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Unicamp vivenciou o predomínio de posturas não democráticas dos dois lados, diz reitor

Nesta terça (3), um docente foi detido sob suspeita de ameaçar com faca estudantes que estavam em paralisação

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São Paulo

O reitor Antonio José Meirelles disse que a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) viveu nesta terça-feira (3) um dos dias mais tristes de sua história, quando um professor foi detido sob suspeita de ameaçar com faca estudantes que faziam uma paralisação.

"Foram posturas não democráticas dos dois lados que estavam nessa disputa. Não é possível um professor vir para a universidade com um spray de pimenta e uma faca. Isso é inadmissível. Assim como é inadmissível, alunos ou pessoas de fora impedirem a realização de atividades", disse Meirelles em entrevista à Folha

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Professor é detido ao ameaçar ferir aluno com faca durante paralisação de estudantes da Unicamp - Reprodução/dceunicamp no Instagram

Ele afirmou ver com preocupação a atuação de parte dos movimentos sociais que, segundo ele, tenta impor a paralisação na universidade.

"As pessoas se sentem no direito de impedir atividades acadêmicas, mesmo não tendo a capacidade de convencer as pessoas a não participarem. Os movimentos sociais são legítimos e têm direito de se manifestar, mas precisam ser capazes de construir maiorias. Ser democrático significa reconhecer o direito do outro."

No início da manhã desta terça, dois alunos foram até a sala onde o professor Rafael de Freitas Leão dava aula para comunicá-lo que os estudantes haviam aprovado a paralisação das atividades. O docente então sacou uma faca e um spray de pimenta para ameaçá-los, segundo relatos de testemunhas.

Em um vídeo, gravado por outros estudantes, é possível ver o momento em que o professor sai correndo por um corredor das salas de aula com a faca em mãos em direção a um dos alunos. O jovem entra em confronto com o docente para desarmá-lo, e só então dois seguranças da universidade aparecem para conter o docente.

Leão foi detido e levado para delegacia, onde o caso foi registrado como lesão corporal e incitação ao crime. As autoridades policiais registraram o docente como vítima. A reportagem não conseguiu falar com o professor.

Ainda na manhã desta terça, a reitoria da Unicamp comunicou que, além do inquérito policial, a conduta do docente será "averiguada por meio dos procedimentos administrativos adequados e serão tomadas as medidas cabíveis".

"Eu me comprometo que esse assunto não será jogado para baixo do tapete. Tenho muita convicção de que não só a administração central [da universidade], mas também das unidades, entendem que precisamos responsabilizar as pessoas pelas suas atitudes. Sem essa responsabilização, podemos entrar em uma rota muito difícil para a democracia da universidade", disse o reitor.

Meirelles disse que já observa, há alguns meses, com preocupação uma recorrência de casos de violência, discriminação e intolerância nos espaços da Unicamp e de outras instituições de ensino do país. Em abril, por exemplo, a universidade teve que suspender uma feira de universidades israelenses no campus de Campinas, após um ato de grupos contrário à sua realização.

"A universidade precisa ser um local que prima pelo diálogo e pela capacidade das pessoas expressarem suas opiniões. Quando se usam meios, que têm um certo elemento de assédio para convencer as pessoas, nós estamos entrando em uma rota extremamente perigosa", disse o reitor.

A preocupação com os casos de violência levou a Unicamp a produzir, no fim de agosto, uma Carta de Princípios para defender "a cultura da liberdade acadêmica e de ensino e sua luta contra a violência e pela diversidade e inclusão".

Meirelles disse temer que os casos de violência e intolerância prejudiquem o prestígio conquistado pelas universidades estaduais paulistas (além da Unicamp, o estado de São Paulo também tem a USP e a Unesp) nas últimas décadas.

"Eu acredito que esse tipo de situação causa ruído e fortalece externamente aqueles que já têm uma posição contrária às universidades públicas."

Apesar da preocupação, o reitor disse que seguirá em um esforço de diálogo com os movimentos estudantis e entidades sindicais para resolver os conflitos internos. Segundo ele, a universidade não irá recorrer à força policial para conter as paralisações.

"Não vamos usar força para resolver isso. A gente vai resolver no campo das ideias, temos que ser capazes, como intelectuais e professores, de discutir francamente, de mostrar o impacto causado por essas pessoas que estão conduzidas pela intolerância."

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