

Na área econômica, por exemplo, são estudadas alternativas para uma economia de baixo carbono. O modelo propõe a redução do uso de combustível fóssil (como petróleo), cuja emissão é apontada como causadora de mudanças climáticas.

“A Petrobras, por exemplo, já olha para as energias eólica e solar”, diz Isak Kruglianskas, coordenador dos programas de gestão estratégica para a sustentabilidade da FIA.

Ele diz que, na esteira das mudanças climáticas, empresas apostam em produtos sustentáveis, que hoje têm grande apelo. Uma especialização na área, portanto, é diferencial no mercado de trabalho.

O gerente nacional de vendas da Suzano Papel e Celulose, Murillo Pellizzon, fez pós-graduação em mudanças climáticas e meio ambiente após perceber que muitos clientes se preocupavam em saber também se a empresa desmatou ou desperdiçou recursos. O conhecimento adquirido, diz, melhorou sua argumentação e o ajudou nas vendas.

Cursos que dão ênfase aos efeitos das mudanças climáticas nas cidades são procurados principalmente por funcionários públicos, que trabalham com planejamento urbano, uso e ocupação do solo e plano diretor. 

“Em Santos, o mar invade a avenida e garagens de prédios. Isso acontece também por causa da mudança climática, que altera o nível do mar”, exemplifica Fernando Rei.

Quando o foco é nas cidades, há disciplinas que tratam da relação das áreas de risco com fenômenos extremos, cada vez mais comuns, segundo Kruglianskas.

No setor da saúde, existem cursos que relacionam o clima com o aumento ou surgimento de doenças que não existiam em determinados locais.

“Às vezes o mosquito volta para certa área não porque a dona Maria deixou água no pires da plantinha, mas porque houve desmatamento e, consequentemente, aumento da temperatura”, afirma Rei.

Outros cursos, mais técnicos, estudam as variações da atividade solar, que também podem alterar temperaturas. O Sol tem maior ou menor atividade de acordo com seus ciclos —o principal dura 11 anos.

“Mas essa oscilação é muito pequena e não poderia explicar sozinha a variabilidade de temperatura que vemos na Terra”, afirma Jean-Pierre Raulin, coordenador do Craam (Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica Mackenzie).

Segundo ele, o mercado para pesquisadores está em alta porque o mundo é cada vez mais tecnológico. Uma explosão solar, por exemplo, pode causar interferência em satélites ou na rede de distribuição de energia.

Segundo especialistas, dependendo de como o governo Jair Bolsonaro (PSL) tratar a questão ambiental, pode haver cortes nos investimentos destinados às pesquisas das mudanças climáticas. Ainda assim, a procura por cursos com essa abordagem se mantém estável.






 

Depoimento

‘Tema está por trás de quase tudo que a gente faz’

Trabalho na Cargill com sustentabilidade, focado na produção de grãos. Há demanda por produtos que tenham certificado ou algum tipo de rastreabilidade. Os clientes hoje estão muito interessados no controle do desmatamento e na origem do produto. Não querem nenhum vínculo com o desmatamento na sua cadeia de suprimentos. Então vamos até o produtor para certificá-lo ou colocá-lo em algum programa de melhoramento contínuo. Também damos as direções para melhores práticas e eficiência do negócio, como usar menos fertilizante e respeitar toda a legislação. Na pós tivemos disciplina de mudanças climáticas e, para mim, esse assunto está por trás de quase tudo que a gente faz. Quando você conscientiza o produtor rural e melhora as suas práticas, você, consequentemente, diminui as emissões.

Eric Geglio, 28 anos, gestor ambiental, fez pós em gestão socioambiental para sustentabilidade na FIA

 

O que e onde estudar

Cidades sustentáveis: direito urbano e meio ambiente 

Curso da Faap aborda temas que envolvem os processos de urbanização e a política nacional de desenvolvimento das cidades. Inscrição até início de março —enquanto houver vaga. Duração de 18 meses. Preço: R$ 22 mil

Gestão estratégica da sustentabilidade 

Curso da FIA - Unidade Nações Unidas estimula o desenvolvimento de competências para a formulação de estratégias em sustentabilidade nas empresas. Duração de 15 meses. Inscrição até 8/3. Preço: R$ 22 mil

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