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Escola em favela de Belo Horizonte é finalista de prêmio internacional com projeto ambiental

Colégio concorre na categoria Colaboração com a Comunidade do Prêmio Melhores Escolas do Mundo com iniciativa para descarte correto do lixo

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Thiago Ventura
Belo Horizonte

Uma escola pública localizada em uma das maiores favelas do Brasil tem se destacado em nível internacional. Trata-se da Escola Municipal Professor Edson Pisani, do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, finalista do Prêmio Melhores Escolas do Mundo, promovido pela organização T4 Education.

O motivo da indicação é um projeto chamado Mais Favela, Menos Lixo, que busca soluções para o descarte de resíduos.

A Edson Pisani concorre com outras duas escolas —uma dos Estados Unidos e outra da África do Sul— ao prêmio de US$ 50 mil (R$ 242,8 mil) na categoria Colaboração com a Comunidade. Além da instituição mineira, o Brasil é representado pela Escola Estadual Joaquim Bastos Gonçalves, de Carnaubal (CE), que disputa na categoria Promoção de Estilos de Vida Saudáveis.

Fachada da Escola Municipal Professor Edson Pisani, em Belo Horizonte (MG), que é finalista do Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2023
Espaço da Escola Municipal Professor Edson Pisani, de Belo Horizonte, que é finalista do Prêmio Melhores Escolas do Mundo 2023 - Thiago Ventura/Folhapress

Nos becos e ruas apertadas da Vila Fátima, umas das favelas que compõem o Aglomerado da Serra, na zona sul da capital mineira, o saneamento é um grave problema, a exemplo do que acontece em comunidades pobres de todo o país. O descarte inadequado do lixo domiciliar fica ainda mais evidente com cães, gatos e até porcos soltos, que atacam as lixeiras. Incomodados com essa realidade, alunos e professores decidiram agir.

Com 20 anos de trabalho na escola, a professora Floricena Estevam foi uma das idealizadoras do Mais Favela, Menos Lixo. Criado em 2022, o projeto mobilizou alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e da Escola Integrada, que recebe crianças de 6 a 10 anos. Estudantes da Escola de Arquitetura da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) também atuam no projeto.

Após uma reunião com os alunos, surgiu a ideia de instalar ganchos nas moradias, em vez de lixeiras, de forma a evitar que o lixo se espalhasse pelo chão. "Vários pontos em que se coloca lixeira viram lixão. Foi um processo de aprendizado inclusive para os universitários. Precisamos pensar em ações antes da lixeira, por ser um lugar tão densamente povoado", explica.

O piloto começou com 75 placas-gancho, produzidas com recursos da própria escola. A ideia foi bem acolhida pela comunidade, e os educadores passaram a estudar como ampliar o número de moradias atendidas.

O projeto Mais Favela, Menos Lixo também conta com uma horta na escola e há planos de fazer uma composteira. A comunidade também discute formas de descartar entulho e de instalar lixeiras estrategicamente posicionadas após um processo de educação ambiental. Caso vençam o prêmio, o valor deverá ser aplicado nessas iniciativas.

A professora conta que decidiu despretensiosamente inscrever o projeto no Prêmio Melhores Escolas do Mundo.

"Já era o que fazíamos, não criamos um projeto para participar. Achei que nosso trabalho se encaixava perfeitamente no edital", conta. E deu certo. A Edson Pisani conseguiu ser escolhida no top 10 mundial, e no último dia 12 de setembro entrou no top 3, motivo para festa na comunidade. A grande vencedora será revelada em 4 de dezembro.

Para comemorar o feito —e para a incentivar a votação popular—, a escola diz que realizará uma mostra cultural na praça do Cardoso, um dos principais pontos do Aglomerado da Serra, nesta quinta-feira (21).

"A indicação para o top 3 revela o tanto que a educação é importante e pode fazer a diferença. Olha para nossa escola, olha onde a gente está: ela existe e ela está para fazer a diferença. É um sentimento de realização. Agora eu sei por que eu fiz faculdade, por que eu decidi ser professora, por uma educação que transforma o mundo. A educação é possível e pode transformar pessoas e lugares", diz Floricena, com os olhos marejados.

A escolha da instituição vencedora na categoria será determinada pelo voto popular. Para participar da votação é necessário visitar o site da World's Best School, disponível neste link. Depois é preciso selecionar a opção "vote agora" e completar o formulário.

OUTROS PROJETOS AMBIENTAIS

A indicação a um prêmio internacional chega num momento importante para a Escola Municipal Professor Edson Pisani. Criada em 1990, ganhou sua sede própria há 30 anos. Originalmente batizada de Vila Fátima, virou uma homenagem póstuma ao professor de educação física que organizava torneios estudantis para alunos da rede pública municipal e morreu precocemente.

O Mais Favela, Menos Lixo não é o primeiro projeto na linha ambiental desenvolvido por lá. A Edson Pisani separa lixo reciclável —papel, vidro e plástico— e recebe o material dos próprios alunos.

"A prática colaborativa não é novidade. Nossa escola sempre teve esse diferencial. Além da alfabetização, sabemos dos outros desafios que a comunidade tem", afirma a vice-diretora, Silvana Antunes Rocha, que tem 30 anos de trabalho na rede e 27 na escola.

A escola fica na via principal da comunidade, porém muito estreita e praticamente sem calçada. O terreno é um aclive acentuado e, embora não seja grande, o imóvel é dividido em quatro pavimentos e conta com duas quadras pequenas —uma delas de superfície irregular, de forma que uma das equipes leva vantagem em relação à outra. Apesar das limitações de espaço e infraestrutura, nota-se cuidado com o local, dos jardins aos grafites coloridos.

"A educação é o caminho. Ela não muda o mundo, mas muda o comportamento e a visão das pessoas. E as pessoas mudam o mundo. Fazer investimento nas crianças é o melhor caminho. A criança vai crescer e vai passar para seus filhos essa ideia de cuidado com o lixo. O lixo traz muitas possibilidades", diz a vice-diretora.

O aluno Miguel Asaf, 13, conhecido como Toretto (personagem de Vin Diesel em "Velozes e Furiosos") entre amigos e professores, é um dos mais entusiasmados com os projetos ambientais, sobretudo com a horta comunitária, e conta como foi saber que a escola tinha entrado no top 3 do prêmio internacional. "Não acreditei, foi muito emocionante. Fiquei orgulhoso da minha escola."

Ele conta que já colocou em prática o que aprendeu e criou sua própria mini-horta. "Adoro cuidar das plantas. E é muito bom ajudar as pessoas a tirar lixo da rua", diz.

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