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Secretário de Educação de SP diz que livros didáticos escolhidos pelo MEC são superficiais

Renato Feder rebate críticas de educadores sobre decisão de abandonar os livros impressos, padronizar os materiais e de abrir mão de verba do MEC para comprar didáticos

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São Paulo

O secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, rebateu as críticas de educadores sobre a sua decisão de utilizar nas escolas só livros didáticos digitais, e não mais os impressos, assim como a de decidir produzir todo o material didático e de não participar do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), que compra livros para as escolas com verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, do MEC.

Só para o fundamental 2 (6º ao 9º ano), a verba da qual o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) abriu mão, que compraria de cerca de 10 milhões de livros didáticos, gira em torno de R$ 120 milhões, segundo a Abrelivro (Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais). Se somar o ensino médio, ultrapassa R$ 200 milhões.

Na imagem, Renato Feder está em uma sala parcialmente escura, mas seu rosto está iluminado. Ele é branco, tem cabelo escuro e curto, uma paletó cinza e camisa clara
O secretário de educação do governo de Tarcísio de Freitas, Renato Feder, em sala de reunião do Palácio dos Bandeirantes - Mathilde Missioneiro - 2.jan.2023/Folhapress

Em entrevista à Folha, Feder afirmou que a padronização dos livros didáticos e o controle deles pelo governo "são essenciais para a melhoria do aprendizado", porque, segundo ele, facilitam a formação dos professores e a aplicação da Prova Paulista, que é bimestral, digital e igual para todas as escolas. Feder negou que a intenção seja a de um controle ideológico. Criticou ainda a qualidade dos livros didáticos escolhidos pelo PNLD. "A secretaria avaliou que perderam conteúdo, profundidade, estão superficiais."

Sobre a falta de acesso à tecnologia de parte da população de São Paulo, respondeu que as escolas poderão imprimir o material digital para quem precisar e que o governo distribuirá a estudantes, neste semestre, 20 mil celulares, aparelhos esses que foram apreendidos pela Receita Federal e doados ao governo para esse fim.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

MATERIAL DIDÁTICO DO GOVERNO

O grande objetivo nosso é aumentar o aprendizado, e o essencial é a qualidade da aula. Nosso papel é apoiar o professor para que essa aula seja engajadora, para que ele esteja seguro para ensinar aquele conteúdo, para que a aula tenha atividades, não seja só o professor anotando na lousa ou só falando, sem o aluno prestar a atenção.

Para ter essa aula melhor, existe um tripé. Um pilar é o material didático. O segundo é a formação do professor para que domine aquele material. E o terceiro é a prova, ela tem que estar coerente com o material. Em São Paulo estamos construindo esse tripé.

O professor perdia muito tempo escrevendo na lousa. Agora, em um clique, todo o conteúdo estará na lousa digital ou no aparelho de televisão da sala de aula.

Esse material já está desenvolvido e sendo entregue desde março para todos os professores. Em junho, entregamos o material do 3º bimestre. E essas aulas são editáveis. O professor pode retirar slides, incluir ou modificar.

APRENDER NO CELULAR?

O material não é tão digital assim. Não é que o aluno vai aprender no celular. O modelo é uma sala de aula, com estudantes com papel, caneta e caderno. Eles têm uma televisão grande na sala, e o professor projeta o material na televisão. A vantagem é que esse material é vivo, tem vídeos etc. Em uma aula de história, por exemplo, em um clique, ele pode passar para um museu, para as pirâmides do Egito.

ABRIR MÃO DO PNLD

Abrimos mão do PNLD [Programa Nacional do Livro Didático] por dois motivos principais: o primeiro é que, com esse programa, cada escola tem o seu livro. O professor pode dar aulas em duas, três escolas. Como ele vai dominar o conteúdo de livros tão diferentes? Um aluno que muda de escola, por exemplo. Como ele vai ser formado se os livros são diferentes? E, por último, temos a Prova Paulista, aplicada bimestralmente e é igual para todas as escolas. O grande mérito dessa prova é mostrar o que os alunos estão aprendendo e o que não estão, em dois cliques, porque as provas são digitais. Conseguimos ter os resultados no dia seguinte.

E A QUALIDADE DO PNLD?

Eu e meus técnicos olhamos os livros do PNLD. A avaliação da Secretaria foi a de eles perderam a qualidade, profundidade e conteúdo. Estão superficiais.

COMPUTADORES POR ALUNO

Temos cerca de 800 mil computadores na rede, o que dá cerca de 1 computador para cada 4 alunos, que é um índice alto mesmo considerando países de primeiro mundo. Não haverá necessidade de comprar mais computadores. Em casa, a maioria dos alunos tem celular, porque 90% acessam a Central de Mídias [Folha pondera que o celular pode ser de algum familiar]. Sim, pode ser de algum familiar. E a gente tem planejado a distribuição de 20 mil celulares neste semestre para quem não tem aparelho. Temos parceria com a Receita Federal, que nos envia celulares apreendidos. O aluno pode também estudar no computador da escola, da casa, no celular ou pedir para a escola imprimir o material digital.

E AS CASAS SEM INTERNET?

O aluno estuda majoritariamente na escola, e temos computadores à disposição dele, que poderá utilizá-lo no contraturno. E quase metade das nossas escolas são de tempo integral, e o aluno tem tempos de estudo dentro da escola.

CONTROVÉRSIA DO USO DO DIGITAL NA EDUCAÇÃO

O grande problema é o uso do celular para acessar redes sociais. E mesmo um celular no bolso do aluno pode o desconcentrá-lo. Se o aluno está fazendo game de matemática no celular é bom, ele está estudando, isso é maravilhoso. Mas ele não pode estar vendo videozinho de rede social, ele é um problema quando é mal utilizado. A controvérsia tem a ver com isso e não com a tecnologia na educação. Tela sem conteúdo pedagógico é um problema. Mas tirar a oportunidade de um aluno ler um livro digital não é certo. [Folha pondera que é difícil controlar o uso, porque o esses produtos foram criados para atrair crianças e adolescentes] Estamos desenhando uma escola sem Tik Tok, em que o aluno pega o caderno e presta a atenção no professor e no conteúdo desenvolvido pelo Estado de São Paulo. Os computadores das escolas são travados, para não abrir redes sociais.

ABRIR MÃO DA VERBA NACIONAL E GASTAR A DO ESTADO

Não vamos gastar mais do que o que recebíamos do PNLD, o custo da impressão é menor, e será só para aqueles alunos que precisam. E o material não será comprado, será produzido pelo departamento pedagógico da Secretaria, então é difícil mensurar porque a equipe já faz parte do governo.

E A PLURALIDADE?

[Folha aponta a crítica de educadores de que o material padronizado não tem pluralidade e não contempla realidades diversas das escolas e o risco de ter um viés ideológico] A gente está preocupado com o ensino técnico. Temos que ensinar matemática, química, física, história, geografia, temos que ensinar o jovem a ler. E estamos colocando as questões de maneira muito profunda, com material sobre saúde, higiene, prevenção a doenças etc. Hoje tive uma reunião para incluir no material o tema dos moradores de rua. Outro dia, conversei com uma associação protetora dos animais para a gente incluir no material didático esse tema. Não tem ideologia, são conteúdos importantes. [Folha questiona se o secretário decidir o conteúdo não é algo personalista] Não é. É uma equipe de cem pessoas da secretaria, excelentes professores, que define o conteúdo e o produz.

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