Descrição de chapéu Vestibular no meio do ano

Quarentena deixa rotina de vestibulandos ainda mais estressante

Incerteza sobre a realização das provas, isolamento social e dificuldade para estudar em casa afetam alunos

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São Paulo

A pandemia somou outras incertezas à habitual pressão sentida pelos vestibulandos. Além das dúvidas em relação à realização das provas, eles precisam se ajustar na marra à nova rotina familiar e de estudo, o que tem elevado mais o nível de estresse.

"Não é porque eles são de uma geração digital que dá para atestar que estão adaptados a receber a escola ou o cursinho de modo 100% online", afirma Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli.

A estudante Maria Eduarda Costa, 20, cogitou desistir de prestar medicina depois de ter ido mal no seu primeiro simulado feito pelo computador.

"Passou pela minha cabeça largar tudo e fazer um curso técnico mesmo", diz ela, que está no terceiro ano de cursinho, com bolsa integral.

Para a aluna, o mais difícil de estudar em casa é conseguir se concentrar durante horas na frente da tela e ficar sem a interação presencial.

Ela ainda precisa lidar com o barulho dos vizinhos e as falhas na internet, que pega emprestada de um primo. "No começo, estava muito ansiosa, sem dormir direito. Agora, consegui organizar a minha rotina."

O que mais ajudou, diz a estudante, foi manter os horários que tinha antes do isolamento, assistindo às aulas ao vivo. Para relaxar, ela tem feito sessões virtuais de ioga, oferecidas pelo cursinho.

Criar uma nova rotina que seja a mais próxima possível da normal ajuda a diminuir a angústia, diz Maria da Conceição Uvaldo, pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP.

É interessante elaborar um cronograma e mostrá-lo à família, recomenda Thaís Arantes, coordenadora do Colégio Poliedro Campinas.

Assim, quem mora com o estudante poderá entender quais são suas tarefas e horários, diminuindo interrupções e melhorando o diálogo.

O ideal é que o aluno reserve tempo para o convívio e o lazer. Também deve dormir, se possível, ao menos sete horas por noite e praticar atividade física —o que for viável nesta quarentena.

O mais importante, diz a coordenadora, é não perder o contato com os colegas. "Conversar por áudio ou vídeo minimiza o impacto do isolamento", afirma. Essa interação pode ser feita com a criação de grupos de estudo e rodas de conversa virtuais.

Desde o começo da quarentena, a estudante Laura Ferreira, 19, não perde uma videoconferência do grupo de apoio que ajudou a organizar, formado por colegas e uma psicopedagoga. "Percebi que não era só eu que estava passando por um momento difícil."

Também aflita com a situação de vestibulandos que estão sem acesso a aulas online, Laura criou, junto com amigos, um grupo de WhatsApp para tirar dúvidas desses alunos —já são mais de 200. "Esse projeto está me fazendo levantar da cama e estudar", diz ela, que quer prestar letras e sonha em ser professora.

A estudante tem sofrido com crises de ansiedade e de enxaqueca. Além da preocupação com as provas, ela teme pela sua saúde e da sua família.

É fundamental que o aluno se mantenha informado sobre a pandemia, diz Gilberto Alvarez, do Cursinho da Poli. Mas ele deve delimitar um horário para acessar às noticias. "Ficar vidrado na televisão acompanhando o número de mortes não ajuda."

Por isso, a estudante Midori Carolina Martins, 26, tem preferido se informar por meio de podcasts de notícias. "Assim, consigo ter controle sobre o que vou ouvir, não fico exposta a qualquer coisa", diz ela, que pretende prestar letras.

Para Maria da Conceição Uvaldo, o mais importante é que os alunos entendam que o momento é de exceção e que é normal se sentir preocupado e desconcentrado.

"O que temos agora é um ensino remoto, que é diferente da educação a distância, pensada para esse fim. Todos estão fazendo o que dá", diz.

"A gente tem que entender que está tudo bem se a gente não conseguir fazer todas as coisas. O coronavírus não estava programado. Tudo bem estar com medo, só não podemos deixar isso nos derrubar", afirma Laura.

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