Veja dicas de aplicativos que podem ajudar na alfabetização

Especialistas afirmam que apps estimulam, mas não substituem outros métodos

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São Paulo

A alfabetização, como qualquer processo de aprendizagem, está totalmente ligada à interação da criança com o mundo que a cerca.

Sem a convivência dos colegas e a presença física do professor para auxiliar no processo durante a pandemia, é natural que as crianças tenham mais dificuldade com o aprendizado e que os pais busquem apoio em aplicativos para reforçar a alfabetização.

Ilustração com duas crianças usando um celular gigante
Veja dicas de aplicativos que podem ajudar na alfabetização - Arte Folha

É o caso de Ariana Albertini, 37, mãe de Murilo, 11, e Bento, 6. Seu caçula está no primeiro ano e enfrenta algumas dificuldades para ler e escrever. Apesar do apoio oferecido pela escola do filho, a mãe diz não perceber muitos avanços.

“Ele reluta muito em estudar. Antes, essas dificuldades eram acompanhadas pelos professores, que sabiam o que fazer”, diz. “Em casa, não sabemos muito como lidar. Estamos com medo que haja um atraso nessa área.”

Para estimular o filho, ela tem usado aplicativos com jogos de palavras. São inúmeras as opções, boa parte gratuita.

Com músicas e dinâmicas divertidas, esses aplicativos podem chamar bem mais a atenção da criança do que uma folha impressa em preto e branco, por exemplo.

Mas especialistas em alfabetização reforçam que se não houver mediação e interação, o aplicativo estimulará apenas a memorização e reduzirá o potencial da criança.

“Aplicativos devem ser apresentados com intencionalidade de diversão. A relação com a língua precisa ser prazerosa, nunca como mais uma tarefa a ser feita”, afirma Raquel Franzim, 40, coordenadora de educação do Instituto Alana.

Além da experiência profissional, Raquel é mãe de Joaquim, 6. A mudança de escola e a quarentena um mês após o início das aulas se refletiram no desempenho escolar dele. “Ele gosta de brincar e de desenhar, mas não está engajado com alfabetização”, conta a mãe.

A escola de Joaquim não adotou aplicativos, mas a família também decidiu incluir alguns deles para ampliar o repertório do menino.

Outro caminho para o aprendizado se abre quando os pais se mostram leitores e naturalmente compartilham o que estão escrevendo ou lendo com os filhos, como a lista de mercado ou uma receita de bolo, aponta Clarissa Pereira, especialista em alfabetização.

“Funciona melhor que simples cópias, pois a criança entende na prática por que necessita ler e escrever”, afirma. Ela lembra que, para aprender, o cérebro precisa de repetição, pois a sequência desencadeia a aprendizagem. “Isso não tem relação com o ‘Ivo viu a uva’, usado antigamente e que ainda é visto em alguns apps”, observa.

“Ensinar a língua como um código, sem conectar com a realidade da criança, pode se tornar um exercício abstrato, mecânico e sem sentido”, diz Ana Paula Duboc, doutora na área de Linguagem e docente da Faculdade de Educação da USP.

Para ela, aplicativos de alfabetização oferecem um tipo passivo de distração com atividades mecânicas, repetitivas e descontextualizadas. “Isso empobrece a entrada da criança no mundo da escrita se forem tomados como única ou principal prática de letramento”, completa.

Para que a criança absorva o conhecimento ofertado pelos apps, os pais devem observar também se eles não concorrem com as atividades essenciais como sono, alimentação, ou interação da criança com os familiares.

O tempo máximo em frente às telas recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria é de no máximo duas horas para crianças entre seis e 10 anos.

Vale lembrar que eles já têm aulas por meio de telas e usam um pouco mais dos tablets e celulares por causa do home office dos pais.

​Avaliação

Bini ABC (Disponível para Android e IOS - gratuito)
Com atividades simples, introduz a representação gráfica das letras do alfabeto (tanto reconhecimento quanto contorno das letras pontilhadas), mas peca pela escolha das palavras que não são usuais no vocabulário das crianças e por sinalizar como as letras devem ser preenchidas, excluindo a autoria da criança.

EduEdu (Disponível para Android - gratuito)
Possibilita uma avaliação diagnóstica cujo resultado gera um breve relatório aos pais; fornece atividades para imprimir, as quais são enviadas por email e traz conteúdos para trabalhar o aspecto socioemocional da criança. Porém, há seções sem conteúdo disponibilizado.

Formar Palavras (Disponível para Android - gratuito)
Embora traga uma visão de que a língua é mero código, o app é útil no exercício de consciência fonológica, levando a criança a perceber que as palavras são compostas por partes menores.

Ilhas do Alfabeto (Disponível para Android e IOS - gratuito)
Possibilita escrever o traçado das letras e por meio de desafios prende a atenção das crianças. É útil no exercício de consciência fonológica, mas segue a linha dos métodos sintéticos de alfabetização, com abordagem descontextualizada, mecânica, artificial e repetitiva que põe as regras da língua antes da língua em uso.

PlayKids (Disponível para Android e IOS - gratuito ou Plano mensal R$ 29,90)
Rica e extensa variedade de atividades que estimulam o protagonismo da criança, porém é pouca a exploração da linguagem oral​, e as letras não seguem um padrão, o que pode dificultar a aprendizagem.

Silabando (Disponível para Android e IOS - gratuito)
Apesar de trazer uma variedade de exercícios e mostrar letras em caixa alta, baixa e cursiva, traz palavras soltas, isoladas, desprovidas de um contexto significativo, algumas delas não são usuais no vocabulário das crianças.

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