Descrição de chapéu Congresso Nacional Enem

Agro e evangélicos montam ofensiva contra plano de educação do governo Lula

Bancadas pedem adiamento de conferência por suposto cunho político e ideológico dos debates

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Brasília

As bancadas ruralista e evangélica do Congresso Nacional se mobilizaram contra o PNE (Plano Nacional de Educação) do governo Lula (PT).

Em nota conjunta publicada nesta quarta-feira (24), os dois grupos, além de outras frentes do Congresso ligadas a movimentos conservadores, pediram o adiamento da Conae (Conferência Nacional de Educação) deste ano e teceram críticas às políticas educacionais da gestão petista.

A ação dos parlamentares acirra ainda mais os ânimos da relação entre o governo petista e a ala mais conservadora do Congresso, e coloca novamente a educação como palco dessa disputa política.

Camilo Santana (esq.), ministro da Educação, ao lado do presidente Lula, durante evento no Palácio do Planalto
Camilo Santana (esq.), ministro da Educação, ao lado do presidente Lula, durante evento no Palácio do Planalto - Evaristo Sa - 31.jul.2023/AFP

Em novembro de 2023, a bancada ruralista já havia criticado o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e pedido anulação de questões relacionadas ao agronegócio —as perguntas, segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, tinham sido elaboradas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mais recentemente, após Lula revogar uma norma que concedia benefício tributário a pastores, a bancada evangélica fez críticas à gestão petista e pediu a retomada da vantagem.

A Conae de 2024 foi convocada de forma extraordinária pelo governo Lula para debater o Plano Nacional de Educação e está marcada para começar em 28 de janeiro. A programação vai até o dia 30.

As frentes parlamentares criticam trechos do documento de referência da conferência e que deve balizar as discussões do grupo. Elas afirmam que há pontos com viés político e ideológico no documento.

A Conae propõe, por exemplo, a desmilitarização das escolas, critica a prática de "homeschooling" (ensino em casa), o movimento Escola Sem Partido e políticas chamadas de ultraconservadoras. Também defende temas como diversidade de gênero e religião, debates sobre questões LGBTQIA+ e ambientais.

"O texto-base expõe diversas questões político-ideológicas, sem embasamento científico, ao qual recomendamos a suspensão para que todos os setores econômicos e sociais possam participar ativamente das discussões", reclamam evangélicos e ruralistas, em nota.

Aliados de Lula reagiram. O deputado Pedro Uczai (PT-SC) afirmou que o documento é fruto de um processo democrático de construção, e que tentar obstruir a conferência é um movimento contra o pluralismo e o debate de opiniões diversas.

"A bancada evangélica e a bancada ruralista têm legitimidade para se contrapor a determinados temas, mas não podem inviabilizar o processo democrático. Eles não são muito afeitos à democracia e à participação social", disse.

"Esses setores têm que conviver com a democracia, com a diversidade e com a pluralidade. Essa é a essência da democracia e de uma república num país. Somente aqueles que querem efetivamente colocar só o seu posicionamento como vitorioso na sociedade, autoritariamente, que são capazes de criticar ou colocar em questão ou sugerir transferência, suspensão da Conferência Nacional de Educação", completou.

A nota das frentes parlamentares é mais um capítulo da tensão entre Executivo e Legislativo.

A bancada evangélica se mobilizou contra Lula após a revogação dos benefícios tributários para pastores.

No início de 2024, cumprindo um acordo firmado no início de 2023, a Frente Parlamentar Evangélica voltará a ser comandado pela ala mais conservadora e bolsonarista –avessa à gestão petista.

Após ser comandada por Silas Câmara (Republicanos-AM), deputado que mantém diálogo com integrantes do governo Lula, o grupo passará a ser liderado por Eli Borges (PL-TO), do partido de Bolsonaro.

Já a bancada ruralista se consolidou durante o governo Bolsonaro como uma das frentes mais poderosas da Câmara dos Deputados.

Em 2023, liderou não só os movimentos contra o STF (Supremo Tribunal Federal), mas também aplicou derrotas importantes no governo Lula.

A Conae é uma das mais importantes etapas de discussão e subsídio do Plano Nacional de Educação, que é elaborado pelo Executivo.

A mobilização das bancadas evangélica e ruralista, que detém a maioria dos parlamentares do Congresso, é relevante porque o plano do governo federal precisa ser apresentado em forma de projeto de lei e, portanto, ser aprovado pela Câmara e pelo Senado, onde pode também ser modificado.

Também assinam o documento contra a Conae outras frentes parlamentares, como a de Comércio e Serviço, da Segurança Pública (ligada à bancada da bala) e a do Brasil Texas.

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