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Direitos humanos dependem de acesso qualificado à informação

Aos 75 anos, Declaração Universal enfrenta complexidade dos ambientes digitais

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Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

De guerras travadas em campos de batalha a manifestações de ódio e intolerância na internet, são muitos os desafios que marcam os 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, celebrados no próximo domingo (dia 10).

Os conceitos de igualdade, liberdades fundamentais e justiça —pilares do documento promulgado em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU)— tornaram-se mais complexos nas últimas décadas, à medida que plataformas de redes sociais, aplicativos para troca de mensagens e outras ferramentas digitais surgiam e se popularizavam.

Mensagem de áudio de reprodução única terá indicação gráfica com o número 1 à direita do balão. Imagem mostra cadeado com vídeos e fotos de reprodução única
Mensagem de áudio de reprodução única no WhatsApp terá indicação gráfica com o número 1 à direita do balão - Divulgação/WhatsApp

Não há dúvida sobre os ganhos desse cenário: participação de mais vozes e perspectivas no debate público, ampliação dos canais para engajar e mobilizar a sociedade em prol de causas comuns e novas formas de autoexpressão são alguns dos exemplos. Mas também são inegáveis os efeitos colaterais que vivenciamos, entre os quais a proliferação de desinformação e a distorção do direito à liberdade de opinião e de expressão (previsto no artigo 19 da Declaração Universal), usando-o como desculpa para discursos agressivos e, em alguns casos, criminosos.

A missão de lutar contra as violações dos direitos humanos é coletiva e envolve diversas frentes de atuação. A educação midiática é uma delas.

Educação midiática e direitos humanos se encontram ao promover equidade no acesso à informação, a partir do entendimento da tecnologia como linguagem e da internet como território propício à participação crítica e responsável de todos. Também facilita a apropriação das tecnologias para tornar os ambientes informacionais mais plurais e abertos à diversidade de vozes, temáticas e realidades, habilitando a sociedade a reconhecer e enfrentar preconceitos e estereótipos nas mensagens a que estamos expostos diariamente.

Favorece uma cultura de paz e boa convivência ao nos preparar para os obstáculos do ambiente informacional, tornando-nos menos vulneráveis a fakes news e desinformação, e mais vigilantes quanto a retóricas violentas e excludentes.

Além disso, a educação midiática propicia outras reflexões sobre o cenário midiático, problematizando não apenas os vieses e interesses presentes em mensagens específicas, mas também os efeitos invisíveis das novas tecnologias digitais que, visando ofertar conteúdo cada vez mais personalizado e aumentar o engajamento, acabam nos oferecendo recortes da realidade. Essa dinâmica, proporcionada pela ação dos algoritmos, cria "bolhas" em que acabamos por conviver essencialmente com visões de mundo muito parecidas com as nossas, tendo pouca ou nenhuma exposição a temas e pontos de vista diferentes —um cenário propício à intolerância, à polarização e ao extremismo.

A ONU nos convida a conhecer, reivindicar e defender os direitos humanos. "Onde vivem os direitos humanos? Vivem em cada um de nós", destaca a organização em vídeo sobre o aniversário de 75 anos da Declaração. "Encontre os direitos que ressoam em você. Defenda-os."

Que a educação midiática possa nos ajudar a atender esse clamor, em busca de mais equidade e justiça social.

(Para comemorar a data, o EducaMídia lança um guia com "5 Contribuições da Educação Midiática aos Direitos Humanos", propondo reflexões e atividades educativas. O material é gratuito.)

Guia de educação midiática para direitos humanos
Guia de educação midiática para direitos humanos - Reprodução
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