Descrição de chapéu Enem

Provão do governo Tarcísio aborda homofobia, desmatamento e fome no Brasil

Criado neste ano, exame vai selecionar estudantes de escola pública para vagas em universidades como USP; vazamento de tema da redação é investigado

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São Paulo

A primeira edição do Provão Paulista, organizado pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), trouxe questões que abordaram homofobia, racismo e desmatamento. O tema da redação foi sobre o "Combate à fome no Brasil", tendo como texto de apoio um trecho do livro "Quarto de Despejo", da escritora Carolina Maria de Jesus.

Professores de cursinho que analisaram a prova a pedido da Folha disseram que o exame trouxe positivamente uma semelhança com o Enem, exame do governo federal, com a abordagem de temas sociais importantes e atuais.

Eles, no entanto, avaliam que o exame tem uma abordagem mais conteudista e direta, enquanto o Enem tem questões mais interpretativas, interdisciplinares e que avaliam habilidades e competências específicas do aluno.

sala de aula vista por cima
Sala de ensino médio de escola estadual de Guarulhos, na Grande São Paulo - Rivaldo Gomes - 29.mar.2016/Folhapress

Segundo a Secretaria da Educação de São Paulo, cerca de 400 mil estudantes do 3º ano do ensino médio de escolas públicas de São Paulo se inscreveram para o exame —que nesta primeira edição disponibilizará 15.369 vagas em cursos superiores na USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual Paulista), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Fatecs (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo) e Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo).

Para os professores, o tema da redação do Provão Paulista seguiu o estilo do que o Enem costuma trazer de propostas. "Um tema extremamente atual, que pede uma análise crítica, inclusive, de um problema social que acontece em todos o país", disse Ademar Seledônio, diretor da plataforma SAS Educação.

Ele destacou também como ponto positivo a escolha dos textos de apoio, com destaque para o trecho escolhido do livro de Carolina Maria de Jesus. "Os textos ilustram a complexidade do problema da fome no Brasil, evidenciando que é um problema multifacetado que requer ações tanto do Estado como da sociedade civil", diz.

Para Deborah Amoni, diretora do cursinho Evidente, o Provão Paulista apresentou um formato mais tradicional, com questões parecidas com as que eram cobradas em vestibulares há alguns anos. "O Provão avalia o conteúdo de forma específica. O Enem valoriza a capacidade do estudante de relacionar informações, analisar textos e resolver questões contextualizadas, buscando medir competências mais amplas."

Conforme mostrou a Folha, o currículo do novo ensino médio paulista reduziu a carga horária das disciplinas comuns dos alunos do 3º ano. Assim, os estudantes que cursaram a última série não tiveram aulas específicas de química, física, biologia, história, geografia, filosofia e sociologia na grade comum. Eles só tiveram os conteúdos dessas disciplinas dentro das aulas de itinerário formativo, que tem abordagem interdisciplinar.

Por isso, os professores destacam que a prova teve um formato diferente do currículo que foi implementado nas escolas paulistas neste ano.

"A prova cobrou conceitos de cada uma das disciplinas que estão previstos no currículo paulista. O problema é que essa formação básica dos alunos correspondeu a apenas 60% da carga horária de aulas, então muitos alunos podem ter concluído os estudos sem ter visto tudo o que foi cobrado", diz Rui Calaresi, coordenador do cursinho da Poli.

Alessandro Menezes, professor de matemática, avalia que as questões da área tinham propostas muito diretas e conteudistas. "As questões são simples para o aluno que domina bem o conteúdo. Acredito que o aluno pode ter mais dificuldade do que com o Enem, em que as questões cobram mais o domínio das habilidades e a capacidade de interpretação do aluno. O Provão vai direto no conteúdo, que o aluno pode nem ter visto na escola."

reprodução de questão do provão paulista
Reprodução da prova de ciências da natureza do Provão Paulista aplicada na quarta (29) para estudantes do ensino médio de São Paulo; o desmatamento foi um dos temas - Reprodução/Vunesp

Em química e física, os professores também avaliam que a abordagem, exigindo de forma direta conteúdos específicos, pode prejudicar alunos que podem não ter tido aulas que abordaram todo o currículo dessas disciplinas.

"É uma prova que cobra simplesmente a aplicação do conteúdo. Ela não traz questões com um contexto que podem ajudar o aluno a solucionar o problema. O aluno que teve acesso aos conteúdos pode não ter tido dificuldade, mas, quem não teve muitas aulas de física, sofreu bastante na avaliação", diz Emerson Junior, professor do cursinho da Poli

Os professores têm avaliação semelhante sobre o formato das questões de sociologia e filosofia, como uma que cobrava do aluno identificar as características de concepção sociológica de Émile Durkheim.

Para os professores, foi positiva a presença de temas atuais e sociais em parte das questões, como a que tratava da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que tornou homofobia e transfobia em crime. Outra delas trazia uma charge para tratar do desmatamento na Amazônia.

Assim como o Enem, o Provão Paulista é composto por dois dias de prova. No primeiro, na quarta (29), foram cobradas 90 questões de múltipla escolha de linguagens e de ciências da natureza; no segundo dia, nesta quinta (30), além da redação, os estudantes responderam a 90 questões de matemática e de ciências humanas.

Nesta sexta (1º) e na segunda (4), fazem a prova os alunos de 1º e 2º ano do ensino médio, sendo que a nota desta primeira edição será considerada quando eles estiverem no 3º ano. A ideia é que o Provão Paulista seja um vestibular seriado, com notas acumuladas nas três séries.

SECRETARIA INVESTIGA VAZAMENTO

A Secretaria da Educação investiga o possível vazamento do tema da redação em três escolas estaduais, na zona leste da capital e nas cidades de Campinas e de São Carlos, no interior. Conforme mostrou a TV Globo, mensagens em redes sociais desta quarta, véspera da prova, apontavam que o exame cobraria dos estudantes um texto sobre combate a fome.

Em nota, a pasta afirma que vai instituir uma comissão para apurar o ocorrido.

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