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Campanha do Corinthians abre espaço para debater violência nas redes sociais

Estratégia ocorre em momento de escalada de ataques contra atletas de várias equipes

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Mariana Mandelli

Coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta

Entre os dias 22 e 25 de abril, o Corinthians promoveu um "apagão" na comunicação do clube, sem conceder entrevistas para a imprensa ou publicar conteúdo nas redes sociais, como parte da campanha Futebol Sem Ódio.

Com o silêncio, o objetivo era chamar a atenção para "o clima de violência e a disseminação de ódio e fake news" que, de acordo com o alvinegro, vem deixando o futebol cada dia mais agressivo, "chegando ao extremo do risco físico e trauma psicológico para os profissionais do esporte", como ocorreu recentemente com o goleiro Cássio, o zagueiro Gil e o meia Willian e suas respectivas famílias.

A proposta do Corinthians ocorre num momento de escalada da violência no futebol, com ataques contra atletas de várias equipes, como Internacional e Bahia, e brigas de torcedores em várias cidades do país.

Nas redes, a campanha dividiu torcedores, alguns acusaram a estratégia de ser uma forma de o elenco se esquivar da derrota para o Palmeiras, no último sábado (23), e ainda questionaram a eficiência do silêncio para combater a desinformação.

Mesmo que tenha gerado resultados contrários às expectativas e que muito possa se falar sobre a execução da campanha, é importante que um clube tenha finalmente colocado essa questão em debate.

Não é de hoje que se percebe uma alta toxicidade nas mídias sociais e nos fóruns de discussão sobre futebol, o que inclui ofensas a outros profissionais do ramo, especialmente jornalistas que cobrem o esporte. As mulheres, claro, sofrem mais, como é o caso da narradora da ESPN Brasil Luciana Mariano, que afirmou em entrevista recente que já abriu 156 processos por conta dos ataques e ameaças que recebe via redes sociais.

Porém, o problema não será resolvido por um clube sozinho ou uma única ação de conscientização.

Um futebol sem ódio só seria possível numa sociedade sem ódio, porque o que acontece nas plataformas digitais é simplesmente um reflexo da violência, do machismo, da homofobia e do racismo enraizados na vida offline, temperados com grandes doses de clubismo e pela falsa ideia de que o anonimato protege.

É importante que um clube de futebol da magnitude do alvinegro paulistano, com dezenas de milhões de torcedores e torcedoras, se proponha a fazer o nexo entre o que ocorre dentro e fora das mídias sociais, mostrando como discursos inflamados e violentos se intensificaram e quais consequências isso pode ter. Mas é importante que isso seja acompanhado por outros times, por jornalistas e pelas organizações envolvidas com o esporte, com ações contínuas de educação e conscientização sobre as potencialidades e os desafios da sociabilidade torcedora nas mídias digitais —o que nada mais é do que uma questão de cidadania em tempos conectados.

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