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Quarentena deve impulsionar modelo híbrido nas escolas

Professores da educação básica tiveram que se adaptar às plataformas virtuais

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São Paulo

Professores e estudantes tiveram que se adaptar no susto ao uso de recursos digitais para que a ligação com a escola não fosse interrompida durante o período de distanciamento social.

Se essa experiência ampliou desigualdades, também criou oportunidades para a inovação. No pós-pandemia, espera-se que haja uma aceleração da educação híbrida, que combina interação presencial e online.

“Estamos caminhando para o ensino híbrido. Não vai ser com tudo que a boa prática demanda, mas a gente está construindo um processo de aprender na crise”, afirma Claudia Costin, ex-diretora de educação do Banco Mundial.

“A resposta educacional obrigou os professores a entrarem em um processo de dor, porque eles não foram preparados para desenvolver competências digitais. Mas, de alguma maneira, eles aprenderam”, completa.

Nas duas primeiras semanas da quarentena, a professora Tahis Carmo, 25, passou noites sem dormir pensando como conseguiria adaptar sua didática para o meio virtual.

“Sempre me vi como uma profissional moldada para o ensino presencial”, diz ela, que dá aulas de inglês para alunos de 2 a 8 anos no Colégio Português, escola particular em Cotia (Grande São Paulo).

No início, foi difícil controlar turmas de 10 a 20 estudantes nas aulas ao vivo —com duração entre 20 e 50 minutos, de acordo com a idade das crianças. Num dia, por exemplo, um aluno colocou por diversas vezes o microfone da professora no mudo.

Mas, depois de quatro meses, todos já estão acostumados com o novo modelo, diz Tahis. O que funcionou, segundo ela, foi propor atividades lúdicas e manuais, como uma aula em que cada um teve de montar uma mala de viagem para aprender sobre o nome das peças de roupa.

Durante as transmissões, a professora também canta com os alunos, envia jogos e vídeos. “O online não vai substituir o presencial, mas, depois desta experiência, vejo que os dois podem andar juntos.”

Com a pandemia, a Conexia Educação, empresa que fornece soluções educacionais ao Colégio Português e a outras 400 escolas particulares, antecipou em mais de cinco anos suas previsões para uma ampliação do uso de recursos digitais no ensino.

“Acreditamos que a educação híbrida deve ser inserida de vez na grade curricular das instituições”, diz Sandro Bonás, diretor-executivo.

Na rede pública, mesmo com todos os desafios, os professores também conseguiram chegar aos alunos de alguma forma na quarentena.

Segundo estudo do Instituto Ruy Barbosa, 82% das redes municipais estão oferecendo conteúdos a distância. No âmbito estadual, atividades não presenciais foram adotadas pelos 17 estados ouvidos.

O levantamento foi feito entre maio e junho, em parceria com o centro de pesquisa Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) e 26 Tribunais de Contas.

Marcia Cristina Bacic, professora da rede estadual no Vale do Ribeira (SP)
Marcia Cristina Bacic, professora da rede estadual no Vale do Ribeira (SP) - Arquivo pessoal

Assim que as aulas foram interrompidas, em março, a professora Marcia Cristina Bacic, 46, que leciona biologia, química e ciências na rede estadual em Jacupiranga (interior de São Paulo), criou canais para não perder o vínculo com os estudantes.

Ela usou uma página no Facebook para passar atividades. Sua ideia foi propor trabalhos que aproveitassem o fato de os alunos estarem em casa.

Marcia pediu, por exemplo, que eles desenhassem uma planta da residência, distribuindo tomadas e aparelhos elétricos. Os alunos também fizeram experimentos com reações químicas —alguns até gravaram vídeos com as explicações, como se estivessem num programa de culinária.

“Foi bem rica essa experiência, eles tiveram ideias muito criativas”, afirma ela.

Para o ensino médio, a professora criou salas de aula virtuais no Google Classroom. Já para os alunos da zona rural, que não têm acesso a internet, a única solução foi o envio de materiais impressos.

Para que essa experiência transformadora gere resultados na educação serão necessárias políticas públicas nesse sentido, diz Claudia Costin. “É preciso olhar para a formação de professores e investir em infraestrutura para garantir internet banda larga.”

E, mais do que uma junção do online com o presencial, o ensino híbrido requer uma nova mentalidade, diz Lilian Bacich, diretora da consultoria Tríade Educacional.

“Se você pega uma aula expositiva, que já não é o melhor dos mundos no presencial, e leva igualzinha para o digital, você não aproveita o melhor do online e ainda piora o presencial”, diz.

Segundo ela, é preciso aproveitar a experiência vivida agora para colocar os estudantes no centro do seu processo de aprendizagem, fazendo com que busquem ativamente o conhecimento em vez de só recebê-lo do professor.

“Se não fizermos isso, não vamos ter aproveitado nada deste período tão trágico.”

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