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Escola usa pipas, fanfarra e teatro para ajudar na saúde emocional de alunos em Guarulhos

Ações buscam reduzir os impactos do período de isolamento e suspensão das aulas presenciais em razão da pandemia

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Evelyn Fagundes
Guarulhos (SP) | Agência Mural

Ao passear por um campo repleto de crianças soltando pipas no bairro do Cecap, em Guarulhos, na Grande São Paulo, a professora Noemi Biacsi, 59, percebeu que aquela brincadeira poderia ser útil na escola onde trabalha.

Para ela, a atividade seria uma oportunidade de trabalhar habilidades artesanais e a questão socioemocional —a aprendizagem do autoconhecimento que não apenas faz bem ao próprio aluno, como o ajuda a desenvolver a comunicação na relação com o outro. Assim nasceu o projeto "Pipas no Ar".

Intervenção do grupo colombiano JOCUM (Jovens com uma missão), que fizeram uma dinâmica com os alunos de escolha em Guarulhos
Intervenção do grupo colombiano Jocum (Jovens com uma Missão), que fizeram uma dinâmica com alunos de escolha em Guarulhos - Arquivo Pessoal

"A brincadeira é facilitadora do aprendizado, prazerosa e saudável não apenas para o físico, como também para o mental e principalmente para o emocional", afirma a professora, que ensina educação artística na escola estadual Jardim Maria Dirce III desde 2004.

A ação foi uma das realizadas na escola como forma de reduzir os impactos sofridos por alunos após o período de paralisação por causa da pandemia de Covid-19. A equipe gestora desenvolveu atividades para tornar o ambiente escolar mais confortável na retomada presencial, impulsionando o protagonismo juvenil e a saúde emocional.

Os estudantes confeccionaram pipas em casa com objetos simples, como sacolas de supermercado, palitos de churrasco e jornais. Noemi diz que a simplicidade desses materiais tem o objetivo de fazer os alunos entenderem que é no básico que a criatividade pode acontecer.

As pipas ficaram expostas em um palco decorado pelos alunos até o início de 2022.

Em maio, o colégio recebeu membros do grupo colombiano Jocum (Jovens com uma missão), que fizeram uma dinâmica com os alunos para trabalhar noções de identidade pessoal, tolerância e respeito com o outro.

Para o estudante Caio Mariano, 16, as ações o ajudaram a se sentir melhor consigo mesmo. Ele conta que colegas comentaram que também que foram impactados pelos projetos.

Decoração das salas foi atividade feita junto aos alunos
Decoração das salas foi atividade feita junto aos alunos - Evelyn Fagundes/Agência Mural

O Jardim Maria Dirce é feito de "latão", um apelido que faz referência ao material das paredes. A estrutura foi construída para ser uma solução temporária, mas se tornou um equipamento permanente e completou 20 anos.

"Sempre tivemos projetos voltados para autoestima, motivação e amor-próprio", diz a diretora Denize Firmo, que está no Maria Dirce desde 2005.

Em 2019, a escola realizou o "sarau da saúde emocional", evento com palestras sobre bem-estar, identidade e segurança. Grupos de estudantes se apresentaram em performances de teatro e dança contando com a coordenação de ex-alunos que também se engajaram na iniciativa.

Todas as terças e quartas-feiras os alunos ensaiam e já se preparam para as apresentações, sendo a principal delas o desfile tradicional de 7 de Setembro no centro de Guarulhos. "Amo ajudar na fanfarra e através dela poder tocar na questão emocional com os jovens e adolescentes", diz Melk, 22, ex-estudante do Maria Dirce.

O ex-estudante conta que retornou para a escola buscando contribuir com esse tipo de iniciativa, pois percebeu que "na pandemia em que os adolescentes e jovens têm tido dificuldades de conviver com algumas questões".

Maria Clara, 16, está na escola desde 2018 e é regente da fanfarra. Diz que a atividade ajudou na autoconfiança. "Eu era muito tímida, mas a fanfarra me ajudou a me expressar."

O mais recente projeto desenvolvido por Noemi e os alunos do terceiro ano do ensino médio é uma peça teatral. Para a ocasião, a professora já deixou avisado. "Não quero um final trágico, não quero morte nem dor. Eu quero uma coisa que coloque o pessoal pra cima, uma mensagem positiva. Tanta coisa acontece lá fora, não quero mais uma aqui."

A professora se orgulha em dizer que a missão dela é fazer com que os alunos olhem sempre para o lado da esperança. "Queremos mostrar que é possível. Eles são jovens e precisam enxergar que há um sol brilhando lá fora", diz a educadora. "E eles podem também ser o sol de alguém."

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