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Iniciação científica prepara aluno do ensino médio para a universidade

Estudos de fôlego ensinam jovens a organizar ideias, estudar sozinhos e lidar com frustração

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Luciana Alvarez
São Paulo

A experiência de começar um projeto de pesquisa científica ainda durante o ensino médio, ou nos últimos anos do fundamental, tem ganhado espaço nas escolas.

Na opinião de professores, esse tipo de trabalho dá aos jovens a capacidade de estudar de forma independente, de compreender textos acadêmicos e de organizar as ideias. Além disso, serve como porta de entrada para a produção científica na universidade.

Aos 17 anos, Valentina Bellelli ainda nem prestou vestibular, mas  já pensa no tema do seu mestrado. Estudante do colégio paulistano Dante Alighieri, ela está na segunda fase do projeto de pré-iniciação científica sobre redução de resíduos na atividade mineradora, e pretende dar continuidade aos estudos.

Valentina começou o projeto quando estava no nono ano, como parte do programa Cientista Aprendiz, curso optativo oferecido a partir do oitavo. “Os professores convidam, mas o aluno tem que querer. É para quem vê beleza no questionamento, quem se sente atraído pela pesquisa”, diz Sandra Tonidandel, idealizadora do projeto.

Mulher com jaleco branco mexe em funil sobre béquer com líquido amarelo
Valentina Bellelli no laboratório do Dante Alighieri, em SP - Keiny Andrade/Folhapress

Os adolescentes se empolgam tanto que, às vezes, levam o trabalho para fora da escola: o de Valentina hoje é testado em um laboratório do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP.

Como ela, muitos alunos encontram suas vocações por meio de estudos de fôlego, diz Luciana Fevorini, diretora do Equipe, em São Paulo.

Lá, todos os alunos do terceiro ano do ensino médio fazem monografia de tema livre. Para Francisco Rodrigues, 17, a experiência o ensinou a estruturar o pensamento e suas ideias soltas. 

Saber estudar sozinho e organizar os argumentos, além de ser útil no vestibular, traz benefícios para a vida universitária, e é uma forma de autoconhecimento, diz Fernando Ribeiro, coordenador do Liceu de Artes e Ofícios, onde os alunos do ensino técnico apresentam um Trabalho de Conclusão de Curso.

“O aluno sabe que o TCC vai ser uma alavanca de autoconhecimento, para ele descobrir coisas às quais vai querer se dedicar depois. É um trabalho feito com muita alegria.”

No Móbile, em São Paulo, além de iniciação científica, há a opção de fazer um trabalho artístico no segundo ano do ensino médio. Os jovens elaboram um projeto e passam por uma seleção, porque as vagas são limitadas.

O objetivo é fazer com que eles entendam a importância da dedicação a uma pesquisa e ganhem maturidade para conversar com professores, diz Fepa Teixeira, professor da escola.

“Queremos cidadãos que entendam a validade da metodologia científica, que valorizem e respeitem os pesquisadores”, diz Bruna Lopes, professora da iniciação científica na escola Vida Ativa.

No colégio, todos os alunos do ensino médio fazer um projeto durante um semestre. No final, entregam um relatório que deve apresentar solução para algum problema.

Professores reconhecem que um estudo desse porte exige bastante dos adolescentes. Mas, é uma geração que quer ser protagonista, e não só receber ordens.

Para que a introdução desses projetos no currículo seja bem-sucedida, é importante dar um tempo para o aluno se acostumar aos processos, diz Tonidandel, do Dante. À medida que amadurece, o trabalho vai melhorando —mas não há problema em começar no fundamental.

É o que acontece no Elvira Brandão, onde há dois anos todos a partir do nono ano fazem iniciação científica. A escola tem dez clubes de pesquisa temáticos. Os estudantes se dividem por interesse e não por faixa etária, e podem fazer o trabalho sozinhos ou em grupos de até três pessoas.

“Os alunos aprendem a lidar com a frustração, porque nem sempre o caminho que escolhem dá certo. Mas é um espaço seguro, onde podem aprender com seus erros”, diz Dayane Faria Silva, gestora pedagógica do colégio.

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