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Em aula online, pão caseiro, avião de papel e torre de macarrão são lição de casa

Professores usam atividades para engajar alunos e reduzir tempo de tela; parte das famílias tem dificuldade de entender

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São Paulo

Competição de aviãozinho de papel, assar pão, fazer torre de macarrão, dobraduras, observar a chama de uma vela. Muitas das atividades propostas pelos professores em escolas que aderiram ao ensino a distância durante a epidemia do coronavírus se distanciam do formato convencional de aulas.

Para alguns pais, as propostas podem parecer apenas brincadeiras ou práticas sem conexão com o conteúdo escolar. Os professores, no entanto, dizem optar por atividades mais descontraídas para que os alunos possam ver na prática os conceitos que aprendem em aula e também como alternativa para evitar que passem muito tempo em frente à tela de aparelhos eletrônicos.

Homem segura origami
Na escola Stance Dual, alunos fizeram em casa dobraduras e origamis para aprender matemática - Stance Dual/Arquivo Pessoal

“É uma questão de saúde não forçar esses adolescentes a passarem horas em frente a um computador. Precisamos pensar em alternativas para continuar ensinando a distância e sem a tela. Uma alternativa é propor que façam experimentos. Não são brincadeiras, são experiências”, diz Márcia Sakai, professora da escola Pioneiro, na Vila Clementino, zona sul da capital.

Para o 6º ano do ensino fundamental, ela propôs uma competição entre os alunos para que criassem a torre mais alta possível com apenas uma fita adesiva e fios de espaguete. A brincadeira que tomou parte da aula serviu para ensinar às crianças parte do conteúdo de geometria: figuras planas, figuras espaciais, ângulos, área.

Juliana Caetano, coordenadora de Tecnologia Educacional da Stance Dual, na Bela Vista, região central de São Paulo, diz que atividades práticas estão incorporadas à proposta pedagógica das escolas e, mesmo com as aulas a distância, é fundamental que continuem sendo feitas. "Já há um consenso na educação que a experimentação torna a aprendizagem muito mais significativa e nós fazemos isso no cotidiano escolar. Em um momento de distanciamento seria ainda mais danoso se não encontrássemos formas de continuar com essa metodologia”, disse.

O desafio é propor experimentos que os alunos possam fazer com os materiais que têm em casa. Para o 4ª ano do ensino fundamental, a escola propôs uma competição de aviãozinho de papel. Um professor mandou um vídeo ensinando um modelo, mas incentivou que as crianças tentassem outros formatos que conseguissem voar por mais tempo ou mais longe.

“Para os pais, isso era uma brincadeira na infância. Para nós, há um propósito. Os alunos tiveram que preencher um relatório com o que observaram, velocidade, distância, tempo, a trajetória do aviãozinho”, conta. Para os alunos do 5º ano, uma das propostas foi que fizessem kirigami, uma variedade do origami, para trabalhar conceitos de matemática.

Mauro Pontes, professor de Ciências do colégio Equipe, em Higienópolis, também no centro da cidade, diz que, assim como em sala de aula, é preciso lançar mão de diversas estratégias para que os alunos se interessem pelo conteúdo. “Não adianta querer fazer uma aula online de 50 minutos porque eles não vão prestar atenção. Nem presencialmente isso funciona. Diversos estudos mostram que, de uma aula convencional expositiva, só 20 minutos de fato rendem”, diz.

Para o 7º ano, Pontes pediu que fizessem cadernos com papel reciclável, que viraram um livro das receitas culinárias que farão para as aulas de ciências. Os alunos já assaram pão e nas próximas atividades vão fazer chucrute e refrigerante de gengibre. “Cozinhar é fazer química, é observar processos químicos. Eles cozinham e veem diante dos olhos os conceitos que aprendem ou vão aprender depois nas aulas”, disse.

Para Maurício Rodrigues, professor de Química, do colégio Santa Maria, na zona sul, o distanciamento da escola com os estudantes exige que as estratégias de ensino mostrem a importância do conhecimento para que continuem interessados. “Apesar de mantermos as aulas com a tecnologia, nós perdemos o controle sobre o envolvimento do aluno. Não podemos chamar a atenção dele quando se distrair. Então, o estudante mais do que nunca precisa ter consciência do porquê está estudando”.

Rodrigues conta que tenta a cada conteúdo propor experimentos que possam ser feitos em casa, como a observação da chama de uma vela ou a reação da tinta de caneta em contato com álcool. “Eles fazem, se envolvem com a experiência e depois discutimos em sala. A teoria flui muito melhor depois disso”.

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